Há dias, acordei pela manhã, cedo, muito cedo, e resolvi ligar o televisor. Raramente o faço, como vou dando conta por aqui. A ponto de o ligar apenas para que funcione por alguns instantes. Mudámos de televisor para um LCD, por estética, apenas, daí que não seja agradável ter uma má surpresa...
Passei pelos canais que me prendem a pouca atenção. Os noticiosos internacionais, nacionais, e, claro está, os canais premium de filmes. A mãe gosta de ver uns filmes, daí tê-los colocado. Dei, então, com um filme de enredo excepcional, numa realidade que está surpreendentemente perto. O Normal Heart, que vou explorar tentando não desvendar nada de substancial para quem, evidentemente, ainda não assistiu.
O filme desenrola-se em Nova Iorque, nos meados dos anos oitenta do século passado, no momento exacto em que o cancro gay, a SIDA, como era conhecida inicialmente, começava a devastar a comunidade homossexual norte-americana, tornando-se um flagelo incontrolável e desconhecido. Todos os dias, o número de vítimas aumentava, provocando o caos e recrudescendo o preconceito.
Entre a luta de um activista no sentido de obter apoios contra o que considerava ser uma epidemia, surge uma história de amor com um jornalista do The New York Times, aonde se dirigira para procurar ajuda esclarecida. Ned, encarnado por Mark Ruffalo, apaixona-se por um jovem jornalista, Felix Turner (Matt Bomer), décadas mais novo. Reencontram-se (na medida em que se conheciam de outras paragens...) e vivem uma bela e tórrida relação fugaz.
Considero este filme muito bem conseguido. A crítica, aliás, foi unânime no rol de elogios. A visão tenebrosa de um doente de SIDA, passando o estágio da seropositividade, não foi esquecida. Entramos na realidade de alguém que sabe que os seus dias se findam em pouco, na degradação física, na terrível decadência provocada pelas doenças oportunistas que minam organismos tão fragilizados. Tudo esteve presente num ambiente eighties, com direito às músicas que perpetuaram uma das décadas emblemáticas do século XX.
Não será um filme próprio para as sete da manhã. Marcou o resto do dia pelo impacto visual. É depressivo, demolidoramente triste. A junção da discriminação pré-existente com a que surgiu pela doença, a homofobia interna de homossexuais que negavam a sua orientação e, nesse sentido, qualquer probabilidade de contrair a dita enfermidade gay, e o silêncio dos políticos e da sociedade, no geral, isolaram uma comunidade que vinha se afirmando a custo. E os que continuaram a sua luta, quando já se desconfiava de que as relações sexuais desprotegidas eram a fonte de contágio epidémico, rejeitando reprimir uma sexualidade censurada desde a infância pela pressão familiar e social, aumentaram exponencialmente o número de vítimas mortais.
Deixo-vos uma das cenas (há esta cena em melhor qualidade no Youtube, mas quem postou desactivou a possibilidade de incorporar, logo, encontrei este vídeo, que tem o mesmo conteúdo, em qualidade menor).
julgo que esse canal teve um dia dedicado a filmes lgbt, no âmbito do queer. não vi este filme, mas é uma cena emocionante. gosto muito do Mark Ruffalo, do Bomer assim-assim. não sei qual é a orientação sexual do Ruffalo, mas o Bomer e o Jim Parsons - o rapaz novo que aparece em grande plano, são gays assumidos. aliás, podes vê-lo como Sheldon na série de tv de comédia The Big Bang Theory. ganhou alguns prémios como melhor actor.
ResponderEliminarmas o filme é recente, deste ano.
bjs.
O filme é todo ele muito tocante.
EliminarSim, pesquisei os actores depois de ver o filme e li que o Bomer é realmente homossexual.
Obrigado pelas indicações, Margarida.
um beijinho.
preciso assistir mesmo! vou baixar hoje mesmo.
ResponderEliminarAssista! É muito bom. :)
EliminarÉ um bom filme com certeza, e que suscita diversos questionamentos mesmo nos dias de hoje, penso ser impossível assisti-lo e permanecer indiferente, não só pela história, que é muito tocando, mas pela própria postura que assumimos em nosso dia a dia.
ResponderEliminarConfesso que fiquei um pouco incomodado com a postura de guerra do Ned, me senti "atacado" por ele em alguns dialogos e ficando a questão se devemos ser mais combativos ou então ir no "devagar e sempre". Mas independente disso é uma bela história, Julia Roberts arrasou no filme...
Outra confissão é que achei o final um tanto quanto "abrupto", sei lá... fiquei com a sensação que acabou "de repente"...
Um Grande Abraço e uma ótima semana para ti.
Sim, é impossível ficarmos indiferentes à história e ao contexto. É demasiado envolvente.
EliminarA postura do Ned foi muito criticada pelos outros rapazes. A par do medo da doença, reinava o medo que a orientação sexual deles fosse descoberta. Era a combinação suprema de dois medos compreensíveis: da doença e de que descobrissem a sexualidade.
