madrugada. passos soltos de gente que saiu
com destino certo e sem destino aos tombos.
no meu quarto cai o som depois
a luz. ninguém sabe o que vai
por esse mundo. que dia é hoje?
soa o sino sólido as horas. os pombos
alisam as penas. no meu quarto cai o pó.
um cano rebentou junto ao passeio.
um pombo morto foi na enxurrada
junto com as folhas de um jornal já lido.
impera o declive
um cano foi-se abaixo
portas duplas fecham
no ovo do sono a nossa gema.
sirenes e buzinas. ainda ninguém via satélite
sabe ao certo o que aconteceu. estragou-se o alarme
da joalharia. os lençóis na corda
abanam os prédios. pombos debicam
o azul dos azulejos. assoma à janela
quem acordou. o alarme não pára o sangue
desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o vídeo
não gravou
e duma varanda o pingo cai
de um vaso salpicando o fato do bancário.
Luiza Neto Jorge, in Poesia, Assírio & Alvim
Gostei :)
ResponderEliminarAbraço
bonito esse texto rapaz !
ResponderEliminar... de uma excelsa poetisa, infelizmente caída no esquecimento fora dos círculos literários. "Desencantei" este seu livro na biblioteca do avô. :)
ResponderEliminarAdoro poesia.
ResponderEliminarE de Luiza Neto também já li uns quantos poemas.
Excelente esta escolha.
Tem muito a ver com o que conheço do Mark.
Abraço com carinho :3
Grande poetisa, adoro-a e este poema é brutal!
ResponderEliminarAbraço Mark :)
Também adorei, sobretudo, sendo do vosso agrado também. :')
ResponderEliminarabraços :3
desencantaste muito bem.
ResponderEliminargosto muito. as palavras certas, é de um realismo brutal. à noite, no escuro, oiço tantas coisas e divago ainda mais, mas só ela encontrou as palavras que eu queria escrever e nunca consigo.
bjs.
Não tenho alma de poeta, não infelizmente, porque todos temos capacidades. :)
ResponderEliminarbjo.
É muito bom que tenhas trazido poesia a este teu canto, e poesia de alguém quase ignorado.
ResponderEliminarLuíza Neto Jorge bem merecia esta homenagem.
"A exaltação do mínimo,
ResponderEliminare o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim."
Permite-me o prazer de te oferecer um ramo de magnólias, junto com este poema, desta grande senhora e poetisa! :3
Hughie :*
Obrigado, João. :')
ResponderEliminarHórus: Owwwn, sem palavras. Quanta gentileza e ternura. És um cavalheiro.
hughie :33333333 (...)