6 de maio de 2019

Politiquices.


   Uma vez mais, assistimos a um fim-de-semana verdadeiramente ridículo da vida político-partidária nacional. E não sei se o digo mais pela eventual aliança do PSD e do CDS com o PCP e com o BE, que afinal não terá lugar, ou pela manobra estratégica do PS, na pessoa de António Costa. O que resulta disto tudo é mais uma descredibilização dos partidos e dos seus dirigentes junto do eleitorado, em ano fecundo em eleições. Um madeirense, por exemplo, terá três, entre as europeias, as legislativas e as regionais.

   António Costa conseguiu dar xeque-mate a Rio e a Cristas, que saem totalmente desmoralizados. Quer o Governo caísse, quer não, e não cairá, ao que parece, a direita - que até me custa chamar direita àquilo - perderá votos. Em ano de eleições, as pessoas não perdoariam uma crise política inesperada, com antecipação de legislativas para o Verão, quando estamos na recta final do término da legislatura. Poderia comprometer uma solução governativa que vem de 2015, e que agora, por birrice, deitaria a perder o esforço na recuperação da economia e do bem-estar das famílias. Não havendo demissão do Governo, tão-pouco perdoarão a manobra cínica do PSD e do CDS, e acredito que já se ressentirão nas europeias deste mês.

   No fundo, o PSD e o CDS defendem e reconhecem que não estão criadas as condições para repor aos professores o que lhes foi tirado nestes nove anos. E atiram a bola, passo a expressão, para o Governo. É um recuo, um recuo travestido de compenetração e seriedade, e o povo, que é o grande julgador destas coisas, retirará as suas ilações. Eu já tirei as minhas, e o voto nulo assemelha-se-me uma opção mui razoável em todos os actos eleitorais, ao menos nos seguintes. Esta política baixa, oportunista, rasteira, irrita-me. O PS, e eu recordo que apoiei esta solução governativa quando surgiu, porque o neoliberalismo de 2011 a 2015 deixou-me farto, até soube governar para as pessoas, mas o escândalo familygate, outra vergonha, deixou-o desnorteado. Costa quer salvar as europeias, que sabia em perigo pelo familygate, navegando a todo o vapor rumo à maioria absoluta de Outubro, a ver se se livra daqueles dois pesos pouco mortos que são o PCP e o BE.

   Estas manobras de uns e de outros deixam-me perplexo. De Cristas, devo dizer, não esperava muito mais, que, embora não pareça, ainda anda a apalpar terreno na política; Rio, depois de ter andado pela Câmara do Porto, de ter enfrentado a fúria de portuenses e de portistas (era persona non grata para o Futebol Clube do Porto), ainda se permite a ser completamente nocauteado, pegando numa expressão brasileira, por Costa. Costa que, aqui, manteve a coerência, diga-se: efectivamente, todos os portugueses sofreram cortes, e repor tudo o que os professores reivindicam, e que até lhes é devido, seria economicamente intolerável. Trata-se de uma ideia pura e crua de equidade. Aliás, é duvidoso que o PSD e o CDS se importassem tanto com os direitos dos professores se estivessem no poder. Há, ainda, como se verifica, uma dose enormíssima de hipocrisia que, juntada ao oportunismo, só torna tudo ainda mais lastimável. São muitos actos eleitorais, desde logo as europeias, que já sabemos que, com as autárquicas, servem sempre de cartão amarelo, ou não, ao governo, e depois as legislativas. Sente-se esse nervoso entre eles, expectável: há cabeças em jogo. A de Rio será a primeira a rolar. O ataque à liderança do PSD dar-se-á no início do próximo ano, não duvido, se o PS ganhar as eleições, o que, à distância de cinco meses, a menos que haja uma hecatombe, não me parece contornável - com esta direita, ainda menos.

    E a procissão nem saiu do adro.

5 comentários:

  1. Com o povo que temos, achas que os políticos precisam de ter curso superior?!

    Abraço amigo

    ResponderEliminar
  2. Este assunto tem o condão de me indispor pela hipocrisia das forças em jogo, sobretudo das do centro direita, pois foram estes senhores os principais culpados da situação.
    E agora querem limpar a água dos seus "capotes", talvez mesmo branqueá-los com a "lixívia" dos "volte-face".
    A política destes senhores foi crudelíssima, draconiana, agreste, e indispuseram toda a sociedade contra os "mauzões" dos funcionários públicos, as vítimas de eleição da altura.
    Era necessário um bode expiatório, e nada melhor que os preguiçosos e malvados dos funcionários públicos.
    Não quero dizer com isto que todos os funcionários públicos sejam exemplares, ou que usem uma auréola na cabeça, mas, como em todas as profissões, há gente eficiente e competente e outra que o não é.
    As pessoas não são todas iguais, claro, pelo que possuem níveis de capacidade e eficiência diferentes.
    Agora, reduzir toda uma classe a ladrões de estrada, "ovelhas negras" de uma classe trabalhadora é pura má formação de quem o faz, uma discriminação hipócrita, e vontade de atirar areia para os olhos dos incautos que preferem não ver, e, porque é mais fácil, acabam por acreditar no que estes mentecaptos da política lhes referem, para o que utilizam os media, soprando-lhes ao ouvido o que querem que se saiba.
    Claro que os media, que também não são anjos, gostam do papel que lhes cabe, e atiram-se como "gato a bofe" a quem lhes calha na garra.
    Em todo este jogo há um entendimento hipócrita entre os media e a classe política, e o país "embandeira em arco": finalmente sabem quem é o culpado!!!!
    Os malvados dos funcionários públicos devem ser abatidos, pois roubam, extirpam da sociedade os bens essenciais e gastam-no neles próprios, os malandros!!!!!
    Fui obrigado a partir o comentário em dois:(

