23 de setembro de 2018

L'Amour Debout et Les Nuits Fauves (1992).


   Dois filmes a encerrar a vigésima segunda edição do festival de cinema LGBT Queer e o meu primeiro Queer. Não, não foi uma estreia. Já havia ido ao Queer, porém sem esta assiduidade. Foram nove sessões, sendo que três delas na Cinemateca (as restantes, como sabem, no Cinema São Jorge). Fiquei fã? Sim, sem dúvida, ao contrário do Motel X, que não me cativou. Bom, mas as considerações finais ficarão para ulterior publicação. Quero deter-me apenas nestes dois filmes, por ora.

   O L'Amour Debout foi uma enorme decepção. É pena que não sejam um pouco mais densos nas sinopses. O filme é terrivelmente enfadonho, aborrecido, com um guião péssimo e interpretações que também não o salvam. Chegamos ao fim sem saber qual o mote do filme. Um rapaz e uma rapariga, ex-namorados, que redescobrem o amor: ele, com um homem (parece que já tinha aventuras pontuais com homens); ela, com um homem mais velho. E então? Nem sequer há nada na narrativa que justifique o filme. É somente chato e desinspirado. As personagens são igualmente mornas e apáticas. Acho que até já me excedi para o que vi.

   Le Nuits Fauves é bom filme. Não pelas interpretações, que, exceptuando a de Romane Bohringer, vão de medianas a más, mas pela narrativa. Um rapaz, Jean, interpretado por Cyril Collard, que descobre ser seropositivo. Apaixona-se por uma modelo fotográfico de 17 anos, com a qual enceta uma relação amorosa possessiva e tremendamente desequilibrada. Jean tem uma amizade colorida com Samy (Carlos López) e costuma escapulir-se para locais de cruising gay, onde se entrega às mais loucas fantasias. É uma estória biográfica. Cyril Collard, realizador e actor principal, faleceu em 1993, com 35 anos, vítima de SIDA. No filme, a sua personagem acaba em Lisboa, curioso, completamente em paz com a doença, aceitando-a, entendo-a como parte do seu corpo a partir de então. Havia, em Jean, essa desconformidade, o que o levou a esconder a sua situação clínica de Laura; não por prazer em contaminar uma miúda inocente, mas por se recusar a aceitar a sua nova condição. No final, sabemos que Laura não está contaminada.

Cyril Collard e Romane Bohringer, numa das cenas

   Aquando da sua estreia nos cinemas franceses, o filme que viria a arrecadar quatro prémios Césares suscitou logo imensa polémica. Cyril Collard já não pôde viver o suficiente para receber os seus prémios, mas deixou-nos uma obra sobre a fúria orgânica por viver. Há uma raiva - a tal "fauve" - ao vírus, às condições em que o terá contraído. 
   Encontra-se, todavia, uma justificação para o que vai sucedendo no filme fora daquilo que a narrativa e os actores nos transmitem. A SIDA é quase como um fantasma que tudo manieta. O que acontece no filme, acontece porque o protagonista é seropositivo, e nunca porque ele seja mais um entre os demais. A magia da estória está fora dela, surpreendentemente, numa ideia estruturada do vírus. Este é o grande óbice, junto à debilidade das interpretações, para que Les Nuits Fauves seja um clássico. Cyril Collard não era um realizador fora de série.

  Uma palavra para as cenas finais do filme, gravadas em Lisboa e na Arrábida, no Santuário de Nossa Senhora do Cabo. Também a empregada de Jean era, aparentemente, portuguesa.

4 comentários:

  1. Você é muito fino inclusive quando tece críticas ... gosto disto ...

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  2. Para o ano há mais e com uma melhor organização de filmes a ver ;D

    Abraço amigo e obrigado pela companhia :)

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    1. Eu acho que a organização esteve bem. Os filmes é que nem sempre nos podem agradar. :)

      um abraço, amigo.

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