27 de fevereiro de 2017

Cultural Saturday.


     À partida, seria um lanche, apenas, e só iria aos museus quem assim entendesse. Eu adoro arte. Quando sei de alguma exposição, geralmente com um amigo que partilha da mesma preferência, vou. Evidentemente que nem sempre é possível, até em virtude de a preguiça ter em mim um efeito potencialmente dissuasor.

     Gostei bastante da exposição do MUDE, no Convento da Trindade. Letreiros antigos, alguns em néon. Lindíssimos, que nos reportam a uma Lisboa que já não existe. O Rossio era encantador. Até meados dos anos 80, manteve a mesma configuração: os candeeiros antigos, os contornos das fontes em calçada, os letreiros, cá estão eles, a enfeitar os topos dos edifícios. Uma linha estética tradicional e até singela, eu diria.

       Em seguida, passámos pelo Museu da GNR, que não conhecia, e que achei encantador. Presumia que não tivesse tantas referências históricas, que as tem. É uma visita bem merecida. Destaco uma carta do império colonial português, que existiu, efectivamente, desde os anos 30 até à revogação do Acto Colonial, no início da década de 50, e que daria lugar, então, ao Portugal multirracial, multicultural e pluricontinental, fundado no lusotropicalismo. Esta informação não encontrarão no museu. Importa contextualizá-lo, ao mapa, no tempo.

       Terminei o dia na exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, patente no Museu de Arte Contemporânea do Chiado. Havia estado por lá ao início da tarde, tendo desistido pela fila imensurável com que me deparei. Voltei ao início da noite, firmemente determinado a entrar, porque o propósito do dia, a par do convívio, evidentemente, seria o de visitar a exposição de Amadeo. Um amigo, o tal que me acompanha, sugeriu-ma logo nos primeiros dias, mas acabei por declinar o convite. Adorei. Um talento que se perdeu precocemente. Quadros tão vivos, tão garridos, com laivos cubistas e impressionistas (correntes que me enchem as medidas). Não julgava que o espólio fosse tão considerável, atendendo aos anos que viveu, muito poucos. Faleceu com trinta. Destacaria Tristezas, Cabeça, tão oposto às cores vívidas, constantes, que encontramos na maioria das obras que compõem o seu legado artístico. Também, em vitrine, uma carta endereçada a Fernando Pessoa, ou por este a Amadeo. Muito, muito interessante. Lamentavelmente, ontem, 26, foi o último dia. Houve quem não tivesse conseguido entrar, pessoas que estavam a parcos passos de distância de mim. Tive imensa sorte.

         Partilho convosco algumas das fotos que captei.

            

    





24 de fevereiro de 2017

Manchester by the Sea.


   Fui aconselhado, e resolvi seguir a sugestão que me foi feita. Antes de começar, quero dizer que me mantenho no meu juízo perfeito, ou, se tanto, no que tinha. Não passo os dias no cinema, se bem que tenho ido mais nestas semanas do que em toda a minha vida. Acredito que é uma fase, temporária, e que prontamente estarei restabelecido, até porque começo a ficar fatigado de tantas reviews. Esta será a última. Os Oscars estão aí.
    Daqui por diante, poderei pontualmente dedicar algumas palavras às minhas estreias, mas não com esta frequência. Nos próximos tempos não falarei em filmes. É uma promessa que faço a mim mesmo.

    De todos os filmes a que tenho assistido, Manchester by the Sea é, de longe, o mais cru. Supera Moonlight em adversidades, em amargura, na demonstração do quão injusta a vida pode ser. Casey Affleck incorpora um homem sofrido, revoltado, para quem a morte seria a absolvição que o libertaria do remorso. A história passa-se na pequena cidade homónima de Massachussets, no Inverno. A câmara passeia-se pelo mar frequentemente. Assistimos, em cenas intercaladas, à vida de Lee em família, aos momentos descontraídos com o irmão e o sobrinho, e à realidade com que se depara, lancinante.

