22 de novembro de 2013

Assistente.


      Neste último Verão, foi aprovado o novo regulamento de avaliação. Se a figura das aulas plenárias já existia, embora informalmente, foi repristinada. As aulas práticas mantiveram-se inalteradas - e bem. Não há jurista sem o caso concreto. Diria mais: o que importa é entender e problematizar. Resolver também, como é evidente, mas o universo de novas questões suscitadas é muito aliciante.

    As aulas práticas têm o pendor de exigir uma participação activa dos alunos. O novo regulamente veio atribuir a essa componente um peso significativo. Ora eu não gosto muito de participar. Não por timidez. Não é esse o caso; nunca fui tímido. Não gosto de o fazer porque prefiro estar sossegado. Falo quando acho que devo falar e pouco mais. Até então, analisando os três anos precedentes, a parte oral sempre foi o meu calcanhar de Aquiles. Um por outro assistente referiu isso, não muitos, até porque a parte escrita compensava, e como, modéstia à parte, essa lacuna. Todavia, valoriza-se imenso, demasiado, a meu ver, a oralidade. Falam dos tribunais, da argumentação - e têm razão. Quanto a mim, como não pretendo exercer, não vejo vantagens ou qualquer problema por não me esforçar minimamente em falar e falar. Sento-me na segunda fila, de quatro, a meio, sensivelmente, e por lá fico. Ouço atentamente as resoluções dos casos, emendo quando tenho de corrigir algo, e é este o meu método. Posso dizer, mais das vezes, que as minhas resoluções estão quase sempre certas, não inteiramente, porque sempre falta algo. Nisso eles são terrivelmente chatos. Acaso participasse, sair-me-ia bem, mas não quero porque não quero. É ponto assente.


     Este ano, para minha pouca sorte, dei com um determinado assistente que não me deixa em paz, permitam-me a expressão. Não há aula em que não refira o meu nome. Fá-lo para me fazer perguntas e, quando assim não é, para se meter ostensivamente comigo. Na segunda, disse, em plena aula:

- Mark, está a dormir?

     Todos os colegas olharam para mim, ou quase. Eu não estava 'a dormir'. Pelo contrário, estava atento e a tirar tópicos de correcção do caso. Não gostei e fiz questão de o demonstrar com a expressão facial. Na terça, devido à falta do senhor professor, ficou incumbido de dar a aula teórica. Pois bem, lá sorriu, sarcasticamente, para mim. Virei-lhe a cara. Na quarta, de novo numa aula prática, pediu-me, simpaticamente falando, ou, em linguagem corrente, 'é melhor fazeres ou lixas-te', para resolver um caso prático, o número 7, que é enorme! Em princípio, resolvê-lo-ia como sempre faço. Agora, contudo, tenho essa obrigação. Ah, claro, já me esquecia, para a próxima segunda-feira, na aula, e em voz alta. Basicamente, tenho de me levantar, ir ao quadro, virar-me para a excelsa plateia e começar a falar. Aposto que o fez para me provocar, para testar a minha paciência.

    Eu tenho uma opinião sobre isto: uma vez que ainda não tivemos nenhum elemento escrito de avaliação, graças a este regulamento em vigor, o senhor deve pensar que sou burrinho. Como não abro a boca nas suas aulas, como não tem qualquer dado de cômputo quanto a mim, provavelmente é o que pensa. Entretanto, há mais alunos que nunca participam e ele nada faz. Não me faltava mais nada!

    Já disse à mãe: se tiver de ir a método B, ou seja, o método para quem não consegue nota de avaliação contínua, pois bem, irei. Será a primeira vez, mas não me importo. Quanto à tarefa, nem sei se farei o caso. Vou pensar. Admitindo que o faça, dir-lhe-ei que não. Não quero falar, muito menos porque faz parte de um mero capricho seu, uma birra comigo, qual menino birrento. Para mimado basto eu. Se persistir, deixo de ir à sua disciplina, faço no tal método e pronto. Se tiver de ir a oral de passagem, a primeira, irei também. Não há-de ser mais teimoso.

       Sinceramente? Já não o posso ver.

34 comentários:

  1. Porque não experimentas, mesmo não gostando?
    Coloca de parte o incómodo que o senhor te provoca.
    Considra o desafio do universo na desportiva.

