16 de fevereiro de 2019

Le dix-septième parallèle.


   O paralelo 17, em português, foi o documentário que me levou, na quinta-feira à noite, de novo à Cinemateca. O paralelo 17 era uma linha imaginária que dividia o Vietname do Norte, socialista, apoiado pela URSS, do Vietname do Sul, suportado pelos EUA e pró-ocidental. Este documentário, gravado em 1968, a preto e branco, acompanha o dia a dia daquelas populações vivendo no palco de guerra.

   É muito interessante, sobretudo se quisermos ter uma melhor percepção do que foi aquele conflito e do impacto que teve nos vietnamitas, obrigados a construir abrigos subterrâneos, a interromper todas as actividades sempre que um avião americano passava. Aquelas pessoas estavam permanentemente em estado de alerta. As partes mais sensíveis são as que nos mostram crianças a ser doutrinadas (Ho Chi Min está sempre presente) ou a brincar com armas, já completamente ensinadas a resistir e a enfrentar o terrível inimigo norte-americano. E vemos crianças pequenas, uma com oito anos, destemida, a dizer que não teme a morte e nem qualquer americano. Que, sendo capturada, jamais revelaria onde estavam os adultos. Que a única coisa que temia eram os tigres. Na escola, não aprendiam a ler e a escrever, mas palavras em inglês para quando se deparassem com um soldado norte-americano capturado.



  Um tenebroso cenário de guerra. A história, essa, conhecemo-la bem. Os americanos retiraram-se, desgastados, e retiraram o apoio ao Vietname do Sul. O norte ocuparia o sul e reunificaria o país sob a égide de um regime socialista. A Guerra do Vietname, como assim ficou conhecida, deixou profundas marcas nos norte-americanos, que tiveram uma saída pela porta dos fundos, humilhante, e em todo o mundo ocidental, levando a que muitos jovens, nos loucos anos 60, juntassem a causa vietnamita à da democracia, nomeadamente nos países que ainda sediavam ditaduras, como Portugal e Espanha.

  Joris Ivens, sendo comunista, pretendeu ter uma visão algo equidistante, porque, efectivamente, não vemos nenhuma exaltação do comunismo. Ainda assim, e embora se tenha limitado a narrar a vida daquelas gentes, não deixava de acreditar na vitória do comunismo sob o imperialismo. Ivens sempre foi um militante antifascista.

  Aquando da realização do documentário, estávamos longe de saber qual iria ser o desfecho. O saldo da guerra foi bastante pesado, para os vietnamitas e para os americanos. Cometeram-se atrocidades, como massacres de populações civis e uso de armas químicas - o napalm -, que levaremos tempo a esquecer.

2 comentários:

  1. Tenho um certo preconceito quanto a documentários, quase sempre feitos com um viés ideológico de esquerda que ma cansa e me irrita. rs

    Beijão

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