     É um filme denso. A atmosfera é muito pesada, nebulosa. O realizador recorre a planos com pouca acção, quase estáticos, fazendo sobressair assim a sisudez das personagens. Os sorrisos, parcos, são tímidos. Pressente-se a dor. Está omnipresente ao longo das mais de duras horas, e só no final vislumbramos o prenúncio do que poderá ser um renascer de esperança nas existências sofridas de tio e sobrinho. Constatei a sensibilidade de Kenneth Lonergan na abordagem daquelas experiências traumatizantes. Elas cruzam-se. Lee é um homem destruído. Parece um autómato quando tem de lidar com qualquer reacção emocional sua ou de terceiros. Reage friamente aos estímulos, porque pouco de si sobreviveu à tragédia. Não há espaço para amar ou para se integrar. Impera a suspeição, a autodestruição, o desgosto.

     Gostei muito. Se levar o Oscar de Melhor Filme, não será mal entregue. Faz-se mister, sim, que Casey Affleck leve o de Melhor Actor. Foi assombrosamente convincente.
      Tive sorte, porque o filme (ainda) está em exibição no ECI e no Amoreiras, por Lisboa. Aconselho, portanto.

22 de fevereiro de 2017

Jackie.


   Quando soube que o filme iria estrear, decidi-me no imediato a vê-lo. Os Kennedy sempre exerceram em mim um enorme fascínio, pelo glamour, o mediatismo, o fatalismo, e pela atenção que despertaram. Já sabia, entretanto, sobre que capítulos, por assim dizer, incidiria. A morte de John seria um deles. Aliás, atrever-me-ia a dizer que Jacqueline Kennedy não existe sem John Fitzgerald Kennedy. Aquele casamento, o assassinato e o pouco tempo que estiveram na Casa Branca tornaram-nos num mito. Os estadunidenses precisam de referências históricas, e os Kennedy funcionavam bem como uma família real. Jackie foi das mais novas inquilinas da Casa Branca, aparentava ser feliz com o marido e os filhos. Uma vida de casal abruptamente interrompida.

     O filme. Não tenho muito de positivo a elogiar. É bastante aborrecido. Está centrado na conversa que Jackie tem com um jornalista, na qual relata as suas memórias do trágico acontecimento que vitimou John, em Dallas. Pelo meio, assistimos aos seus momentos iniciais enquanto primeira-dama, em que se sente visivelmente desconfortável. O filme é um exercício de retrospectiva, de memória.
     Jacqueline foi, a julgar pela interpretação de Natalie Portman - sublime, diga-se - uma mulher vaidosa, fútil, insegura, que treinava o seu papel à exaustão, cujos sorrisos eram superficiais, sem expressividade. Ganhou uma coragem titânica quando John é alvejado. Vê-se obrigada a tomar as rédeas de uma cerimónia de despedida, que julga merecida, a um presidente que mal o chegou a ser. Soube impor a sua vontade, soube comportar-se condignamente - e até hoje é relembrada pela sua postura determinada nesses tenebrosos dias. Natalie Portman esteve irrepreensível enquanto Jacqueline Kennedy. Se arrecadar a estatueta de melhor actriz, será inteiramente merecida.

      A história peca por falta de dinâmica, por falta de alguma objectividade, por se repetir incessantemente. Foi um risco que o realizador correu, e é um risco compreensível, e assumido, num filme que foca uma única personagem. Tudo em Jacqueline, por aqueles dias, é explorado: a roupa, os cigarros, o comportamento errático, a desilusão, a percepção de que não mais era a mulher do presidente, vendo-se obrigada a ceder o seu lugar. A fórmula Kennedy teria tudo para vingar, mas nem Natalie Portman conseguiu o milagre de tornar o filme atractivo e estimulante.

      Para terminar, gostei de uma frase que Jackie profere durante a entrevista: « Nunca nada foi meu, não de modo definitivo. » Por questões pessoais, que claramente não irei explorar, identifico-me sobremodo. Creio que, só para ser confrontado com a minha fragilidade, valeu a pena ver o filme.

19 de fevereiro de 2017

Os portugueses no Brasil.


