16 de abril de 2016

As horas críticas do Governo.


      Desde a tomada de posse, em finais do ano transacto, que o Governo minoritário do Partido Socialista não passava por tão penosas polémicas. Os casos sucedem-se, tentando António Costa, como chefe do executivo, apaziguar os ânimos.

      João Soares ameaçou esbofetear dois colunistas do Público. Uma atitude intolerável num membro do Governo, que acarretaria, como previ, a sua demissão. No que respeita à responsabilidade criminal, o Código Penal contempla expressamente o tipo legal do crime de ameaças, que depende de queixa. Costa garantiu que João Soares teria condições para prosseguir no Governo, deixando implícita, todavia, a quebra de confiança no seu Ministro da Cultura. Soares entendeu a mensagem e abandonou voluntariamente os destinos da pasta que liderava. Uma primeira baixa na equipa ministerial.

     Em simultâneo, despoletava a crise institucional entre as Forças Armadas e o Governo, com as declarações do Sub-Director do Colégio Militar, o tenente António Grilo, rejeitando peremptoriamente os afectos naquele estabelecimento militar de ensino, dando-nos a conhecer, amplamente, a postura do Colégio Militar ante o afecto em si mesmo, extrapolando a polémica suscitada, que é manifestamente desencorajado. O Ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, pediu explicações e pressionou no sentido da tomada de decisões; o Chefe do Estado-Maior do Exército, Carlos Jerónimo, pediu a demissão, em consequência, e os militares já falam em protestos nas comemorações do 25 de Abril, exigindo a demissão do ministro socialista.

        A contratação de um amigo pessoal de António Costa, Diogo Lacerda Machado, está, também ela, envolta em controvérsia. O advogado foi contratado para prestar serviços de «consultadoria estratégica e jurídica» ao Primeiro-Ministro. O salário mensal que está adstrito a essa função, que ascende aos dois mil euros, findando no final do ano, levantou questões que se prendem à idoneidade da escolha, pela reconhecida amizade que há entre António Costa e Lacerda Machado, que já havia prestado semelhantes serviços de apoio ao Governo, sem que para tal tivesse sido formalmente contratado.

        Pelo meio, o Secretário de Estado da Juventude e Desporto demitiu-se, alegando incompatibilidades com o actual detentor da pasta da Educação, Tiago Brandão Rodrigues. O caso mantém contornos ainda pouco claros para a opinião pública. O argumento invocado pelo ex-Secretário, de «desacordo com (...) o modo de estar no exercício de cargos públicos», dá azo a diversas interpretações. Sou levado a crer de que não havia qualquer harmonia entre ambos, o que seria, a persistir, muito pouco saudável nas relações que se querem de confiança e de solidariedade entre um ministro e um secretário de Estado.

         A terminar a ronda de agonias, o Bloco de Esquerda, através da sua líder, Catarina Martins, no debate quinzenal, exigiu a demissão do Governador do Banco de Portugal, arguindo que Carlos Costa cometeu «falhas graves» ao não informar o Governo do pedido ao Banco Central Europeu para que agilizasse o processo de liquidação do Banif (limitando o acesso da instituição de crédito aos fundos de liquidez do Eurosistema) e ao não comunicar ao executivo dos critérios que estiveram subjacentes à selecção dos credores que serão sacrificados com a resolução do Banco Espírito Santo. O Governo mantém-se relutante quanto à demissão do actual Governador, aludindo, porém, às falhas na informação, através do Secretário de Estado Adjunto e das Finanças. O BP, por seu turno, defende-se com a confidencialidade inerente às regras das instâncias europeias.

          Dias que não têm sido fáceis para o Governo. Não admira que, confrontando fotos dos políticos antes e depois de ocuparem cargos de decisão, envelheçam precocemente.

8 comentários:

  1. É a Esquerda que temos lololol Vamos ver os próximos capítulos lololol

    Grande abraço amigo

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    1. ... o que em nada afecta a credibilidade do Primeiro-Ministro e dos demais membros da sua equipa. :) O período de graça é que, enfim, terminou, infelizmente.

      um abraço.

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  2. Enquanto isto, aqui do outro lado do Atlântico, vivemos a expectativa de um dia de glória, com a primeira etapa do impeachment da Dilma e o fim do PT!

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    1. Sim, eu tenho acompanhado o processo de destituição com atenção. A cobertura mediática do caso vem sendo significativa. :)

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  3. É uma grande verdade, e até acho que a política suga a vitalidade dos políticos, eles trabalham muito, deve de ser por isso...

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    1. Não sei, mas lá que lhes dá cabo da aparência, dá. :)

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  4. Isto não é nada. Os portugueses perceberão que a 'geringonça' que nos arranjaram vai levar o país à ruína. Que o Presidente ponha cobro a este (des)governo ilegítimo até lá!

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