O final é triste. Muito triste. Creio que o Ned se sentiu... só no mundo.
um abraço grande e uma excelente semana para ti também!
É um filme belíssimo, apesar de triste, e muito interessante também.
ResponderEliminarChorei um pouco no fim
Gostei imenso do filme, pese embora seja triste.
EliminarUm bom filme, e um grande verdade, em Portugal apareceu como uma bomba nos finais dos anos oitenta. Onde tinhas 6 meses de vida... Nada se conhecia e sempre acreditei que foi uma doença criada em Laboratório.. Há que controlar a população do Mundo :(
ResponderEliminarAbraço amigo e ganhaste um desafio no meu canto lolololololololol :P
Mas vê uma coisa, Francisco: para controlar a população do mundo, propagariam a doença entre... heterossexuais (isto admitindo que foi uma doença criada em laboratório). Eu acho que não. Tudo indica que é uma doença com origem em África (os primatas também têm um vírus semelhante). De alguma forma, do contacto dos homens com esses animais, algumas pessoas contraíram a doença e propagaram-na pelo tempo.
EliminarGanhei um desafio? Ok, vou ver isso. :)
um abraço.
Sou um completo desinformado sobre a questão, mas acho que o Francisco tem alguma razão...
EliminarQue foi uma doença criada em laboratório, Horatius?
EliminarBoa dica! Já vou procurar pra ver :)
ResponderEliminarFico feliz por estar a dar a conhecer um filme que considero muito bom. :)
EliminarObrigado por me teres mostrado, adorei!
ResponderEliminarOportunidade de perceber do que tera sido viver nessa altura. E emocionante também, claro.
Abraço ;)
Ainda bem que gostaste, M.
Eliminarum abraço. :)
Eu já tenho o filme, mas ainda não o vi.
ResponderEliminarGosto muito do Mark Ruffalo, como actor e como homem.
Decerto que vais gostar. :)
EliminarNão conheço este filme. Nunca tinha ouvido falar sequer. Conheço um outro - Filadélfia - que aborda uma temática semelhante...
ResponderEliminarEste filme é deste ano, 2014. É recente. Vê que vais gostar.
EliminarAh sim, o Filadélfia. É um marco já. O filme e a banda sonora.
Também desconhecia este filme, e nem sonhava que o Parsons era gay (obrigado, Margarida!). Para além do incontornável Filadélfia, há uma minissérie que me marcou imenso, o Angels in America.
EliminarNão conheço essa série. Vou pesquisar. :)
EliminarEu tenho ali o filme para ver, que o Limite me arranjou... mas ainda não tive coragem, porque já sei que vou chorar (lolololol).
ResponderEliminarO Limite? Quem é esse? Perdoa-me a indiscrição. :)
EliminarSim, é provável que chores... Eu fiquei emocionado.
"The Normal Heart"(EUA,dir.Ryan Murphy, 2014), que acabo de assistir,um filme sobre a gênese da AIDS/HIV na Nova Iorque dos anos 1980 é uma das experiências estéticas mais contundentes que tive em minha vida.
ResponderEliminarBaseado numa peça teatral escrita por Larry Kramer em1985, nos narra as lutas políticas sobre o então "câncer gay". Os regimes de verdade produzidos sobre a epidemia; as dificuldades da comunidade gay em abdicar de sua liberdade sexual tão duramente construída, em prol da contenção da doença; a negligência do poder público diante da questão proposta pelas lideranças gays protagonistas do filme.
É preciso sublinhar que "naquele momento histórico, silêncio, armário e vergonha significavam morte", lembra o diretor, a partir das conversas que teve com o roteirista Larry Kramer, que fez a obra com tons assumidamente biográficos.A atuação do Comitê da Crise da Saúde dos Homens Gays, fruto dos movimentos sociais pelos direitos civis homossexuais estadunidenses na década de 1980.
"Os tempos mudaram, mas a discussão sobre a epidemia global da Aids é ainda tão importante e contemporânea quanto o debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a luta por termos, todos nós, o direito de sermos amados e aceitos como cidadãos, independentemente da afetividade sexual. A História provou que Larry estava certo. De herético, ele se transformou em um dos heróis do movimento pelos direitos civis dos gays nos EUA", nos diz Murphy."
"The Normal Heart" é uma sequência de imagens sobre a vida, a morte, a vulnerabilidade, o governo e os governamentos dos corpos, da saúde coletiva ... mas também dos silêncios, dos "armários" que sujeitam, das lutas dos movimentos sociais e as tensões dentro dos próprios grupos societários com "identidade" de gênero e de orientação sexual... não bastasse tudo isso, é uma bela narrativa sobre o amor que OUSA dizer seu nome, fazendo um trocadilho com a célebre citação de Oscar Wilde.
Obrigado pelo seu apontamento e participação. Concordo.
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