14 de fevereiro de 2019

Lebanon.


   Lebanon levou-me, pela sinopse, à Cinemateca. Meio indie, pretendeu, e conseguiu, ser um retrato cru dos horrores da guerra, no caso da Guerra do Líbano de 1982. O caricato neste filme é que a acção tem lugar, toda ela, no interior de um carro-tanque. Através da mira da arma, e peço desculpa por não entender nada da terminologia militar, vamos acompanhando o mundo cá fora. Há duas realidades, no fim: a do tanque, onde quatro homens e um prisioneiro de guerra, a partir de determinado momento, vivem literalmente, e a lá de fora, cheia de corpos e edifícios destruídos.

   Tudo é iminentemente sujo naquela guerra. A urina dos militares é quase que o simbolismo da podridão que grassa quando um homem empunha uma arma contra outro.

   É profundamente claustrofóbico, com poucos diálogos, bruscamente interrompidos pelo barulho da maquinaria, no tanque, que é como que a segunda pele daqueles homens. Há a destacar a cena inicial e a final, o prólogo e o epílogo, nos quais o realizador nos dá planos sobre um campo de girassóis, quiçá pretendendo restaurar a tranquilidade antes da guerra e aquela que se seguirá, direi eu, à reconstrução, demorada, após um grande conflito. Talvez também seja uma reprodução do imaginário daqueles homens, que querem voltar para casa, para junto dos seus.


    Dos poucos diálogos, os que há são dirigidos à família - o militar que quer que um superior informe os seus pais, velhinhos, de que está bem - ou a memórias de adolescência. É o escape possível no meio de uma incerteza. O minuto seguinte poderá trazer a morte.

    Os grandes planos do filme prendem-se em três momentos que acho oportuno relatar: o da mulher nua, despida na sua vulnerabilidade, sendo um testemunho do horror da guerra nos civis, e o do olhar de impotência / incapacidade de reacção no jovem militar, que vê tudo aquilo sem poder agir, com o pavor estampado nos olhos. Não conseguiu afastar-se emocionalmente, como seria pretendido num homem que vai para uma frente de batalha. Há um terceiro, quando o realizador leva a que o militar foque a mira nuns panfletos de uma agência de viagens destruída. Neles, podemos ver a Torre Eiffel, o Big Ben e as duas torres principais do World Trade Center, que existiam em 1982. O filme é de 2009 reportando-se a 1982. Quase um prenúncio da tragédia que viria. O realizador foi, ele mesmo, um combatente na guerra de 1982. Chama-se Samuel Maoz. A segunda guerra do Líbano, em 2006, ter-lhe-á servido de inspiração final.
 
   Neste Lebanon, estamos perto e simultaneamente longe da acção. Assim se movimentam as personagens. Estão perigosamente no centro onde tudo se passa, todavia, a uma distância aparentemente segura de um interminável conflito entre árabes e judeus.

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