7 de setembro de 2018

Papillon (2018).


    Não ter visto o clássico de 1973 ajudar-me-á a uma análise imparcial, assim creio. Papillon conta-nos a estória verídica de Henri Charrière, que nos anos 30 foi condenado a prisão perpétua na então colónia penal da Guiana Francesa, deportado directamente da Franca metropolitana. É uma longa dura, duríssima, que nos mostra o horror dos tratos desumanos e degradantes naquele campo de concentração, porque o era. Havia, inclusive, trabalhos forçados. Com a ajuda de outros prisioneiros, um dos quais que o acompanharia até ao fim, Papillon protagoniza fugas inusitadas, sendo capturado e acabando por parar na solitária por duas vezes, a primeira por 2 anos e a segunda por 5, com períodos em total escuridão. Sobreviveu a tudo, rigorosamente a tudo, uma vez que consegue, após anos, evadir-se da terrível ilha do Diabo, último reduto da colónia penal, para onde iam parar os prisioneiros com pior comportamento.

    Dizem, os entendidos, que este filme fica aquém do original, de 1973. Pela minha experiência com remakes, a maioria deixa-nos a suspirar pelas versões anteriores. Acredito que este não seja excepção e que deixe os fãs decepcionados. Eu gostei das interpretações dos actores principais, Charlie Hunnam e Rami Malek, muito embora as considere um pouco frouxas para o que se pedia. Faltou-lhes envergadura. Não que tenham estado mal, mas, e sobretudo em Hunnam, o Papillon, faltou-lhe conseguir transmitir a destruição que anos e anos de cárcer, e naquelas condições, produziriam num homem.

   A fotografia é um dos pontos altos, o que se compreende, de facto, tratando-se de regiões do globo com relativamente pouca intervenção humana.

   A determinado momento, a relação que se estabelece entre Papillon e Louis aparenta ter subjacente algum homoerotismo. Eu, pelo menos, assim o terei entendido. A protecção que um dava ao outro, os olhares de cumplicidade. Amizade, talvez, mas porque não algo mais que nunca se chegou a consumar? Não seria de se estranhar, estando aqueles homens profundamente desprotegidos, sem afecto. Vejam o filme e tirem as vossas conclusões.

   O final, tendi a considerar fraco. Sabemos que Louis fica na ilha, nada nos sendo dito quanto ao seu fim. É o que chamo de final cozinhado em microondas. O filme merecia algo mais arrebatador.

8 comentários:

  1. Não vi, mas ser melhor ou pelo menos igual ao original de 1973 acho impossível ... rs

    Um clássico da Sétima Arte ...

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  2. Nss acabei de ver uma postagem de 2010! Sobre como conquistar amigo hetero hdhdh É impressionante o tempo de vida deste blog

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    1. Hahahah, e gostou?

      Pois é, 10 anos e alguns meses. :)

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  3. Eu só vi o original, com o Steve McQueen e Dustin Hoffman, pouco tempo depois de ter lido o livro de Charrière e confesso que a versão passada para o cinema por Dalton Trumbo, considerado um génio nos argumentos que escreveu - vale a pena ver o filme "TRUMBO", de 2015, onde é contada a sua história - (este homem ganhou vários vezes o Oscar em argumentos de filmes considerados épicos hoje), desiludiu-me um bocado.
    Aquilo que se estabelece na nossa cabeça, aquando da leitura dos livros, ou fica aquém, ou é assaz diferente da forma como outros lêem esse mesmo livro.
    É a relativização e subjetividade de algo que é único e indissociável, mas que, quando passa pelo crivo de outras pessoas, dá origem a versões diferentes, fruto de leituras variadas, vivências e criatividade do autor.
    É uma contradição, mas verdades, ainda que únicas, nunca o são na realidade humana.
    Não sei se irei ver esta versão, mas não creio, é um assunto arrumado na minha cabeça.

    Mais tarde li o segundo livro de Charrière, "Banco", e não gostei de todo.
    Apesar do estilo continuar a ser autobiográfico, não possui o mesmo encanto nem é tão apelativo como o primeiro.

    Desejo-lhe sucesso em todas as suas novas iniciativas, e estou certo que o terá, pois a sua imagem de marca parece ser a qualidade. A adicionar ao trabalho também lhe desejo sorte, fortes componentes do sucesso.

    Uma boa semana
    Manel

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    1. Olá, Manel.

      Sim, a leitura permite-nos uma interpretação muito própria. O cinema, por sua vez, densifica. Apresentam-nos a visão de outrem.

      Tenho de ler o livro e de ver o primeiro filme, esse grande clássico, sobejamente elogiado.

      Muito obrigado pelos seus votos. Sei que são sinceros, aliás, em meio de tantas decepções com a blogo, sinto sinceridade sobretudo nas suas palavras.

      Uma excelente semana.

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