Faltei à última aula do dia. Prática, o que implicou uma falta na assiduidade. Sinceramente, não me importo. Dormi mal de noite e a pouca paciência perdeu-se por entre a tinta da caneta. Ver os raios quentes de sol pelas pequenas e estreitas janelas do anfiteatro novo suscitou-me a ideia de sair e passear. Voltar a casa não seria a solução. Quis apanhar ar fresco e os meados de Março proporcionam tardes amenas.
Apanhei o metro, mudei no Marquês, tomei a linha azul e saí no Terreiro. Estive, por instantes, no cais das colunas. Lisboa está cheia de turistas e, indiscutivelmente, de rosto lavado. O povo português, ao menos na aparência, tem mudado. Os looks são mais descontraídos e jovens. A tecnologia, em tablets, smartphones e afins, domina a paisagem. As famílias saem mais e estranhei ver tanta afluência quase à hora de almoço. Um casal, com o filho adolescente, trocava impressões sobre o rio. Estrangeiros tiravam fotos à ponte e a si mesmos, com poses divertidas a puxar para o dinâmico. Os tradicionais vendedores de garrafas d'água e traficantes de mau aspecto. Muitos indianos. Asiáticos. Uma metrópole de várias cores.
Desci uma das escadinhas laterais e avancei até ao areal. Crianças brincavam com os pés à entrada da água turva, sob a supervisão dos pais. Outras faziam castelos com as mãos. Casais de namorados amontoavam-se. E aí a diversidade foi mais evidente. Um casal de lésbicas trocava carícias e sorrisos. Afastados, dois rapazes, claramente namorados, conversavam. Levei ténis. Peguei numa pedrinha e escrevi o meu nome na areia molhada.
Voltei ao meu percurso, caminhei em direcção ao Cais do Sodré e subi. O estômago alertou-me da sua presença. Entrei num restaurante simpático e acolhedor, numa daquelas ruas sinuosas, e escolhi um menu. Almocei tranquilamente. Ainda tirei umas folhas da pasta arquivadora e estudei um bocadinho. A mala que comprei pelo Natal é confortável no ombro e tem arrumação. Meses depois, só hoje a olhei com olhos de ver.
Regressei à margem do rio, já bem alimentado. Deu-me uma enorme vontade de chorar. Ontem, tive igualmente uma crise de choro. Tenho andado especialmente melancólico nestes últimos dias. Raio de herança que a mãe do pai havia de me deixar... Nem quero imaginar que a mãe venha a saber disto. Preocupá-la-ia desnecessariamente e quero tudo nesta vida menos perturbá-la.
Deixei-me ficar por ali durante a tarde. Comprei uma empada de galinha num barzinho de esquina, em direcção à estação do metro, e bebi um sumo. Já na minha linha, quase me deixava adormecer.
Sinto uma certa paz interior, por agora. Fez-me bem.
Passear é bom. Deve ser bem bonito aí. Por que está triste? :(
ResponderEliminarNão estou triste.
EliminarSofro de melancolia desde pequeno. Rio, mas tenho fases. Perturbações de humor. Enfim.
Sim, é bonito.
Essa Lisboa revigora :)
ResponderEliminarGosto da Baixa. Agora. Há anos não gostava. Ali junto ao Tejo fico mais animado. :)
EliminarDuas coisas Mark:
ResponderEliminar1. Tu um baldas? Isso não parece muito a tua "onda", ;Mark. Mas compreendo que às vezes tenhas essas vontades. Eu também as tinha, mas nunca "sucumbi"..
2. Chorar? Melancólico? Eu diria mais carente. Todos nós nos acabamos por sentir assim, de vez em quando. Até quando se está numa relação. Tens de arranjar um namorado :)
Este ano já tenho faltado. Às teóricas. A uma prática foi a primeira vez, creio. Quero lá saber!
EliminarAté poderia ser, mas não. É mesmo melancolia. Em pequeno, ia chorar para os cantos. Ficava triste do nada. Tal e qual a avó paterna. Vocês levam tudo para os 'namorados'. Preciso de tudo menos de dores de cabeça. Namoro com o Código Civil. LOL
Ai mark mark... O Código Civil não dá beijinhos nem faz festinhas na cara... :P
EliminarNão, mas também não chateia, nem trai, nem essas coisas feias todas. :)
EliminarUm relacionamento não é só coisas feias. Muito pelo contrário. Tem também coisas muito boas :)
EliminarE não deves ter "medo" de uma relação por poderes vir a sofrer...
Claro, Horatius, eu falei no Código Civil a brincar. Eu não tenho 'medo' de relações. Falei na brincadeira.
EliminarIsto não tem nada a ver com namoros ou relações e nem quero que isso fique subentendido. Se namorasse, continuaria a ser a mesma pessoa, eventualmente sentir-me-ia igual, etc. É de mim.
