3 de dezembro de 2020

Pra Cima de Puta.

 

   O título do livro de Cristina Ferreira é chamativo, e é-o mais ainda a problemática que a autora nele aborda. Devo dizer que nada me move a favor ou contra Cristina Ferreira. Não a conheço, não tenho por hábito seguir programas generalistas. Tão-pouco me suscita interesse o que faz na sua vida privada ou pública. Sei quem é, como todos, uma vez que se trata de uma figura mediática.

   Em contrapartida, o livro que lançou, sim, despertou-me o interesse, não o suficiente para o pedir desde Portugal, mas quanto baste para reflectir sobre estes meios virtuais que, efectivamente, estando numa área nebulosa de regulação, permitem que todos emitam as suas opiniões sem qualquer consideração pelo outro. Da mesma forma que temos de humanizar estes meios de comunicação, encarando a cada utilizador como uma pessoa, temos de pôr cobro ao clima de impunidade que atravessa as redes sociais.

  Cristina Ferreira disse, e com razão, que tudo o que vá além da crítica profissional não é lícito. Todos nós que por aqui andamos, e nem necessitamos de ser figuras públicas, já nos vimos confrontados com opiniões a nosso respeito que beiram a ofensa de cunho pessoal. Bom, não o poderei afirmar nos vossos casos; a mim, garantidamente que passou, e são anos de redes sociais. O que faço é bloquear a pessoa em questão. Agora, imagine-se o que será ler diariamente milhares de ofensas à nossa honra numa rede social, vindas de quem não nos conhece além da imagem que projectamos, construída, num canal de televisão?

   Há gente a morrer disto, das perseguições pelas redes. Nem todos terão a estrutura mental de Cristina Ferreira e menos ainda a possibilidade de activar meios legais acompanhados de bons defensores. 

   Não podemos afirmar que estamos perante um fenómeno recente. O que se passa é que há uma relativa desconsideração da ofensa virtual, como se o facto de não o ser cara a cara diminuísse o seu ânimo de diminuir, rebaixar, humilhar. Pelo contrário. A ofensa por detrás de um computador ou de um telefone inteligente é mais cobarde. Pode-se perpetuar ad infinitum. Pode ser copiada e divulgada impunemente.

  Foge ao âmbito desta crónica as motivações sexistas. Percebemos que a reacção ao sucesso de uma mulher não é igual tratando-se de um homem. É outra discussão e é um problema que já não compete somente ao legislador, que não muda estigmas como num passe de mágica. O mesmo se diga de características típicas de um determinado povo, como o português, que tem na inveja o seu mal nacional. São palavras minhas.

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