18 de junho de 2012

A Babilónia das gentes.


 Ontem, a partir de determinada hora, era difícil andar pela cidade sem ouvir buzinadelas de carros, apitos e demais manifestações efusivas de júbilo. A população saiu às ruas e fez a festa.
 Às vezes ponho-me a pensar em assuntos que não devem suscitar muita curiosidade por aí além, mas que me deixam sempre intrigado. O sucesso do futebol é um deles, mais concretamente destas ligas de países que competem entre si por um título.

 Séculos atrás e o patriotismo via-se noutras atitudes: na diplomacia no âmbito das relações internacionais e, sobretudo, nas guerras medievais e modernas, onde a massa das populações era toda direccionada na luta contra o inimigo. E saíam os cavaleiros e as gentes, lutando como podiam e com as armas que lhes estavam disponíveis. Quando nada mais tinham, eis que saía uma padeira qualquer, que com a sua pá do forno empacotava uma boa meia-dúzia de castelhanos. Mito ou verdade, é elucidativo.
 Depois comemoravam de armas nas mãos, ainda ensanguentadas, mal esperando os terríveis impostos que aí viriam para a reconstrução do país.

 As competições desportivas adaptaram o patriotismo aos dias actuais. Também agora se sofre, também agora se ama, também agora se vibra. E, de dois em dois anos, de quatro em quatro anos, o povo lembra-se de que é português - e bem. Arrebita os cachecóis, levanta as bandeiras, aviva a voz e grita, tentando olvidar-se dos problemas que o afectam, da mágoa dos tempos vindouros.
 Há séculos, as festas religiosas - meio pagãs - davam ao povo a alegria de uns dias, entre as lutas e as guerras. O descanso merecido, o restabelecimento das forças. Hoje, o futebol inebria, e fá-lo de tal forma que durante um mês nada mais se sabe, nada mais se ouve, pudesse cair o mundo.
 Que haja alegria!

16 comentários:

  1. que haja alegria, terminas. o futebol, como o carnaval, mascara as tristezas, é uma droga, mas que movimenta milhões, o bairrismo dos clubes transforma-se em patriotismo quando é a nossa selecção que joga, quando é o nosso hino que toca [emociono-me sempre quando o oiço, independentemente do desporto - agora nem temos a naide gomes em londres :(]
    (ontem ao fazer o pão, lembrei-me da tua padeira, ;))
    bjs.

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  2. Margarida, é verdade. Não deixamos de ficar felizes com a vitória da selecção. Já que lá estão tantas selecções, que ganhe aquela que mais nos diz. :)

    Nem me fales do teu pão, que me deu água na boca. :D

    beijinho :*

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  3. Eu não lhe chamo patriotismo, mas sim necessidade de afirmação...

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  4. Exacto, João, a minha opinião não poderia estar mais de acordo com a tua. Acho abusivo tanta comemoração e tanta necessidade de afirmação. Ficarmos felizes com a vitória de Portugal todos ficámos (acho); estes patriotismos de cachecol ao peito é que eram, de todo, evitáveis.

    abraço :3

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  5. Boa dissertação. Aqui é igual: todo mundo é patriota quando a seleção joga na Copa do Mundo. Resto do ano ninguém quer saber. Sempre é assim.
    Fiquei sabendo dos resultados de Portugal nessa Eurocopa. Parabéns e abraço!

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  6. Ty, é o patriotismo do século XXI. :S

    Em nome de Portugal, agradeço. :D

    abraço :3

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  7. Poder do futebol, o novo ópio do povo

    Abraço amigo

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  8. Nem Karl Marx diria melhor. :D


    abraço, Francisco :3

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  9. Que é o mesmo que dizer (sem os teus floreados e filosofias, lindos atenção!) que podem passar fominha de rabo em casa mas desde que Portugal ganhe, tá-se bem!!!

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  10. LOL, Anónimo. Infelizmente, é verdade...

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  11. Divirjo de todos! :P saudavelmente, claro ;)

    Porque precisamos de comemorar fora de casa os grandes eventos? A euforia de um campeonato de futebol, os santos populares, o ano novo, o nosso aniversário...? Porque estamos juntos! Porque comemorar fora de casa significa comemorar colectivamente. Porque instintivamente somos impelidos ao Outro, somos impelidos à comunhão. E não o fazemos sequer conscientemente, mas porque está inscrito na nossa consituição como seres humanos, que só somos com o Outro!