    Há dias, perdi um amigo. Zangámo-nos. Um amigo que não conheço pessoalmente, que mora do outro lado do Atlântico, no Brasil.
    Não subestimo as amizades virtuais. Tenho amigos que o começaram por ser através de redes sociais. Isso não me causa qualquer problema de maior. Considerava-o um amigo. Partilhávamos um pouco da nossa vida, chegámos a conversar através da cam, acompanhávamos a rotina um do outro. Brigámos devido a divergências históricas e ideológicas. Há aquela velha trilogia, "futebol, política e religião", que periga muitas amizades. Assim foi.

     A História não é uma ciência exacta. Os factos, esses sim, são exactos. As perspectivas são divergentes. Pela Europa, tendemos a romantizar a ocupação que efectuámos, assumo, mas pela América, nomeadamente, tendem a diabolizar os europeus, sobretudo pelo ensino escolar, que fomenta estes rancores. Ambos estão certos e errados, simultaneamente. Eu não isento os portugueses de erros. Claro que os cometemos. Mas não fomos, nem de longe e nem de perto, os vilões. Não chegámos ao paraíso. Os ameríndios praticavam a antropofagia. Na América espanhola, faziam sacrifícios humanos. Não há melhores e nem piores. Somos todos homens e somos imperfeitos, independentemente da nossa procedência. Se por cá aprendemos a vermo-nos como os grandes civilizadores, por lá somos os terríveis invasores que trouxeram o caos a um mundo de beatitude, salvo raras excepções: conheço brasileiros que têm, quanto a esta matéria, uma visão esclarecida.

      Procuro adoptar uma postura justa. Sim, tomámos terras alheias, mas fomos os obreiros do Brasil. Expandimo-nos para lá do que nos pertencia por direito, conforme o delimitado em sucessivos tratados com os espanhóis, e deixámos, em 1822, o Brasil com praticamente a sua configuração actual (o Acre viria depois, já após a independência). Deixámos um país com uma massa geográfica que o torna no quinto maior do mundo, com uma língua que o une e evita a desagregação, com uma cultura que o torna distinto. Não haveria Brasil sem os portugueses. Ponto final. Por mais que à esquerda revolucionária custe, assumamos a verdade sem medos. Haveria outros países, com outras línguas, com outras culturas. Basta observar a miríade de países que resultaram das independências dos vice-reinados espanhóis. Os neerlandeses não fariam melhor. Ocuparam o território que hoje compreende o Suriname e que é um dos países mais pobres da América, independente apenas em 1975.

      No que concerne ao Brasil, de pouco a consciência me acusa enquanto português. Fomos bem piores, sim, com Timor, que deixámos ao abandono, proporcionando a invasão e posterior anexação da Indonésia, num genocídio que durou 25 longos anos; com Goa, Damão e Diu e os seus habitantes, que não puderam escolher entre a independência ou a integração na União Indiana; com Angola, Moçambique e a Guiné-Bissau, tardiamente independentes, envolvidos numa guerra colonial e em posteriores guerras civis de décadas, ficando sem infraestruturas, sem profissionais qualificados nos mais diversos domínios. Aquando da independência de Moçambique, num território sete vezes maior do que Portugal, ficaram três magistrados. Três.

       Estes ressentimentos de pouco adiantarão. Só poderão obstar a que nos possamos entender melhor. Não esperem que me associe ao coro de vozes odiosas. Os portugueses já têm quem os ostracize e procure anular o seu legado. Como diria um amigo meu, espanhol, seriam capazes de dinamitar os aquedutos romanos porque simbolizam o imperialismo romano. E fico com aquele sentimento de que houve colonialismo de primeira e de segunda. O colonialismo inglês é tido, por muita da historiografia brasileira, como de ocupação, sendo bom, por isso; em contrapartida, o colonialismo português (e o espanhol) foi de exploração. Um absurdo só explicado pelo preconceito. Se condenamos a ocupação europeia, condenamo-la unânime e coerentemente. Os ingleses cometeram das piores atrocidades na América, mas a sua hegemonia, a anglo-saxónica, cultural na América Latina leva a que se branqueie o extermínio de indígenas. Os espanhóis são bastante acesos quando relembram, e bem, que os ingleses propagaram uma odiosa lenda negra sobre a ocupação espanhola.
       Nem aprofundo a discussão acerca da incorrecção histórica e jurídica na terminologia associada. O termo colónia é anacrónico. O Brasil começou por ser dividido em capitanias, passou por ser o Estado do Maranhão e o Estado do Brasil, posteriormente unificados, até ser um Principado (com a criação do título de Príncipe do Brasil, atribuído ao presuntivo herdeiro da Coroa) e um Reino (unido a Portugal). Nunca por nunca, repito, em qualquer documento da época, surge a expressão "Brasil Colónia", que é utilizado, não ponho em causa se bem ou mal, para designar uma realidade que lhe é anterior, daí que opte pelo termo "ocupação", que me parece menos politizado e parcial. Os portugueses ocuparam, e não em número substancial, o território brasileiro. Fomos poucos em mais de trezentos anos. Não levávamos mulheres nas embarcações. Miscigenámo-nos com os locais e com os africanos, deixando descendência. A cultura brasileira é o somatório de várias, inclusive da portuguesa.

