10 de setembro de 2013

Momentos.

 
   Na terça-feira passada, achámos por bem ir à praia. Vínhamos falando há algum tempo acerca das férias que o P. passou com a família. Contou-me que costumavam frequentar a praia da Parede, local que o marcou indelevelmente a ponto de não mais ter regressado desde o falecimento do pai. Por algum motivo, decidiu levar-me lá.

    Às nove, apanhámos o comboio que parte do Cais do Sodré e, algumas estações depois, chegámos ao nosso destino. Durante o percurso pelos passeios de alcatrão que nos levariam até ao areal, vimos imensas pessoas idosas, algumas das quais com uma pasta cinzenta que iam aplicando ao longo da pele, especialmente nas articulações. O P. explicou-me, pacientemente, de que se trata de uma espécie de argila terapêutica para os ossos.
   Agradou-me o mar sem rebentação. A maré estava baixa, descobrindo-se rochas e pedras por toda a extensão da praia. Pouco ficámos nas toalhas. Quando dei por nós, estávamos pé ante pé sobre os íngremes pedregulhos, cuidadosamente, não fôssemos cortar a pele (o que acabaria por lhe acontecer). Descobrimos um sulco onde, apoiados em determinadas pedras, podíamos mergulhar. Claro que me aventurei nas mais seguras e pequenas... Ele, evidentemente, atirou-se das mais perigosas, preocupando-me desnecessariamente.
    Não será preciso dizer que, à tarde, ele já tinha imensos cortes nas pernas, nos pés e até no peito! Todavia, à medida em que andávamos sobre as rochas, abria o caminho, dando-me a mão. Talvez por isso tenha saído intacto. 
    Pressenti uma certa melancolia no seu olhar. Provavelmente lembrar-se-ia do pai, das brincadeiras entre ambos. Não toquei no assunto. Consegui distraí-lo. Às tantas brincávamos à entrada da água, atirando algas um contra o outro e rindo. 
    Vi uma colega da faculdade. Não sei se ela terá reprovado porque, de facto, não me recordo da sua figura neste último ano. São tantos os rostos... Cumprimentou-me educadamente, trocando breves palavras sobre o início iminente das aulas. Gostei da sua discrição. Pensei que repararia no P. ou que comentaria algo com a mãe (suponho que fosse). Pelo contrário, agiu naturalmente. Conquistou a minha simpatia.
     Regressámos a meio da tarde.


    Na última sexta-feira, seguindo a sugestão da Margarida, fomos assistir a Sala VIP, de Jorge Silva Melo, no Teatro da Politécnica. Falei-lhe da peça e, curiosamente, ele não estava a par. Ficou incumbido de fazer a marcação (os primeiros dias seriam gratuitos). Assim foi. Hora acordada, vinte em ponto. O P. já havia levantado os bilhetes. Como era cedo, demos uma volta pela zona, conversando, e descemos ao miradouro de Alcântara. Foi um início de noite maravilhoso.
    Quanto à peça em si: o P. não gostou muito; eu gostei. Não querendo entrar em pormenores (não sei se, porventura, alguém assistirá), mas já entrando, é bastante forte e dramática. Aborda a vida de cantores líricos e é passada numa sala de aeroporto que, a julgar pelas cadeiras, às vezes parece a sala de espera de uma clínica. Há homossexualidade, há assassinatos, palavrões e até nudez (de um dos actores - o que não é raro em teatro). É desconcertante e muito pouco óbvia. Tem momentos em que dá para rir, incluindo cenas simuladas de sexo que, enfim, só visto! Eu aconselho.
     Está em exibição no Teatro da Politécnica, como referi acima, até dia 19 de Outubro, nos dias úteis.


    Para hoje, marcámos mais um piquenique (muito gosta de piqueniques...). Desta feita, no Parque da Bela Vista, ou seja, uma zona agradabilíssima da cidade (não!). Não que seja desagradável; os orientes não me seduzem.
    O P. levou uma das suas saladas mirabolantes com todos aqueles ingredientes que ele gosta de misturar. Da minha parte, levei dois pequenos hambúrgueres de peru com salada de alface e tomate. Almoçámos num simpático (embora desértico) parque de merendas. À tarde, ainda tive de jogar badminton com ele... Meteu na cabeça que tenho de jogar àquela coisa! Não adianta expor os meus argumentos de que prefiro exercitar o cérebro... não. Naturalmente, não corri (nem ele quereria). Aliás, se me ouve arfar, fica aflito. Pouco jogámos. Minutos depois, sentámo-nos sobre a relva, descansando à sombra de uma árvore. Apoiei a minha cabeça no seu ombro.
   Terminámos o dia no parque de diversões das crianças. LOL Estava vazio. Ele, numa teia gigante que dava acesso a dois escorregas de metal, igualmente enormes e medonhos; eu, no baloiço de pneus. :) Ainda me desafiou para que me enfiasse naquela teia horrorosa, assegurando-me de que estaria atrás de mim a amparar-me, mas nem assim! Nunca gostei de parques. Em criança, tinha imenso medo. Uma vez, com oito anos, desci num escorrega e bati com as nádegas no chão. Tanto insistiu que acabei por entrar num escorrega amarelo, o menor de todos. Isto é tão patético! LOL Lá regressei ao meu baloiço de pneus enquanto ele subia e descia a teia. Parecíamos dois miúdos de dez anos.
    Enquanto o via, destemido, trauteei a música Always Be My Baby.

    Dizem que o encanto está nos pequenos momentos. Corroboro.

29 comentários:

  1. Raios... o verão está a acabar.

    ;)

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  2. owwwn eu derreto-me com isto, a sério que sim!
    FELICIDADES!

