8 de janeiro de 2020

Habemus Governum.


   Espanha já tem a sua geringonça, com Pedro Sánchez a conseguir ser reconduzido ao governo com o apoio do Podemos e do ERC. Um governo com um futuro difícil pela frente, de grande instabilidade política, como se prevê. 

   Tenho amigos espanhóis que temem o pior. Dizia-me um, há pouco, «España vai á merda e non son dos que se alegran». É galego, e é particularmente sobre a Galiza que venho falar, porque os debates que culminaram nesta investidura tiveram uns fait-divers. O deputado Néstor Rego, do Bloco Nacionalista Galego, interveio na sua língua, o galaico-português, agradecendo no final do discurso com um obrigado, e Sánchez correspondeu também com um sonoro obrigado, levando a que centenas se indignassem nas redes sociais, rejeitando que o termo obrigado fosse correcto em galego. Acontece que o é, muito embora a Real Academia Galega não o inclua no seu prontuário. Olhando dicionários galegos antigos, ele consta lá. Enfim, mais um capítulo da infindável novela que é a castelhanização da língua galega, que é a nossa falada a norte do Rio Minho.

  Do acordo do PSOE com o BNG para a viabilização de um governo socialista resultou uma promessa: a concretização da Lei Paz-Andrade, de 2014, que prevê esforços concretos no sentido de que as emissões de rádio e televisão portuguesas possam chegar aos lares galegos em sinal aberto, naquela que é uma reivindicação antiga de grupos nacionalistas e reintegracionistas galegos. É um compromisso importante que ajudaria a reverter, tanto quanto possível, a assimilação do galego ao castelhano. Podendo ter acesso à sua língua sem interferências fonéticas e lexicais do castelhano, os galegos lidariam com a variante portuguesa, com expressões que também existem na Galiza, que sobrevivem nos seus falares e que são tão legítimas quanto quaisquer outras, além de, claro está, ajudar ao acercamento entre portugueses e galegos e, com isso, à aproximação entre Portugal e a Galiza, que têm vivido de costas voltadas por inúmeras razões que não convém aqui explorar. Estou curioso para saber qual será a reacção de Madrid, que nunca viu com bons olhos as relações entre Portugal e a Galiza. Espanha assemelha-se-me a um malabarista: procurar equilibrar aqui e ali, segurar lá e acolá. É uma realidade social e política com especificidades culturais e históricas que a tornam distinta da nossa.

    No governo ou no desgoverno, espero que se concretize o que foi agora acordado. De algo, todavia, estou seguro: os galegos preocupados com o futuro da sua língua e da sua nação não deixarão que esta bandeira morra. Podem estar certos.

4 comentários:

  1. Viva o regionalismo e a língua local! Parabéns pelo texto.

    Bom fim de semana!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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    1. Viva as línguas autóctones e a soberania dos territórios históricos. :)

      Bom fim-de-semana!

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  2. Em Portugal tem resultado, agora somos todos ricos ahahahahah 1/3 dos velhotes que vivem sozinhos não tem dinheiro para pagar o aquecimento lololol mas isso agora não interessa nada

    Abraço amigo

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    1. Lol

      Um abraço.

      O aquecimento das casas é um problema em Portugal.

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