Após a resignação de Bento XVI, o Cardeal Joseph Ratzinger, o mundo católico vibrou com a possibilidade de o Colégio Cardinalício eleger um Sumo Pontífice africano, asiático ou até mesmo sul-americano. Efectivamente, a escolha recairia em Jorge Mario Bergoglio, cardeal argentino, um homem disposto a abrir a Igreja à realidade dos nossos tempos.
O Papa Francisco, nome que adoptou após a eleição, demonstrou ser uma pessoa elevada na sua simplicidade, revestida de certa bonomia que a ninguém deixou indiferente. Eu diria que é o Papa mais consensual das últimas décadas, recolhendo uma aprovação generalizada entre crentes e não-crentes. Honrando a São Francisco de Assis, aquele de quem se diz ter sido um santo homem durante a sua vida, o Papa Francisco tornou-se o primeiro jesuíta a alcançar o topo da hierarquia da Igreja Católica. O seu sorriso e a leveza do seu semblante frequentemente me reportam ao não menos carismático Papa João XXIII.
O seu carácter trouxe consigo um capital de esperanças, que não vêm sendo defraudadas. Falamos de alguém que conhece a realidade da Igreja Católica fora dos muros do Vaticano; que tem presente a sua erosão junto dos jovens; que sabe que muitas das posições têm obrigatoriamente de ser revistas, por forma a se adequarem ao estado actual da humanidade. E Jorge Mario Bergoglio fá-lo sem prescindir dos valores basilares da Igreja Católica, como o respeito pela vida humana, desde a concepção, e a relevância do matrimónio e da família como estruturas fundamentais no são desenvolvimento da personalidade.
Na exortação papal Amoris Laetitia, não encontramos verdadeiramente uma inovação, mas um reforço do que tem sido a linha do pontificado do Papa Francisco: respeito; tolerância (inclusive com a orientação sexual homossexual e com os divorciados); definição de prioridades; exaltação da família; integração; condenação da interrupção voluntária da gravidez, em coerência com os ensinamentos da Igreja quanto ao valor sagrado da vida humana, e valorização da componente sexual como um acrescento à união entre o casal, primordialmente.
Definiria o pontificado do Papa Francisco como uma "evolução na continuidade", sem euforia excessiva. Não estaremos diante de um verdadeiro reformista, de um Bispo de Roma que promoverá mudanças estruturais no catecismo da Igreja; o Papa Francisco é, antes de mais, um homem que não teme o diálogo, inclinado aos concertos necessários para que ninguém se sinta excluído.
* Por deferência e por considerar o lógico e o correcto, o substantivo "Papa" surge escrito a maiúscula inicial, à semelhança do que sempre fiz com os demais cargos institucionais e com órgãos de soberania.
Perfeito: "Definiria o pontificado do Papa Francisco como uma "evolução na continuidade", sem euforia excessiva. Não estaremos diante de um verdadeiro reformista, de um Bispo de Roma que promoverá mudanças estruturais no catecismo da Igreja; o Papa Francisco é, antes de mais, um homem que não teme o diálogo, inclinado aos consertos necessários para que ninguém se sinta excluído."
ResponderEliminarObrigado, amigo Paulo.
EliminarGostei muito deste texto :)
ResponderEliminarAdoro este Papa :)
Grande abraço amigo Mark
É uma figura simpática. :)
Eliminarum abraço.
Um dia, há muitos anos atrás, quando viajava extensivamente por Itália, (umas vezes à boleia, outras a pé e, quando havia algum dinheiro, em carro alugado), e mais exatamente pela Úmbria, numa noite fria, melhor, gelada, de Abril (eram vésperas de Páscoa), resolvi - porque o dinheiro também era curto - pernoitar ao ar livre.
ResponderEliminarEra um campo repleto de ciprestes, como soe ser comum em muitas regiões de Itália, iluminado por uma lua cheia que ocupava o céu todo, até as sombras eram bem recortadas, apesar do frio, dormi perfeitamente pois, aconchegado à pessoa com quem viajava, e por quem estava apaixonado, não houve maneira de sentir a humidade, nem o vento cortante nem o que quer que fosse.
Acordei cedo, no meio de brumas densas, com o sol a irromper custosamente, e, aos meus pés estava ... Assis! Mágica como poucos locais o conseguem ser.
Foi uma sensação tão forte e importante para mim, sobretudo na fase da vida por que passava, que durante algum tempo confesso que fiz um esforço por me aproximar (sou um agnóstico teísta) do conceito de religiosidade que caraterizava S. Francisco, personagem de quem conhecia já alguns laivos históricos.
É afinal um dos muitos personagens carismáticos da igreja.
Interessei-me por ele, segui-lhe os passos, li o mais que pode sobre ele e creio que, face ao que encontrei, tentei muitas vezes tomá-lo como "farol" na vida agitada que por vezes levei.
O presente herdeiro do trono de S. Pedro aproxima-se da ideia que concebi de S. Francisco, ao tentar responder aos desafios a que igreja católica tem de fazer frente, se quiser sobreviver com a importância histórica que teve, sobretudo face às diferenças que caraterizam a humanidade do século XXI.