         Doravante, ainda que não deixe de expor as minhas posições, pensarei duas vezes na pertinência de se alimentar uma discussão infrutífera, que só trará mágoas. Afinal, ninguém ganhou. Ambos perdemos.


* Na medida em que não quero trocas de palavras desrespeitosas, reservo-me o direito de não publicar comentários xenófobos que visem o Brasil ou Portugal, ou que sejam passíveis de suscitar confrontos.

15 de fevereiro de 2017

Moonlight.


   Como a vida altera todas as certezas. Dei numa de cinéfilo. Em quatro publicações consecutivas, três dizem respeito às minhas estreias cinematográficas. No Dia de São Valentim, e antes que julguem que fui acompanhado (que fui, em verdade, na minha companhia), decidi assistir ao Moonlight, o derradeiro filme que suscitou o meu interesse numa fase posterior (quero ver o Jackie, que já circula pelas salas).

    Se Silence nos reporta a uma realidade que não é contemporânea, se La La Land é um musical que nos leva a um mundo de fantasia, Moonlight mostra-nos a vida tal qual ela é, crua, dura, sofrida. Acompanhamos três fases de Chiron, Little, Black, desde a infância, passando pela adolescência e terminando enquanto jovem adulto. Sem querer desvendar o conteúdo do filme, as vivências de Chiron confundem-se com as de milhões de jovens: a disfuncionalidade, a ambiguidade, as primeiras descobertas, os assomos de violência juvenil... Não há, em si, uma inovação. O filme é bom, é, mas não é um inédito. Há temas que são caros a Hollywood. O universo da desagregação dos lares e dos valores é um deles.

    Moonlight é uma história trágica, sem adornos e delongas. É a procura do eu, de uma identidade, de uma trajectória, entre o caos, o interior e o provocado. O que a torna particularmente interessante prende-se às personagens envolvidas, ao submundo que as rodeia e às suas idiossincrasias, e a uma sexualidade que nos chega através de terceiros, num primeiro momento, mas que não senti que fosse o drama na vida de Chiron, não o maior dos que o acometeram até se tornar homem. Gostei do traço de candura que o envolve desde pequeno, o que se verifica designadamente no final, que, em suma, conjuga a percepção de que não se superou, quando confrontado com as suas escolhas, e a ânsia por um conforto qualquer, um abrigo.

     Não pude assistir a todos os nomeados ao Oscar de Melhor Filme; sei, entretanto, que La La Land  é o grande favorito. A Academia tem certa tendência por argumentos que propaguem uma mensagem positiva, seja ela qual for. Moonlight não tem diálogos de ouro ou cenários idílicos; é um filme de negros, dos recônditos sinistros daquela América que não convém conhecer, e deixa-nos no incerto.
      Para repetir.


9 de fevereiro de 2017

La La Land.


   Somos dois noctívagos, daí que os convites cheguem sempre a horas tardias. Em boa verdade, já fui mais. Decidimo-nos novamente pela última sessão, desta vez no Colombo, que é agradavelmente interessante quando está vazio.