    Saímos de casa porque a noção de pertença e de partilha estão intimamente ligadas, convocando do fundo de nós a saudável abertura de um abraço a um desconhecido, do canto em uníssono onde as pessoas natural e espontaneamente são, como um único coração na praça grande que são as ruas e a vida. A alegria e o sentimento de felicidade nasce aqui, não de momentos hilariantes ou comédias, não de ter saído o totoloto, mas do simples, do SIMPLES gesto de partilhar...

    IMHO

    Nalguns casos, Mark, pode simplesmente ser a catarse de problemas pessoais... mas porque não?

    Abraço sempre amigo :):)

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  12. Daniel, tens sempre maravilhosos argumentos que me deixam a reflectir. Isso é óptimo! :)
    De facto, somos seres sociáveis. Necessitamos uns dos outros e não conseguimos viver isolados.
    O partilhar a alegria nas ruas, num único coração, não deixa de ser mau; o problema é que essa união só existe nos campeonatos desportivos. Deveria existir essa coesão nacional na luta contra verdadeiros flagelos, tais como a homofobia, o abandono de idosos, a violência sobre as mulheres, a delinquência juvenil (e não só), etc. Aí sim, gostaria de ouvir todo um povo numa só voz. :) Agora nestes "torneios"? Bah, tanto me faz. Mas entendi absolutamente o teu ponto de vista. :)

    abraço amigo :3

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  13. Bom, o ser humano gosta de diversão,sempre foi assim, como você descreveu. Mas é fato que o esporte, assim como outras formas de entretenimento são usados 1º para ganhar dinheiro,2º pra ocupar as mentes alienadas para não se preocuparem com coisas mais importantes e urgentes. O Brasil é um bom exemplo disso. Estão gastando rios de dinheiro com a Copa E Olimpíadas, pra no final, meia de dúzia de pessoas lucrarem com o dinheiro público investido. O Povo reclama,mas quando esses eventos começarem, o povo vai se divertir,pular e festejar, ou seja, esquecer de coisas mais importantes, pra no final, os lucros ficarem pra alguns e o prejuízos pra todos. Bom, deve ser por isso que se convencionou chamar o povo de "massa". É pra ser moldado mesmo.

    Abraços do Brasil!

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  14. Citizen: Aí, tal como aqui, as semelhanças são tantas. É exactamente igual neste lado do Atlântico. O Euro 2004 não foi assim há tanto tempo... :/

    abraços de Portugal :3

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  15. Mark, mas olha que até há essa convergeência sem ser em futebol ou santos populores. Nao sei que idade tinhas mas "lembras-te" da união nacional em favor de TImor e que ajudou indirectamente a que mais tarde tudo se desmoronasse a partir de Jacarta e Australia?

    Mas é claro que as pessoas para estarem assim unidas precisam de sentir o que fazem, 8caso dos futebois e arraiaias, fins de ano, etc., e nao o fazem no caso da homofobia e afins por ainda haver um desconhecimento da verdadeira natuereza da coisa, e ainda por cima, quando ha arraiaias gay e paradas de orgulho gay etc., o que aparecem são seres estranhissimos que ainda mais confundem as pessoas e as levam a manter-se quietas no seu canto sem tomar partido...

    Importante mesmo é teres percebeido o meu ponto de vista :)

    Hugs :):):)

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  16. Daniel, sim, vagamente, mas lembro-me da união nacional em torno da causa timorense. Linda e bem sucedida. :)

    Ahahahah, eu concordo que os arraiais possam prejudicar um pouco a imagem da homossexualidade no panorama geral, mas, sabes, eu acho que quem confunde um homossexual com um travesti, nessas marchas, não nos deveria merecer qualquer consideração. Se eles confundem, são eles que estão errados, não somos nós.
    Os arraiais não me fazem qualquer confusão: não participo, todavia, reconheço o direito dos travestis, por exemplo. Há lugar para todos neste mundo. Se há pessoas baralhadas, "desbaralhem-se". xD Não nos devemos tornar intolerantes, cedendo à ignorância. :) Mas, mais uma vez, percebi-te completamente. E agora também. :)

    Hugs! :)))

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