Oxalá consiga, pois esta sua capacidade de diálogo é fundamental.
Uma boa semana
Manel
Olá, Manel.
EliminarSorri ao ler o primeiro período do seu comentário («umas vezes à boleia»). Não fosse assim há tantos anos e dir-lhe-ia para tomar cuidado. Actualmente, seria uma dupla aventura: adrenalina e perigo.
Não conheço Itália; conheço bem pouco do mundo, a propósito. Dormir ao ar livre, numa noite fria de Abril, num país desconhecido, é bem próprio da juventude, ou de alguma juventude. Eu não o faria, mas não deixo de sentir uma pontinha de inveja de quem o consegue fazer. Viver sem pensar demasiado nas consequências de cada acto.
Li sobre São Francisco de Assis no primeiro ano da licenciatura. "Nada que ver", dirão alguns. Na verdade, tive a sorte de ser discente de um maravilhoso professor de Direito, que durante meses nos sujeitou aos mais variados filósofos, teólogos e doutrinadores que qualquer mente fecunda pode imaginar. A evidência de ser um católico militante terá pesado na elaboração dos conteúdos programáticos, evidentemente.
Eu presumo que passarei por essa fase. O meu Eu de há uns anos não reconheceria o presente Eu. Era contestatário, dissidente, crítico acérrimo disto e daquilo. Para meu bem, antes dos 'vinte' estava curado desse mal. Presentemente, creio poder dizer que as pazes com a religião estão feitas. Discordo do que a minha consciência impele a discordar, mas concordo com muito, e assumo que estou cada vez mais conservador.
O Papa Francisco, como referi noutra plataforma, trouxe uma "lufada de ar fresco" à Igreja.
Uma boa semana para si também.
realmente este papa jogou um ar fresco no vaticano, arejou umas ideias, mas acho que o que vc falou, de lenta continuidade é mais verdade do que subita mudança! vamos aguardar!
ResponderEliminarNem espere mudanças profundas nas próximas décadas. A Igreja tem os seus ideais, e só temos de os aceitar. É uma entidade com personalidade jurídica, livre de elaborar os seus estatutos e os seus preceitos em matéria de fé, de doutrina e até de direito (canónico). Já não somos, felizmente, coagidos a professar esta ou aquela religião. :)
EliminarSim, veremos. Compreendo que, dada a sua relevância no nosso contexto social, religioso e histórico, ainda careçamos da sua aceitação.
Mark acho que o Papa deveria de ter ainda mais um papel ativo, e na realidade de hoje em dia, ele está a fazer um esforço, e imagino que tenha dentro da Igreja os seus inimigos.
ResponderEliminarTê-los-á, certamente, sobretudo entre os prelados mais conservadores. Há correntes extremistas, até no catolicismo.
EliminarExacto, eu sei o que pretendes dizer: que provavelmente ele iria mais longe, se tivesse "poder" para isso.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarBoa tarde, Tiago.
EliminarPermita-me que discorde. A posição do Papa Francisco é bastante coerente até, na linha daquilo que a Igreja vem defendendo. Nesta exortação apostólica, o Papa pede para que haja um maior respeito e tolerância pela pessoa homossexual, deixando, no entanto, bem clara a posição da Igreja quanto à figura do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
É ao Estado que compete promover a igualdade formal e material entre os seus cidadãos. A Igreja e o Estado estão separados. A Igreja rege-se pelos seus estatutos e tem autonomia para delimitar as suas regras. Ninguém é obrigado, por cá, a seguir a doutrina católica; quem o quer fazer, sujeita-se aos princípios da Igreja. Parece-me bastante razoável que assim seja.
As igrejas protestantes, no mesmo sentido, são autónomas nas suas orientações doutrinárias. Umas aceitam, outras nem tanto. Não podemos exigir que o façam. Temos legitimidade para exigir do Estado; não para exigir das igrejas, que são pessoas colectivas distintas do Estado.
Concordo consigo quando refere que alguns Estados cedem à pressão da Igreja. Isso, naturalmente, eu condeno. Posso falar da realidade portuguesa: o Estado legisla independentemente das orientações da Igreja Católica, que mantém os seus preceitos de fé. Se o mesmo não acontece no Brasil, bom, compete aos brasileiros pôr um ponto final nessa situação. O Estado deve assumir uma postura firme, não renunciando ao seu ius imperium. Devo, porém, ainda alertá-lo para a influência do protestantismo no Brasil, protestantismo esse que se opõe com veemência à afirmação dos tais direitos LGBT. Não culpe apenas a Igreja Católica. Tenho lido e ouvido dirigentes de congregações protestantes que, esses sim, parecem saídos do século XVI, não defendendo, tão-pouco, o respeito e a tolerância que a Igreja Católica pede para as pessoas homossexuais.
um abraço. :)
O Papa é um homem do seu tempo. Pede respeito e consideração pela diferença, sem mudar uma vírgula na posição da Igreja quanto a essas uniões que andam por aí. E no seguimento de exortações anteriores dos seus antecessores, encara a relação sexual como uma natural, que não visa apenas a procriação. Além daquilo que referiu. Estou de acordo com o entendimento do Papa.
ResponderEliminar:)
Eliminar