Outra manhã em branco. Vem-me à memória quando saltava para a cama dos pais e programávamos o dia de sábado, o que faríamos, com quem estaríamos. A que exposição me levariam. Em que restaurante almoçaríamos. Hoje, acordando, sou indiferente ao frio que sinto quando deixo que a aragem gélida irrompa pelo meu quarto, ainda que em finos trajes.
Tomo o xarope. O corpo ressente-se da atmosfera desconfortável dos anfiteatros. Eventualmente, das aulas tardias.
Cresci sabendo que necessitava de cuidados especiais. Uma cabeça humedecida pela chuva equivaleria a uma semana de remédios. Daí me protegerem; a mãe não consentir que saísse de casa sem os botões do casaco abotoados, sem calçado quente ou o café da manhã. Tampouco me deixava só, à porta, enquanto esperava pelo transporte do colégio.
Deixo correr a água, à medida em que o vapor se adensa. E fraquejo. A páginas tantas, o som dos salpicos na banheira meio cheia acostuma o meu ouvido. No recorte da água, a silhueta dos meus sonhos, distorcida, comprimida pelas últimas gotas que se evadem da torneira mal fechada. Que se criam e anulam no infinito manto espesso dos minutos de um dia perdido.
Tomo o xarope. O corpo ressente-se da atmosfera desconfortável dos anfiteatros. Eventualmente, das aulas tardias.
Cresci sabendo que necessitava de cuidados especiais. Uma cabeça humedecida pela chuva equivaleria a uma semana de remédios. Daí me protegerem; a mãe não consentir que saísse de casa sem os botões do casaco abotoados, sem calçado quente ou o café da manhã. Tampouco me deixava só, à porta, enquanto esperava pelo transporte do colégio.
Deixo correr a água, à medida em que o vapor se adensa. E fraquejo. A páginas tantas, o som dos salpicos na banheira meio cheia acostuma o meu ouvido. No recorte da água, a silhueta dos meus sonhos, distorcida, comprimida pelas últimas gotas que se evadem da torneira mal fechada. Que se criam e anulam no infinito manto espesso dos minutos de um dia perdido.
Este estado febril deixa-te inspirado
ResponderEliminarFelizmente não tive febre. Apenas um resfriado.
EliminarCaso para dizer, que és uma "flor de estufa", mas que com o tempo irás ganhar muitas defesas
ResponderEliminarTambém fui assim, no worries
Não morres por isso ;)
Abraço amigo Mark
LOL
Eliminarum abraço. :)
Francisco, essa e umá resposta digna de um homem do campo xD
EliminarAcho que se o Mark vivesse no campo não teria tantos problemas de saúde... pelo simples facto que não iria respirar poluição todo o dia..
Com certeza, Horatius. Morar em Lisboa não ajuda. :(
EliminarCuriosa essa imagem da silhueta distorcida dos sonhos. Uma silhueta comprimida pelas últimas gotas de uma torneira mal fechada!...
ResponderEliminarÉ uma imagem metafórica de um dia apenas perdido? É que, no correr do texto, parece sugerir uma espécie de despojamento. Uma quase indiferença para com os sonhos que, inevitavelmente, hão-de sobrepor-se à penumbra da solidão.
Porque a vida continua a ser um desafio. Uma equação com várias incógnitas!...
Não, caro driftin', tens razão, é mesmo um despojamento. Não apenas um mero dia perdido. Uma vida perdida, ou perto.
Eliminaruma vida perdida? oh, Mark... :( então?
Eliminardia difícil sim, mas assim não...
o natal não é propício a pensamentos felizes quando os que amamos já cá não estão, mas há que tentar dar a volta.
bjs.
Tenho momentos melhores, outros piores. Sou de fases, como a Lua.
Eliminarum beijinho grande, Margarida, e obrigado.
Os filhos crescem e saem por aí nas ruas de Portugal pelados prontos para pegar um resfriado. Rs. Brincadeira! Também não fiz muita coisa no sábado além de dormir e comer. Rs
ResponderEliminarAbraço!
O "dia perdido" foi metafórico. Perdi-o em vários sentidos. Até saí, passeei por aí, desencontrando-me cada vez mais.
Eliminarum abraço.
True story? És assim tão susceptível? Abracinhos fofinhos
ResponderEliminarSim, sou de compleição frágil. Adoeço com relativa facilidade. Deve-se à bronquite asmática desde tenra idade, que sempre me obrigou a tomar medicação. Os dois maços que a mãe fumava por dia, durante a gravidez, não devem ter ajudado em nada, bem como as suas famosas "noitadas".
Eliminarum abraço, tartaruguinha.
E um dia que começava com um banho de banheira tinha tudo para correr bem... ;)
ResponderEliminarÉ bom para relaxar. :)
EliminarUm texto que ficava bem num livro de contos...
ResponderEliminarNão tenho essa pretensão, João. :)
EliminarContinuas sem "compreender" a separação dos teus pais. Um filho "não se faz" por acaso e passados alguns anos, todo o universo criado,
ResponderEliminare desmoronado. Recordas, com saudade, os momentos de afeto, em criança, prestados pelos progenitores.
No final do teu texto, fiquei em dúvida. Creio que te consideras imperfeito. Mas todos o somos, Mark! E fragilidades, também as temos. Podem não ser de saúde física mas de outra ordem. A outra interpretação, que me ocorreu, foi a de um homem desejado, amor impossível ou inconcretizável porque, nem a água, nos seus "contornos", mostra quem merece o teu amor.
Abraço.
Espero não ter feito uma interpretação muito absurda. Não me expressei bem - tenho noção. Este período de luto está a ser... E as palavras ainda não consigo libertar.
Boa interpretação. És um homem atento.
EliminarLuto? Eu não fazia ideia. Lamento muito, Paulo!
um abraço grande!
Devia ter seguido psicologia clínica ou psiquiatria :(
EliminarEnfim, ...
No post anterior, não consideres o comentário: pensei tratar-se deste.
Em http://ondenaoestou.blogs.sapo.pt, selecionando a tag "cancro" ou "mieloma múltiplo", podes acompanhar um pouco da degradação. Infelizmente, coragem e força ainda não tive para escrever a respeito de tudo. Abraço grande.
Não conhecia esse teu blogue na plataforma do Sapo. Irei lá.
EliminarOs meus profundos sentimentos.
um abraço sentido.
Um belo texto, tal como tantos que tu escreves. É impressão minha ou tens dedicado mais a tua escrita a uma escrita pessoal e menos sobre a História? :)
ResponderEliminarDe qualquer das formas, gosto muito desta tua forma de expressão, gosto mesmo muito quando desabafas, tu és um rapaz muito sensível e que guarda muito para dentro de si. Espero que estejas bem, fofo. Alguma coisa, estou sempre à distância de uma chamada, de uma sms... estou aqui.
Abraço.
Não, não é impressão. Tenho escrito realmente mais sobre o quotidiano e menos acerca de actualidades políticas, temas históricos, jurídicos, dissertações, ensaios, etc, etc. Não deliberadamente; faltam-me assuntos. É tudo tão... superficial, pelo menos para o que me atrai debruçar-me. :) E o Dezembro também é propício a explorar um lado mais intimista e pessoal. Por mim falo, sou um tipo mais sensível no Natal.
EliminarEu sei que sim. Muito obrigado!
abração!