18 de setembro de 2018

Kids (1995).


   Um filme-documentário no meu quarto dia de Queer, e o primeiro na Cinemateca Portuguesa. Sim, foi a minha primeira vez na Cinemateca. Adorei o interior do edifício, os corredores, a decoração (alusiva à sétima arte, claro). Fui à sessão das 15h:30m. 

   Um excelente horário para um filme americano sobre adolescentes, na América que não consegue ultrapassar o seu complexo de potência mundial com um submundo terceiro-mundista / fanaticamente conservador. É um filme bom sobre vícios maus, sobre adolescentes de quinze anos que vivem na erraticidade, em meio de drogas, sexo e rap, que o rock & roll ouviam-no os seus pais.
   Estávamos em 1995, no auge da epidemia de HIV / SIDA. Com quinze anos, julgamo-nos imortais, mas o vírus não escolhe idades, e sim comportamentos de risco. O curioso é que o realizador e o guionista, Larry Clark e Harmony Korine, tiveram essa preocupação, ou pelo menos aparentam-na. Duas adolescentes, nas suas primeiras noites, quando perdem a virgindade, contraem a infecção. Bastou uma noite irreflectida com o rapaz errado.



  Os anos noventa também podem ser considerados loucos, como todos. Surgiam as primeiras reacções à propaganda pró-preservativo. Estes jovens encaravam o uso do método contraceptivo como uma censura social ao sexo, e sexo é o que mais vemos nas 24 horas que o filme retrata - sim, num único dia. Acompanhamos um dia da vida de jovens já profundamente imersos num mundo de droga e álcool, de sexo com múltiplos parceiros; alguns também com comportamentos criminosos. Antevê-se disfuncionalidade familiar - num deles, é evidente - e ausência manifesta de valores e de crença num futuro. Não há qualquer ideia de futuro; aqueles miúdos vivem o presente. O futuro nem sequer é um desconhecido. Ele não existe. Conta o momento, a satisfação dos prazeres, sejam eles quais forem.

   Nova Iorque é-lhes um parque de diversões. A SIDA, uma invenção. Não há adultos no filme. Vemos uma mãe, uma estranha mãe, com um bebé, progenitora de um dos miúdos, justamente aquele que transmite o vírus a duas outras miúdas da sua idade, num ciclo vicioso.

   O encanto deste filme também reside no modo como foi realizado, optando-se pela luz natural, pela câmara na mão, porém em movimento, e por actores inexperientes, longe dos vícios das grandes produtoras. Aparenta ser improvisado, porém está absolutamente bem delineado, e provocou as reacções esperadas: a puritana América não viu Kids com bons olhos. Sexo e HIV eram um tabu, temas que não convinham ser abordados.

   No final do filme, exactamente na cena final, Casper, um dos adolescentes, pergunta-se: « Jesus Christ, what happened? » O actor, curiosamente, já faleceu, com 25 anos. Suicídio. A interrogação de Casper, que teria, provavelmente, contraído HIV de Jennie, não se foca apenas na festa regada de excessos, que terminara há pouco, mas na própria epidemia, que então grassava pelo mundo e que os afectava, a todos, embora apenas ainda Jennie o soubesse.




   Acabei por comprar mais quatro bilhetes para o Queer: um filme na quarta-feira, outro na quinta e dois no sábado, sendo que um destes na Cinemateca, de novo. No cômputo geral, foram oito sessões de Queer. Depois, farei uma publicação do evento, na minha perspectiva.

4 comentários:

  1. Jasus, mudaste-te para o São Jorge?! ehehehehehheheheheheheheh

    Vou lendo o que escreves acerca de casa filme ;)


    Abraço amigo

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    1. Quase. :) Este, no caso, foi na Cinemateca.

      um abraço.

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