A algum custo, armei a árvore de Natal. É grande, quase gigante, tem dois metros. Coloco-a, tão discreta como possível, a um canto da sala de estar. Bolinha ante bolinha, fui compondo-a sem entusiasmo. Ficou bonita. Não gosto de enfeites demasiado ostensivos, nem de árvores excessivamente ornamentadas. Este ano ficou em tons azuis e creme. Nada de cores quentes.
Fi-lo sozinho. Há muito que se perdeu o espírito natalício. A mãe passa pouco tempo em casa. Tem dias que não vem. Sabe-me crescido, e sabe também que fico bem. A Ana está sempre por aqui. Ficar só por algumas noites tem sido perturbador. Ausências que me incomodam.
Disse-lhe, há tempos, que devíamos mudar de casa. Esta é espaçosa demais e já não serve para o efeito. Talvez me sentisse mais aconchegado numa menor. Como sempre, ouviu-me entre leituras, sem me dar grande atenção. Nunca tem em consideração o que eu digo. Pensei em ir para a casa dos avós, mas isso provocaria algum alarme, um rol de perguntas.
Ainda não sei onde estarei daqui a uma semana. Devo dizer que não me preocupa. Qualquer lugar, por mim, é bom. De preferência com poucas pessoas, recatado. Evito reuniões familiares, ainda que sabendo que o Natal, tendencialmente, é uma época de comunhão e harmonia. Muito desvirtuada do seu sentido primitivo, transformada que está em dias de consumismo desenfreado, em que se apela à solidariedade que não chega ao final do ano. Acredite-se ou não na palavra de Cristo, é provável que não apoiasse o circo criado em torno do seu nascimento (que, à partida, nem foi em Dezembro). Alimento a hipocrisia cristã, menos do que em anos anteriores, na linha do meu proto-ateísmo que tem vindo a acentuar-se nos últimos meses. Creio que consequência de um esvaziar de sonhos perante a constatação da solidão humana. Perante os deuses e perante os demais espécimes. Na senda de Hobbes, o Homem é mau. É o seu próprio lobo. Ataca sem piedade os que o rodeiam, e só não o faz com traços de crueldade sádica porque tem medo das consequências que advêm desse comportamento. Os que não o fazem. E se a religião e a cultura têm o dom de amenizar o instituto selvagem que jaz, latentemente, em nós, tanto melhor. Foi com o deus monoteísta que o Homem, enquanto ser criado à imagem e semelhança de Deus, passou a estar revestido dessa aura de respeito pela sua condição. Jesus pregou a igualdade, rejeitando o culto imperial. E por isso morreu. Por ser um profeta do amor, do desprendimento, da salvação que estava vedada até então. Bela e válida mensagem, seja como for.
Assim a sigamos, na medida da nossa fraqueza.
Ainda não sei onde estarei daqui a uma semana. Devo dizer que não me preocupa. Qualquer lugar, por mim, é bom. De preferência com poucas pessoas, recatado. Evito reuniões familiares, ainda que sabendo que o Natal, tendencialmente, é uma época de comunhão e harmonia. Muito desvirtuada do seu sentido primitivo, transformada que está em dias de consumismo desenfreado, em que se apela à solidariedade que não chega ao final do ano. Acredite-se ou não na palavra de Cristo, é provável que não apoiasse o circo criado em torno do seu nascimento (que, à partida, nem foi em Dezembro). Alimento a hipocrisia cristã, menos do que em anos anteriores, na linha do meu proto-ateísmo que tem vindo a acentuar-se nos últimos meses. Creio que consequência de um esvaziar de sonhos perante a constatação da solidão humana. Perante os deuses e perante os demais espécimes. Na senda de Hobbes, o Homem é mau. É o seu próprio lobo. Ataca sem piedade os que o rodeiam, e só não o faz com traços de crueldade sádica porque tem medo das consequências que advêm desse comportamento. Os que não o fazem. E se a religião e a cultura têm o dom de amenizar o instituto selvagem que jaz, latentemente, em nós, tanto melhor. Foi com o deus monoteísta que o Homem, enquanto ser criado à imagem e semelhança de Deus, passou a estar revestido dessa aura de respeito pela sua condição. Jesus pregou a igualdade, rejeitando o culto imperial. E por isso morreu. Por ser um profeta do amor, do desprendimento, da salvação que estava vedada até então. Bela e válida mensagem, seja como for.
Assim a sigamos, na medida da nossa fraqueza.
Tem um outro que diz que o Homem é bom. Não sei em qual eu acredito mais :) Essa época tem muita falsidade mesmo. Eu nem ligo pra religião. Gosto do Natal mas gostaria mais aí nesse friozinho gostoso da Europa, porque aqui.. "Mel Dels", rs.
ResponderEliminarOlha minha família é bem grande, eu amo ficar sozinho.. Se eu estivesse aí a gente via um filminho nesses dias que sua mãe tá fora e prontinho, não ficaria mais só :D
Abraços Mark!!
Rousseau. Discordo.
EliminarObrigado, Ty.
um abraço fraterno.
Já me cansei de te aconselhar algo que esta tua postagem apenas mais reforça - é urgente que procures uma vida tua, só tua, embora claro, mantendo os laços familiares.
ResponderEliminarO que aqui escreves é isso mesmo...e desculpa meter-me onde não sou chamado.