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  3. Hm...
    Este Mark está que está! lolol :D

    :)

    Abraço!

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  4. Creio que a Paria se chame a "Praia das Avencas" :)

    Fui lá algumas vezes, mas não gosto muito devido ao excesso número de rochas :)

    O Amor anda ou está no ar :D

    Abraço amigo

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    1. Não. :) Cada vez é mais amizade mesmo. Hoje não houve nem um momento mais íntimo, chamemos-lhe assim. Foi só brincadeira.

      Hum, sim, creio que ele referiu esse nome, 'Avencas', mas não posso assegurar. Se é a que tem imensas rochas, é essa mesmo.

      abraço, Francisco. :)

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    2. Concordo contigo companheiro.

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  5. Não deixes que o amor fuja ou se transforme somente em amizade. Não que seja mau, bem pelo contrário.
    Levar-te junto à "presença" do pai tem muito significado. Seguramente, em ti confia e pretende partilhar pedaços seus. No teu lugar, retomaria esse momento de silêncio (que muitas vezes é a melhor ajuda) e perguntaria se não quer retornar ao dia em que estiveram naquela praia, libertando os seus sentires não verbalizados sobre o pai. Ele dá-te a mão nos momentos de fragilidade física. Talvez este seja um momento de lhe dares a tua... Claro que tudo isto pode não fazer sentido dado não conhecer o P.

    Deviam saber que os beijinhos, nos arranhões, ajudam como forma de antissepsia :p

    Abraço

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    1. Paulo, obrigado pela opinião. Eu creio que é amor que se manifesta sob a forma de amizade. Amizade não deixa de ser amor.

      Sem dúvida que me levou àquela praia porque sentiu em mim a confiança necessária para regressar. Verbalizar o que sente é mais difícil. Não que o perturbe falar no pai (ele lida bem com a morte), mas são assuntos em que nem eu estaria à vontade para tocar. A atitude de me levar lá já simbolizou muito e acredito que o tenha ajudado a exorcizar velhos 'fantasmas'.

      abraço. :)

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    2. Calma Paulo... o rapaz tem que dar tempo ao tempo.

      ;-)

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  6. Gostei do comentário do Paulo.
    Nem deves avançar demais, mas também não deves temer uma evolução.
    Quanto à peça vou ver de certeza, só não sei quando...

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  7. Olha, adorava ter um namorado aventureiro como o teu.

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    1. Essa frase traz implícita a afirmação de que somos namorados, seu maroto! :)

      Acredita, não é nada confortável veres alguém a atirar-se de um pedregulho, sabendo que estão outros tantos, perigosos, em baixo. :D

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  8. a tua última frase diz algo que eu sempre acreditei. os pequenos momentos e supostamente insignificantes (porque nem sempre ficam na memória) são os mais importantes, esses momentos é que causam a felicidade real e que nós fazem querer ir ter momentos mais marcantes mas não esses momentos que nos fazem felizes.

    gosto de ver a preocupação dele no teu bem estar, é muito fofo. é engraçado ver as diferenças entre vocês os dois, eu sou claramente como ele, aventura, adrenalina, desporto, tu já não és tão assim mas ele ainda consegue puxar-te para algumas coisas mas sempre protegendo-te. quer dar-te confiança.

    quanto ao caso do pai, já tudo o que era necessário dizer foi falado aqui por outros comentários.

    abraço :)

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    1. Sim, embora acredite que fiquem na minha memória. :) A felicidade é uma utopia; há momentos felizes e, consoante forem mais ou menos, podemos considerar-nos felizes. :)

      Somos bastante diferentes. Ele é despreocupado (até no look). Arranja-se, mas não é tão meticuloso. Eu sou bem mais. É... gosta de aventura e risco; eu sou cauteloso. Sou muito medricas. :D

      abraço. :)

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  9. mas quem é que tinha arranhões, ele, tu, os dois? :)
    achei este texto um pouco melancólico. será por ser fim do verão? estás a viver uma bela história de amor/amizade. espero que se mantenha, é bonita.
    bjs.

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    1. Ele! :) Relendo, vejo que não ficou claro no texto. Vou emendar. Felizmente, saí sem qualquer arranhão.

      Não estava especialmente melancólico, ontem, quando o escrevi. Até tentei dar uma certa alegria com a descrição dos momentos no parque (em contraste com o dia na praia, o pai...).

      Obrigado, Margarida. :)

      beijinho.

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  10. r: às vezes é difícil, muito.

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  11. Oh sim! São dos pequenos momentos especiais que sobrevive o espírito! (esta saiu-me bem!lol)

    Eu acredito profundamente nisto! Alias houve uma vez que tive de defender isto em filosofia numa espécie de debate!

    E tal como o Aaron também acho que é muito bonito ver a forma como ele se preocupa contigo!

    Abraço

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    1. Estiveste bem. :D

      Acredito nos pequenos momentos especiais, porque quem andar à procura da felicidade aqui, na Terra, decerto ficará decepcionado...

      Ele tem um lado protector acentuado.

      abraço. :)

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  12. Loves begins to sparkle :)
    Já foi tudo dito. Fico contente por vocês.
    Abraço para os dois. :)

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  13. É bom que esta história continue assim :)
    Abraço e muitas felicidades para o que ainda aí vem XD

    E deixo-te uma música de Lou Reed
    http://www.youtube.com/watch?v=LXewh-uWaWc

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    1. Obrigado, Sad. :)

      abraço. :)

      p.s.: Oh, uma musiquinha, tão querido! Vou ouvir com toda a atenção!

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