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    1. Porque ele é um chato. Não há aula em que não me mencione. Se gostasse tanto de mim como eu dele... É um parvo, isso sim. Os assistentes mais velhos não se comportam assim.

      Pois, todos encarariam como um desafio, mas eu sou teimoso e impliquei com ele também.

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  2. mark, tudo isso é personalidade? KKK eu também acho que vc deve fazer o exercício. Pensa assim, depois de vc fazer, pode ser que ele deixa vc em paz. Se ele continuar fala pra ele que vc tá se sentindo incomodado. Acho que o diálogo é o melhor entre as pessoas. Falando que a gente se entende :)

    Abraços!

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    1. Pode ser... Falar com ele não me parece bem. Isso seria dar-lhe a entender que o seu procedimento me afecta. Sendo isso o que ele quer, a meu ver...

      Recalcado. LOL

      abraço. :)

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    2. e não afecta? se não o fizesse, este post não tinha razão de ser. ;)
      para teimoso, teimoso e meio, se a oralidade não te faz falta, não o faças e não te aborreças. o pior é que levarás com esse assistente durante o resto do ano... e ele insistir para tu fazeres o exercício e tu o negares e chegares a um momento que só pensas matar o assistente com um curta-unhas... :p
      bjs.

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    3. Afecta, claro, não quero é que ele o saiba. LOL

      O pior são mesmo as 'represálias' na nota. Só por isso estou preocupado.

      É... terei de o aturar até Maio, infelizmente. Há disciplinas onde o mesmo não acontece. Só desejo que ele tire uma licença qualquer de investigação e suma por meses. LOL

      beijinho.

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  3. Alguém está chateado... =P xD
    Calma, Mark. Dorme sobre o assunto e 2.ª feira tudo será clarinho como a água. ^^

    Abraço!

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    1. Ele irrita. (:

      Claro, dormirei como um anjo. Não só sobre o assunto como também sobre o assistente.

      abraço, Inefável. :)

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    2. PESSOAL, o Mark vai dormir sobre o assistente! :o

      LOL, desculpa :x Teve de ser! :x

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    3. LOOOL, lagarto, lagarto, lagarto. :D

      'Sobre' num sentido metafórico, coitado de mim. LOL

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  4. prepara o caso prático daquela maneira que tu sabes, vai ao quadro resolvê-lo, e arrasa com ele. não te prejudicas e dás-lhe uma bofetada de luva branca.

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    1. Já pensei nisso, Miguel. É uma hipótese, contudo, temo que ele pegue em qualquer distracção ou omissão para me rebaixar. Mas, sim, é uma hipótese a considerar.

      Ai, mas o caso é tão grande, buááá. :'O

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  5. UHmmmmmmmmmmmmmmm

    Ainda nasce aí qualquer coisa :)

    Abraço amigo e bom fim de semana ;)

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    1. Não, Francisco, pára de ver romances onde não existem. LOL :)

      abraço, querido, e bom fim de semana para ti também.

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  6. Bem no caso não sei bem o que faria! Isto é um bocado um pau de dois bicos...

    Se fazes o caso e o apresentas ele vai com certeza implicar com qualquer coisa da resolução, se não o fizeres ele vai implicar por não o fazeres!

    Eu acho que no teu caso apresentava-o, mal por mal, parece ser o mal menor!

    Espero que corra tudo bem!

    Grande abraço e muita força;-)

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    1. Sim, será a decisão mais acertada, tal como aconselhou o Miguel e o Alex. Pelo menos faço-o e não lhe dou o gostinho de me 'tramar'.

      Obrigado, Rúben.

      abraço grande. :)

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  7. Eu estou pelo apresentares também. Podes não gostar de falar em público (parece-me ser esse o teu problema), mas isso é uma competência que tens de desenvolver, pois faz sempre falta (seja em direito ou noutro setor qualquer).

    Quando dei aulas, tive uma aluna que faltava sempre às apresentações de trabalhos. Mas ela era burra que nem uma porta, e não aceitava que a quisessemos ajudar. Fizeste-me lembrar esta "personagem", apesar do teu nível de inteligência ser exponêncialmente superior ao dela. E quem sabe se o teu professor não te está só a querer ajudar, apesar de tu não o estares a "aceitar", porque ele te quer obrigar a fazer uma coisa que detestas.