João, eu não escrevo para que me aconselhem, mas não te tiro a razão. Não vejo é tanta urgência em sair de casa; se considerarmos que os espanhóis vivem, em média, até aos trinta anos em casa dos pais, ainda tenho uns aninhos. Não te intrometes. Obrigado pela preocupação.
EliminarFeliz Natal e com muitos presentinhos :)
ResponderEliminarTens de arranjar a companhia certa ;)
Abraço amigo
Obrigado, Francisco. Igualmente. :)
EliminarSou um ser só, talvez não por opção; por rumos que a vida leva. Mas, como não acredito em "amores", digamos que não passo pelas desilusões que até se lê por aí.
um abraço.
À medida que percorria as tuas palavras - sobretudo o que se diz nas estrelinhas - dei por mim a recordar-me de duas coisas.
ResponderEliminar1 - Um pedaço de uma canção de Sérgio Godinho:
Ser sozinho não é sina nem de rato de porão,
faz também soprar o vento
não esperes o tufão,
põe sementes do teu peito nos bolsos do teu irmão.
2 - Um excerto de um livro de Nietzsche:
É comum ao solitário ser demasiado rápido a estender a mão à primeira pessoa que lhe aparece. Há pessoas a quem não deves estender a mão, mas a pata. E esforça-te por que a tua pata tenha garras!...
Talvez te situes a meio caminho entre ambas as considerações.
És como és. Suponho que ninguém, de forma consciente, opta por ser só. Isso há-de resultar das circunstâncias que estiveram presentes no seu próprio desenvolvimento. Tendo acompanhado com razoável regularidade os "diálogos" que aqui tens mantido contigo mesmo, a ideia que transmites é a de que esperas demasiado dos outros - talvez na exacta medida em que exiges de ti - se calhar sem teres em consideração as diferenças que, provavelmente, condicionaram o crescimento de ambos.
É como se receasses dar o primeiro passo ou, melhor, numa analogia com "O Principezinho", precisas de cativar os outros para te tornares importante para eles.
Lembrei-me agora de outra coisa: num dos diálogos de um livro de John Steinbeck, faz-se referência a uma palavra que talvez possa ser a mais importante de todas. É uma palavra hebraica: TIMSHEL
Timshel significa: tu podes!...
Desculpa-me pela extensão do comentário.
Olá, dritin'.
EliminarNietzsche acertou no "comum". É comum, não é regra inilidível. Eu não estendo a mão facilmente. Sou muito reservado, daí que me encontre a meio caminho, como bem pressentiste, nas suas palavras. Em contrapartida, também não estendo a "pata".
Acertas em cheio no final. É isso, em rigor. É raro eu dar um primeiro passo seja no que for, além de ser demasiadamente indeciso, levando uma eternidade a tomar decisões superficiais. Não serei um bloco de gelo; gosto de sentir o carinho e a atenção das outras pessoas.
Obrigado pelo trecho do Sérgio. :)
Natal deixa a gente meio pra baixo, né? Eu pelo menos sempre fico, e entendo você.
ResponderEliminarEspero que o seu natal seja divertido, na medida do possível. Cuide-se, meu querido.
No Natal, digamos, acentua-se alguma melancolia, mas, não te enganes: sou assim todo "el año".
EliminarObrigado, Tiaguito.
um abraço!
O que precisas é de um bom cafuné ;)
ResponderEliminarAbraço Mark. O Natal voltará a fazer sentido para ti. E espero que brevemente
Preciso de paz interior, tartaruguinha.
Eliminarum abraço grande, e obrigado!
um abraço muito apertado, Mark. lembras-te da história do João e da sua mãe, o primeiro conto que escrevi? é isso mesmo.
ResponderEliminarbjs e boas festas.
Terei de o ler de novo.
EliminarMuito obrigado, Margarida.
um abraço grande e um beijinho.
Bom Natal!
Na medida do possível desejo-te um feliz natal Mark :) Que o espirito natalicio invada o teu coração e te proporcione momentos tranquilos e de paz :) Abraço
ResponderEliminarMuito obrigado, Ricardo. Eu ainda publicarei algo específico sobre os votos de "Boas Festas", mas envio-tos desde já. Um Santo Natal para ti e para os teus!
Eliminarum abraço!
E a forma como terminas tanto diz...
ResponderEliminarDe todo irei refutar esta época do calendário. Dia 25 fará 1 mês e 5 dias que a órfão de pai passei. Normal após tão violento cancro? Não. Não na minha idade nem na dele.
Acorda os que te rodeiam. Ou então, desculpa mas sim, vai viver com os avós. A vida é efémera...
Abraço.
Gostava de te encontrar no meu espaço, no 🐸 ou wordpress.
Vasco, tenho de passar pelo teu novo espaço.
Eliminarum abraço forte!
Obrigado pela visita, Mark.
EliminarNo texto que leste, como pudeste constatar, "família" é algo tão relativo. Vive com quem te ama!
Abraço.
um abraço forte, Paulo.
EliminarAja Amor, mesmo que não acredites no amor de namoros, querido Mark. Ama-te a ti mesmo, estás em falta para contigo e por isso essa tristeza e melancolia em que vives. Talvez te valha a pena reflectires nisso. :)
ResponderEliminarBeijinho :3
Sim, terei de viver mais, aproveitar os anos de juventude. É como digo: se não aproveitar agora, espero que tenha algo de bom guardado para a meia-idade ou mesmo no ocaso da vida. :)
Eliminarum beijinho.