3 de março de 2019

If Beale Street Could Talk.


   O semestre recomeçou. Terei menos tempo para ir ao cinema. Na quarta-feira da semana passada, adoeci. O do costume. Uma combinação de fruta da época com a minha bronquite asmática. Faltei três dias às aulas, suspendi idas ao cinema, ao teatro, enfim. Não poderei recuperar, que agora é para doer de novo. Em todo o caso, e aproveitando que ainda não tinha aulas práticas (apenas teóricas), esta quarta, exactamente oito dias depois, fui ao cinema ver o If Beale Street Could Talk.

  Estava curioso com este filme, sobretudo pela intensa propaganda que lhe fizeram, ao som do clássico dos anos 90 Killing Me Softly With His Song, dos Fugees, na voz deliciosamente melodiosa de Lauryn Hill.



  O filme trata de questões raciais, na América que, na década de 70, ainda se libertava de velhos e amargos preconceitos. Uma mulher é violada e certo polícia, suspeito, ajuda-a a acusar um afroamericano que passava por ali e que, a julgar por tudo o que vemos, é realmente inocente do que o acusam. Entretanto, ele engravida a namorada, uma rapariga que conhece desde que ambos eram miúdos. Gostei muito do desempenho de Kiki Layne e de Regina King, que inclusivamente, a última, ganhou o Oscar de Melhor Actriz Secundária. Layne faz uma jovem inocente, ingénua, apaixonada, que nos suscita comiseração e ternura ao mesmo tempo. Uma jovem que acredita piamente naquela relação, naquele amor que tem ali, tão frágil, com tão pouco, mas decidida a construir algo bonito, para si, para o ser que carrega e para o homem que escolheu para partilhar uma vida feita de tão pouco, e Layne consegue ser feliz com pouco, até num armazém improvisado de casa. A luta da sua vida será tirar o pai do filho da cela onde o encontra sempre o que visita. E com um vidro a separá-los.

   Os planos foram bem conseguidos, associados a uma fotografia de excelência, vibrante, feita de cores, e a diálogos bem conseguidos. Parece tudo tão caseiro, tão intimista, no meio de uma encruzilhada tão dramática. É um argumento forte, racial, quase pegajoso, que nos deixa embrenhados nas passeatas de Tish e Fonny sob a chuva de um princípio de noite numa rua que, se falasse, não deixaria aquele casal tão permanentemente preocupado ora com os pais de um, ora com o preconceito.

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