    Ou então, como diz ali o amigo Francisco, ele está é interessado em ti. :D

    Grande Abrço

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    1. Comentando com um colega, ele referiu precisamente isso: de que ele poderá, no fundo, querer ajudar-me. Mas não sei. É tão irónico e sarcástico. Creio que ele é o típico homem que adora implicar, escolhendo as suas ´vítimas'. É um chato e não vou nada com a cara dele.

      Eu não me importo de falar em público. Gosto é de estar no meu cantinho. :) E depois, falar em público exige uma certa responsabilidade. Não sei se levaria grande jeito.

      Ai, não, interessado não está. Nem eu queria; não porque seja desinteressante, é um homem normalíssimo, mas porque não gosto dele. :D

      abraço grande. :)

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  8. Bem, visto isso tudo. Enquadra-se um pouco à minha situação, não a uma, mas a todas as disciplinas, mas infelizmente não posso dar ao luxo de faltar a todas as disciplinas. Mas sim, suck it up, e manter a cabeça firme.
    Claro não iria querer dizer com isto que também tens de engolir em seco e continuar. Não irei ser rude.
    Bem, eu sou daquelas que detesta estar à frente da turma a apresentar, tremo e gaguejo. Sou extremamente tímida. Sento-me sempre atrás. Não participo, at all.
    Ponho-me de cabeça baixa, e anoto tudo o que a professor(a) diz. No entanto recebo boquinhas de vês em quando. Do género "O gato comeu-te a língua ou não estás a tomar atenção?"
    Essa foi uma das boquinhas que foram mais infantis e estúpidas saídas da boca de um professor.
    No entanto, respondi-lhe num tom sarcástico e seco. Dizendo também a resposta. Depressa calou-se, e continuou com a aula, sem me aborrecer outra vez.
    Haverá sempre professores desse género. Mas enfim, todos nós iremos ter de aturar uma personagem desse tipo.
    Num entanto só te digo mais uma coisa, Força :3

    (Segui.)
    "Always be yourself, Unless you can be a unicorn. Then always be a unicorn."

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    1. Olá Nicolette. Bem-vinda ao meu humilde espaço. LOL (:

      Exacto. Eles não respeitam o facto de preferirmos estar sossegados. É a nossa personalidade. Nem todos gostam de participar. Quanto a mim, nem é por timidez. Sou de poucas conversas em público.
      O que se passou comigo foi igual: eu estava atento, mas com o olhar meio 'vidrado', daí ele pensou que estaria distraído ou assim. Um parvalhão! Se soubesse o que penso acerca dele, nunca mais me chatearia. :x

      Vou já visitar o teu espaço. Obrigado pelas palavras. :)

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    2. Ora essa, obrigada pela passagem pelo meu blog e as palavras deixadas lá.
      E verdade, não sei porque tentam sempre fazer com que os alunos passem da sua barreira de segurança. Também sou de poucas palavras, mesmo que aqui na blogosfera, revelo-me mais activa.
      Sobre o olhar 'vidrado' também me encontro muitas vezes assim. Ou então quando, face ao que aconteceu em filosofia no ano passado, o professor se repetia imenso, mas do género, repetir a mesmas coisas todas as lições me deparava comigo a desenhar na mesa.
      Também sou boa a História, mas História das Artes claro, visto que sou aluna de artes xD

      E verdade seja dita, se soubessem o que todos pensariam deles, já nem voltavam a pôr o pé na escola, e mostrar a cara. Acho que entre muitos seria Homicídio e atentados terroristas.

      "Always be yourself, Unless you can be a unicorn. Then always be a unicorn."

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  9. eu tentaria ao máximo fazer o que ele pede sem mostrar o mínimo desagrado, dessa maneira ele vai ficar mal e cada vez mais lixado pois não estás a responder às provocações dele.
    ignora a criatura :)

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    1. Sim, mas se ficar mais lixado eu desisto, muahahah :DD

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  10. Eu concordo com o Alexandre e com o Horatius, acho que se apresentares vais marcar pontos a teu favor e ele vai perceber muito melhor com quem é que está a lidar, talvez mudando de atitude num futuro próximo.

    Abraço Mark.

