21 de novembro de 2011

Decline.


As luzes de Natal brilham sobre os corpos em movimento, esbatidas num todo pela iluminação geral. 
Vão e vêm com sacos de compras; alguns sem nada nas mãos. Nos corredores da ampla superfície comercial, vidas agitam-se indiferentemente à passagem do tempo ou à contenção esperada. Queimam-se os últimos cartuchos de uma época com menos brilho e fulgor.
Sigo lado a lado com a prima. Jurei que não iria comprar nada de que não necessitasse. Não cumpri. Olhando para o estojo, de manhã enquanto estudava, vi que a caneta verde brilhante não escrevia mais, bem como o azul claro. As cores, nos cadernos, dão vida a matérias densas e elaboradas, suavizando o que de si carece de algo mais pessoal. Sempre gostei de escrever com cores discretas, contudo coloridas o suficiente. Não sinto o estigma que o peso da responsabilidade e da postura assim o exigem. A quantidade e a diversidade dos materiais expostos alicia a mente dos mais consumistas. Comprei duas canetas.

Caminhando por entre as lojas, a vontade de entrar e comprar tornou-se mais real. A música ambiente, leve, não era o suficiente para conter algum incómodo e desconforto que sentia. Entrei em bem mais do que uma loja e experimentei peças e peças de roupa. Comprar sem precisar, não é de todo bonito, mas consola. Há quem coma para esquecer; depois, há quem utilize outros artifícios bem menos calóricos...

Terminei o dia com mais sacos do que aqueles que pretendia e com mais roupa do que precisava. Precisaria de alguma, realmente? O peso nas mãos tornou-se insustentável, mesmo compartilhando com a prima a quantidade de sacos que me pertenciam. Estando sem o casaco vestido, conseguia sentir um calor no corpo, tomando-me de uma vontade inexplicável de chegar a casa, arrumar toda a tralha fútil, relaxar com um banho tépido e dormir.

Já em casa, olhei para tudo o que acabara de comprar e apercebi-me do quão vagos podem ser os nossos anseios e até mesmo os desejos. Afinal, um pouco de nada sobrepõe-se ao nada já existente e nem todos os nadas conseguirão fazer um muito. Espera... Talvez o consigam fazer, mas essas construções não são sólidas e quando perderem o que as sustem, o estrondo poderá ser audível a longa distância.


10 comentários:

  1. Como decerto imaginas, é nestas questões, como o consumismo, por exemplo, que mais divirjo de ti.
    Considero-o, e se for como confessas (adoro em ti o facto de não passares ao lado das questões), um consumismo supérfluo, mesmo algo ofensivo para quem tanto precisa de coisas básicas e não as pode alcançar.
    Mas, isso é uma questão muito subjectiva, eu sei...
    Abraço.

    ResponderEliminar
  2. Mais das vezes, o meu consumismo (que já foi bem pior) é uma forma, como disse no texto, de me esquecer de algumas situações pendentes. Trata-se também de um hábito adquirido na infância. No verão, por acaso, nem comprei nada de especial. Interrompi o "consumismo".

    Abraço, my dear. ^^

    ResponderEliminar
  3. ...Mas os objectos não preenchem nada. Chegas a casa com uma mão cheia de sacos... e o resto? Já me tem acontecido comprar algo que gosto muito. Depois, quando chego a casa, na verdade nada mudou... Nós é que temos de mudar essas «faltas». Não, não é moral da minha parte. É mais uma divagação... :)

    Um abraço!

    ResponderEliminar
  4. E divagaste muito bem. Tens razão em tudo o que escreveste. ^^

    abraço.

    ResponderEliminar
  5. Eu, quando me quero distrair daquilo que não quero me lembrar, como. É quase como se fizesse amor com a comida. Eu deleito-me mesmo.

    Também já fui mais consumidor do que sou agora, mas era por cds e roupa. Houve uma vez que gastei 300 euros em roupa. Pode parecer pouco para ti, mas cheguei a casa e havia peças de roupa que poderiam mesmo ter ficado era na loja. (que raio de português que me saiu).

    ResponderEliminar
  6. Por acaso, nunca me deu para comer. Talvez porque quando quero espairecer acabo por entrar em lojas e, inerentemente, compro artigos. :/

    Sim, esse dinheiro em roupa já é uma quantia considerável, sobretudo quando nos acontece, como tu disseste, comprar roupas de que nem gostamos muito...

    ResponderEliminar
  7. ai ai Mark, seu consumista. Tens de aprender a controlar esses impulsos. Assim não arranjas marido ;)

    ResponderEliminar
  8. LOL :D
    Já fui bastante mais... :)

    ResponderEliminar
  9. Como entendo esse lado "consumista". Bem sei que o trocarias... Mas estás a combatê-lo e isso é o que importa.
    Be strong, Mark.

    ResponderEliminar
  10. Bem, eu jamais curaria uma neura ou faria shoppingterapia. Detesto ir às compras, e mesmo quando vou com o P tento sempre que ele se despache.

    ResponderEliminar