    Vamos ao filme. O La La Land é aquela história em que tudo está programado para se ter um bom produto final. A síntese de um bonito conto de amor, com percalços, salpicado de momentos musicais, inesperados, como se vivêssemos um sonho, onde, entretanto, somos confrontados com dilemas e com obstáculos, com o descrédito e com a nossa perseverança. O realizador soube reunir bem diversos elementos: o jazz dos clubes, o teatro, os sessentas, os setentas e os oitentas (Take on Me?) com os iPhones e os comandos para os carros, como se cada realidade tivesse confluído na mesma era.

    Não sei até que ponto é um filme com um final feliz ou não. Não consegui desvendar a mensagem no derradeiro olhar entre a Mia e o Sebastian: se um agradecimento pelo que viveram, se um testemunho de vitória de ambos, na concretização individual dos sonhos, se, pelo contrário, uma despedida infeliz, porque o sucesso e o dinheiro são muito relativos. O meu lado spoiler fica-se por aqui, prometo.

     A Emma Stone deu um verdadeiro show de interpretação. Incorporou a menina sadia e cheia de esperança, desapontada com os reveses, quase infantil nas suas reacções, imatura. Gostei de tamanha versatilidade.

     O género romântico-musical foi recuperado pontualmente por Damien Chazelle. A fórmula é conhecida, todavia não deixa de ser meritório da sua parte criar umas horas de fantasia bem concebida. Saímos quase a levitar com a Mia & amigas, crendo ser possível levar a vida num tom descontraído, como se pudéssemos sair de uma entediante festa (ou do trabalho) a pular e a sorrir, tendo um pianista charmoso à nossa espera. A Emma Stone não é uma Liza Minnelli, mas é uma miúda cheia de talento.
      Eu gostei, e recomendo. O pior que podemos fazer é tentar diminuir uma obra na comparação com velhos clássicos. Hoje em dia nada se inventa. Tudo se reinventa.

5 de fevereiro de 2017

Trump.


   Recordo-me de aludir ao tropeção que os estadunidenses dariam caso a escolha recaísse em Donald Trump. A primeira semana de mandato assim o tem demonstrado. Trump surpreendeu. Rogávamos aos céus por um assomo de sensatez inesperado, da sua parte ou da parte dos conselheiros que o acompanham. Está a revelar-se exactamente como se apresentou na campanha eleitoral, levando a que, do mundo das artes à política, todos, unanimemente, condenem as suas medidas.

    Os EUA são uma terra de imigrantes, à semelhança de outros grandes estados, como o Brasil ou a Argentina. Negá-lo seria um erro só justificado pela ignorância. Milhões, movidos pelo American dream, ao longo dos séculos XIX e XX, desembarcaram nos portos estadunidenses, construindo as suas vidas por lá, constituindo família, enriquecendo o tecido económico do país, dando-lhe pujança, ajudando na sua afirmação como grande potência.

    Afortunadamente, o poder judicial tem sabido, nestas primeiras horas, impor-se às políticas totalmente discriminatórias e até - perdoem o excesso - de cariz nazi. Trump, na sua perseguição aos imigrantes, confundindo-os com terroristas, reporta-me a Hitler, quando, progressivamente, foi restringindo direitos e direitos aos judeus. Excluir um grupo de pessoas com base na sua nacionalidade, ou religião, ou seja o que for, é obsceno. Merece a nossa mais veemente e ostensiva reprovação. Trump não é só contra os ilegais; Trump é contra quem vem por bem, buscando tão-só novas oportunidades.

    A ascensão destes movimentos de teor totalitário, também pela Europa, assusta-me. O mundo está a mudar, efectivamente. Longe ficaram os tempos da tolerância, do derrube de muros, da solidificação dos laços entre os povos. A história repete-se. Ainda nem há cem anos travámos as mais duras das guerras, fomentadas pelo ódio, pelo preconceito. Os grandes populistas munem-se da palavra para excitar as piores paixões humanas- e Trump nem é grande orador. No seu discurso de tomada de posse, foi tão lacónico e superficial que me deu, entre outros sentimentos, pena. Pena pela sua manifesta incapacidade e pena também dos seus compatriotas, pelo erro que cometeram, e do qual, estou seguro, se aperceberão tarde ou cedo. Confio num impeachment. Dizem que eles até estão de novo na moda...