    ResponderEliminar
  3. Claro que, enquanto isto, o Sócrates e pandilha, que são mais que muitos, os Berardos, os Ricardos Salgados dos bancos e os políticos que lhe estão associados e lhes dão cobertura, banqueteiam-se impunemente, e, se, parvos, forem apanhados na rede, arrastar-se-ão na justiça durante dezenas de anos (parece que no caso do escroque do Sócrates, só em 2020 ou 2021, poderá saber-se se vai ser julgado ou não ... sem comentários) e, quando finalmente as coisas se esquecerem, que se esquecerão, ficarão impunes, talvez com alguma, pequena, beliscadura da honra, nada que uns tempitos de "travessia do deserto" não faça esquecer, e, daqui a algum tempo virão ao ataque de novo, porque entretanto tudo ficou em "águas de bacalhau". Se resultou das outras vezes, porque não mais uma vez???
    Centenas de milhões de euros existem para dar, pois DAR se trata, ao Berardo e companhia (que não é só este tratante, há mais), mas para regularizar uma situação de uma população que trabalha e que aguenta todo estes tipo de figurões e "espertalhocos", para estes diz-se-lhes ... paciência, têm de aguentar, e nem sequer daqui a 10 anos poderão readquirir o que lhes é devido - não considero que só os professores foram espoliados, foi sim todo um conjunto de gente válida e trabalhadora que aguentou o período negro, como aquele que foi gerido pelos governos de centro direita, socialistas (que de socialismo só têm o nome), sociais democratas e democratas cristãos e ... outros quejandos!!!!
    Enquanto isso o nosso "know how", que é representado pela nova geração, a quem é dada formação, à custa de grandes esforços financeiros dos pais e do país, é incentivada a emigrar para o estrangeiro (nunca me esqueço do espertalhoco do Passos Coelho que o referiu de forma bem clara!!!), enriquecendo a força trabalhadora desses países, e aumentando-lhes o rendimento "per capita" ... é isto justo???? Será que os nossos jovens não têm lugar nesta sociedade, onde possam viver de forma condigna e criar as suas famílias????
    Andam todos a contratos a prazo, a recibos verdes ou a ganhar ordenados mínimos, ou próximo disso???? E para quê? Para que barões da finança arrecadem todos os bens que são gerados por uma sociedade trabalhadora???? Isto não é para incomodar qualquer um? Parece que não.

    Esta geringonça também não é perfeita, mas, no entanto, considero-a melhor, pois sou de opinião que os governos deveriam ser todos de coligação, pois terão mais hipóteses de não serem tão nocivos nas medidas que tomam, porquanto os mecanismos de controle de poder acabam por estarem mais dispersos e poderão ter maior probabilidade de funcionar a nosso favor - pode ser um idealismo, mas é no que acredito.

    Na Alemanha, há anos atrás (não é o caso presente), o país foi governado por coligações, e há a noção entre os próprios alemães que o controlo de poder era mais favorável à população, por ser a governação mais representativa.
    Coligações têm maior hipótese de representar uma maior fasquia da população, e têm a vantagem de obrigarem os governos a conviver com outras forças políticas e a responderem pelas suas ações, vendo os seus poderes serem limitados por essas mesmas coligações.
    Claro que isto não suspende nem cerceia os nepotismos, como temos vindo a presenciar na atuação destas malditas classes políticas, mas nada é perfeito.
    Eu votarei, mas não nestes figurões do dito centro direita, que dão a classe política mais corrupta, por terem maior hipóteses de maiorias e porque representam, tradicionalmente, maiores fatias do eleitorado, e, por conseguinte, é-lhes dado poder para poderem atuar impunemente!!!!
    Quero que o poder se disperse, é a única forma de o controlar.
    Um bom final de semana
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O que se passou com o Berardo foi circense. Ele riu-se de nós, do sistema, de tudo. O sentimento de impunidade é tão grande que dá para isto. Espero que tiremos todos uma lição.

      Estes senhores, leia-se, políticos, puxam a corda e puxam, até que às vezes se dão golpes de estado e revoluções. Não há povo que aguente e admita ser explorado ad aeternum.

      Sim, também prefiro coligações. Geralmente permitem o diálogo. As maiorias absolutas são péssimas. Mas olhe que acho que a maioria do eleitorado até é de centro-esquerda. Não sei. Posso estar enganado. A direita portuguesa sempre foi fraquinha. A extrema-direita é quase residual, mas cada vez temos mais populismos. Eu próprio sou populista muitas vezes.

      Cumprimentos, Manel.

      Eliminar