Muito belo passeio. Melancólico? Um pouco, mas quem não tem de vez em quando ataques de melancolia? Só são nefastos se se tornam habituais; de resto são até bem normais entre nós, portugueses.
ResponderEliminarEu costumo ter. Já nem estranho, a menos que sejam sucessivos. Estes últimos dias têm sido complicados. De resto, é habitual em mim.
EliminarSeu malandrão. Nem disseste nada! xD
ResponderEliminarAinda bem que o passeio te revigorou.
Quanto à melancolia, acho que só uma vez ou outra é que senti mesmo vontade de chorar, assim sem razão aparente. Costumo dizer que é o nobre e salutar sentimento fadista. lolol
Abraço, querido Mark!
Hoje foi um daqueles dias em que seria uma péssima companhia. :)
EliminarEu começo a pensar nas pessoas, em eventos, fico triste e choro. Mas sozinho. Ninguém sabe. Geralmente, no meu quarto. Hoje, na rua, coloquei os óculos de sol e pronto. E controlei-me.
um abraço, querido Ine.
passear é muito revigorante. Lisboa é linda e agora que o bom tempo regressou, os dias estão maiores, o céu azul, o sol brilhante, é desfrutar o tempo que reservamos para nós próprios. são importantes os momentos introspectivos, mesmo melancólicos, como referes. desde que não sejam muito frequentes e resvalem em depressão. faz bem chorar, limpa o que trazemos cá dentro, depois respiramos fundo, olhamos em frente, esticamos os ombros e enfrentamos a vida com vigor :)
ResponderEliminarbjs.
Depois de uma 'crise' de choro, vá, fico melhor.
EliminarLisboa é realmente uma cidade muito bonita. Falam da sua luz única na Europa. Não sei se será única, mas que é especial, lá isso é.
um beijinho e obrigado. :)
Mark!! Chore não!
ResponderEliminarVez por outra me acomete uma melancolia dessas, e mesmo estando em dez lugares durante o dia, não estou em nenhum. São Paulo com certeza não possui a beleza de Lisboa, sua megalomania faz a gente se sentir um fantasma por entre tanta gente, um passeio assim pelas ruas da cidade só piora a sensação de vazio.
Espero que voltes a sorrir já! ;-)
Abraço.
Tão querido. :)
EliminarEu tenho um carinho gigante pelo povo brasileiro. Tratam-me tão bem, seja nas redes sociais ou até pessoalmente, na faculdade, em encontros da vida... Felizmente na minha faculdade há estudantes brasileiros que vêm cá fazer um semestre e tenho tido contactos óptimos. Sempre muito atenciosos comigo.
Obrigado pelo carinho. E isto aplica-se ao Ty também.
um abraço.
p.s.: Eu gosto de São Paulo, do pouco que conheço pela net e pela televisão. :D
A chegada da primavera é péssima para depressões. É bom chorar, estar triste mas não te deixes levar porque isso pode acarretar estados nada agradáveis. Força Mark e concentra-te nos aspectos positivos da tua vida. Vais ver que ajuda. :)
ResponderEliminarAbraço, Mark.
Tens razão. :)
EliminarObrigado, Arrakis, e um abraço.
Porque choravas? :/
ResponderEliminarEspero que estejas melhor.
r. obrigado pelo apoio :) lembraste-me Fernando Pessoa
São crises, cíclicas...
EliminarSim, hoje estou melhor. O sol ajuda. :)
Fizeste-me rir. Só de me imaginar no meio daquela panóplia de tecnologia e jovialidade... a estragar-te o texto.
ResponderEliminarDesculpa mas não me contive, tenho que partilhar o que me vai no pensamento.
Olha que eu também não sou chegado aos últimos 'gritos' da tecnologia. Geralmente compro as coisas depois de as ver repetidamente nos outros; em criança, por sua vez, era sempre o primeiro a ter os brinquedos mais modernos.
EliminarNão estragas texto nenhum. Partilha sempre que queiras, ora essa. Quando comento algum blogue, também o faço para escrever o que sinto. De outra forma ficaria quieto.
Deixo-te um grande abraço de amizade :D
ResponderEliminarObrigado, Francisco. Outro. :)
EliminarEntão Mark que se passa? Calma, que tudo se resolve :)
ResponderEliminarNão se passa nada, Namorado. O Markzinho aqui é que é fraquinho de cabeça, embora aparente ser forte e impenetrável. Só isso. De resto, tudo bem. LOL
EliminarFizeste-me ter saudade desse percurso.
ResponderEliminarAleeeeeex *.*
EliminarMiss U so much!!
Agora que o tempo abriu, é óptimo para esses passeios. Só não deixes que essa melancolia se apodere de todo o teu ser. És muito mais do que isso, e muito melhor que isso. Chorar é bom, diz-se que lava a alma. Mas rir é muito melhor!
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