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    1. Sim, é verdade. Pode funcionar assim, ou pode continuar a chatear-me. :s Em todo o caso, eu fiz o caso (LOL). Veremos se falo ou não. Vou propor-lhe entregar a resolução. Pode ser que veja em casa. :D

      abraço, Arrakis. :)

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  11. É triste e lamentável existirem professores assim. Este recorda-me a minha de geologia (que pesadelo!!!) Também a "desafiei" e acredita que quase me fez a vida negra. Pelo menos, até onde pode. Chegou mesmo a cometer atos ilícitos contra os quais não apresentei queixa, implorando a um dos senhores advogados da ESEV (escrevo o nome da instituição pois quem sabe assim a traste não leia e com a idade tenha ganho discernimento): por causa do seu mestrado, decidiu dividir uma disciplina anual em 2 anos (metade no 2º ano de curso e a outra metade no 3º ano). Na frequência do 2º ano tive negativa, não tendo estudado nada. A minha mãe tinha sido operada e com ela passei todos os momentos. Nas aulas nada se aprendia para além dos sucessivos desafios idênticos aos que relatas. Não me deixou fazer a metade da disciplina com meus colegas! Tudo tive que fazer de novo. Isto para te dizer que, infelizmente, são os trastes imorais e sem consciência das suas funções que "estão por cima". Também era demasiado novo, tal como tu. Também eu não a olhava na cara (trombas!!!) quando fazia expressões ou sorrisos cínicos. Deixas-me uma ideia que se tem vindo a desenvolver em mim: a inspeção é necessária no ensino superior. Afinal, inusitados métodos de ensino continuam (não obstante as obras de idílicas teorias pedagógicas publicadas) e a falta de respeito. Lamento ;(

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    1. Lamento imenso por toda essa situação, Paulo.

      É... há uma ideia generalizada, e errónea, de que no ensino superior tudo corre às mil maravilhas dada a instrução dos docentes. Desenganem-se. Como em todo o lado, há bons e maus profissionais. Este é um daqueles que não presta. Embirrou comigo e não há maneira de me largar. Realmente, já mal posso encarar o homem.

      um abraço.

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  12. e com tudo isto, qual foi a tua decisão final? acabaste por apresentar ou nem por isso? como correu?

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    1. Fiz o caso, como sempre, mas antes da aula começar fui ter com ele e fui claro: disse-lhe que não queria participar oralmente por uma questão de reserva. Dispus-me em dar-lhe o caso para levar e corrigir, assim o quisesse. Aceitou. Ficou com o caso, mas disse-me que seria penalizado devido à falta de participação oral. OK!

      Acredito que não me torne a fazer perguntas. Vamos ver.

      Obrigado pela preocupação, Horatius. Fofinho. :3

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    2. Deixas-te a coisa pelo meio termo. Eu não o teria feito (teria mesmo feito a dita apresentação). Mas somos todos diferentes (e se fossemos iguais, isto não teria piada alguma...

      E cuidado com o "fofinho". O meu namorado é gajo grande e mau... LOL
      (brincadeirinha :)

      Grande Abraço

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    3. Eu não quis deixar de fazer. Aí sim seria integralmente penalizado. Pelo menos ele vê que resolvi e entreguei. Eu sei que não chega e que sofrerei consequências na nota.

      Ahahah, diz ao teu namorado que não vale a pena. Apenas quis elogiar a tua simpatia. :)

      abração.

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  13. acho que eu não me importaria muito, porque apesar do nervosismo inicial sou bom na oratória, mais talvez do que na escrita, sou espontâneo, contudo compreendo o teu receio, ou o teu desgosto por isso, e ninguém te deveria obrigar a tal... mas porque não tentar? Boa sorte! :)

    r: bem verdade, devo-me ficar pelo Porto por enquanto... :)

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  14. Eu acho que o tal Assistente quer é chamar-te a atenção! Amor reprimido? Ciúmes de não ser épico como tu? Quem sabe? Não sei o que fizeste, se foste fazer a tal prova ou não mas no teu lugar, por uma questão de orgulho pessoal e de brio fazia e provava-lhe que és superior a ele... :)

    Beijinhos :3

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    1. Não sei o que pensar. Comentando com colegas, uns dizem que o fez para puxar por mim, outros que implicava, outros nem por isso... Amor reprimido, não. LOL

      Tratava-se de um exercício escrito, um caso prático, para apresentar oralmente. Fiquei incumbido de resolver o caso e de o apresentar. Como disse ao Horatius, propus entregar-lhe a resolução por escrito, deixando ao seu critério corrigi-lo ou não. Aceitou, não sem me avisar de que seria prejudicado na nota final por refutar a apresentação oral. Paciência.

      beijinho. :)

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