10 de janeiro de 2011

Reflexão Sobre Nós


Na sexta-feira passada tive um exame na faculdade. Mais um, dos três exames que ainda terei pela frente. O R. fez o exame ao meu lado no anfiteatro. Quando eu cheguei à faculdade, dirigi-me para a sala de estudo. Ao vê-lo sozinho, decidi sentar-me na sua mesa. Estudámos uma meia hora juntos. Ele continua simpático, afável, eu diria mesmo que senti um prazer visível no seu rosto por estar comigo novamente. Quando chegou a hora do exame, entrámos ao mesmo tempo e ficámos lado a lado. Eu fiz o exame em cerca de hora e meia; ele utilizou todo o tempo. Senti, todavia, que devia esperar pela sua saída e assim o foi. No final, quando ele acabou e abandonou o anfiteatro, convidei-o para almoçar comigo no Saldanha. Ele aceitou. Foi uma forma de o compensar pelo presente de Natal que não lhe ofereci.
No caminho para o Saldanha, no metro, senti que estava mais extrovertido. A sua forma física continua a mexer comigo. Adoro aquela altura, aquele corpo magro e esguio, apesar de ter formas e ser possante. Adoro os seus ténis desbotados e os seus jeans usados. Adoro a t-shirt lavada milhentas vezes e poucas foram as que o vi com outra. Adoro o cabelo curto, embora rebelde. Adoro aquele ar cool, «'tá-se bem», que todas as suas atitudes revelam. Por fim, adoro a sua masculinidade. Nunca vi um bi (gay?) tão, tão... homem. Tenho dificuldade em vê-lo como gay, porque ele tem tudo menos a imagem estereotipada de um gay. Durante o almoço, tentei pela primeira vez achar-lhe um jeito, algo que o denunciasse quanto à sua possível orientação homossexual. Ao fim de poucos minutos desisti. Ou ele controla tudo muito bem, ou então é mesmo assim. Apenas o sorriso revela alguma delicadeza. Apenas o sorriso...
Ele continua o mesmo cavalheiro. Tem coisas que me levam a adorá-lo. Trata-me como se eu fosse uma miúda, uma namorada que estima e protege. Ele abriu-me a porta do restaurante e deu-me passagem! Não era suposto fazê-lo. Tenho a certeza de que não foi educado assim e, vejamos, eu sou um rapaz! Porém, ele sabe que eu gosto, ele sabe que eu sou de um outro meio, ele sabe cativar a minha atenção... Muitos dirão que eu tenho uma enorme sorte em tê-lo como amigo e sinto o peso dessa sua presença na minha vida.
Mas nem tudo é tão idílico quanto parece. Há diferenças irreconciliáveis. Eu não me imagino num festival de Verão, sentado na relva, a fumar um cigarro, ou erva, ou lá o que é: ele fá-lo; eu não me vejo numa taberna, em Junho, a beber uma cerveja e comer uma sardinha no pão junto àquela gente toda: ele fá-lo; eu não cogito estar num campo de futebol a jogar uma partidinha com amigos e a suar aos píncaros: ele fá-lo. Entre várias situações. É que são mundos opostos e formas de estar que em nada estão relacionadas. Ele tem uma visão do mundo idealista. Tudo é possível, na sua concepção. Mas não o é e, no fundo, ele sabe. Quando ele começa a falar da terra "x", do lugar "y", da situação "z", eu sinto que não sei nada da vida, que nada conheço para além do meu mundo cor-de-rosa. A realidade das pessoas, triste e dura, escapa-me aos sentidos. Eu não tenho culpa, nem ele. Ele diz que eu vivo no cristal (expressão sua) e acredito que o mundo é bom porque para mim efectivamente o é. Eu desminto-o. Digo que sei o que é a vida, mas querem saber a verdade?: não o sei. Se me colocarem numa situação imprevista, a minha primeira atitude é chorar e ligar à mãe a pedir socorro. Ahahahahahah. Lembro-me de uma situação, aqui há uns anos, em que eu e umas amigas ficámos perdidos nos arredores de Lisboa. Todos berrávamos, mas eu berrava mais alto do que elas. Também era muito teen, mas qualquer rapaz vulgar desenrascar-se-ia. Ligámos aos papás em socorro. Ele percebe isso, no entanto, não me recrimina. Acho que é isso que o seduz. Sinceramente, ele quer ser dominante, quer mandar, quer quase tomar conta de mim. É o que sinto. Acha-me uma pessoa mimada e imatura. Disse-me, no almoço, esta frase, que memorizei porque quase que embateu em mim de tão forte:
-"Escreves bem, falas bem e és muito inteligente que eu sei, mas não sabes o que é a vida. És um menino da mamã e dos avós e dos tios e do papá, crescido."
E riu-se.
A minha cara? De espanto. Senti que me leu a alma. Senti-me nu e corei, logo eu, que de tímido não tenho  nada e não me recordo da última vez que corei.
Não sei o que fazer em relação a nós, mas tenho a ideia de que ele quer o meu bem e de que gosta qualquer coisa de mim. Preferia que ele me afastasse, dissesse que não queria falar mais comigo, até mesmo que me odiasse, mas ele não o faz. Prende-me e eu não quero, ou quero, sei lá...
Eu quero, mas não o quero assim.
Tenho de aprender a aceitar as coisas como elas são. E ele é assim.

10 comentários:

  1. Na física é assim, os opostos atraem-se e tornam-se em algo diferente, mudam os dois.

    Quem sabe se não é isso mesmo que precisas, de alguém que te espevite e te torne mais maduro e não tão dependente da mamã.

    Carpe Diem

    ResponderEliminar
  2. O teu R. conhece-te bem, e gosta de ti, estou certo.
    Só uma pessoa que gosta de outra convive com ela com tão grandes diferenças entre eles; e olha que o diferente és tu, e sabes disso.
    Eu admiro-te muito, a tua frontalidade a tua inteligência, tudo isso, mas ele tem toda a razão quando diz que tu não sabes o que é a vida.
    Tu nunca tiveste uma contrariedade, um problema grande a resolver e quando a vida te puser questões que "só" tu podes resolver, não podes chamar pela tua Mãe.
    Pertences a um mundo diferente, mas olha que o mundo REAL é o dele.
    E tens que te habituar à ideia de que terás que conviver cada vez mais com esse mundo, pois esse é o MUNDO!
    Eu admiro muito o R. e adoraria que as razões irreconciliáveis que apontas se pudessem diluir e vocês se pudessem entender no plano sentimental.
    Afinal, amar é ceder mutuamente...

    ResponderEliminar
  3. tens de ver se queres mesmo ficar com ele e mudar a tua forma de ser ou se queres manter-te igual a ti mesmo. e não concordo que sejas "diferente". tiveste foi uma educação diferente o que não é necessariamente uma coisa má. se não conheces a vida real? opa excelente para ti. aproveita e mais nada lol.
    abc.

    ResponderEliminar
  4. confesso: É raro eu ler textos longos na Internet. Mas os teus textos são dos poucos que leio de uma ponta à outra.

    Adoro essa dicotomia entre vocês. Um pouco como a dama e o vagabundo. Mas o certo é que até os cães aprenderam a adaptar-se. Vocês também o poderiam fazer. Mas claro... se ele fosse gay... que ainda estamos por descobrir :)

    Ah, e pago para ires a um festival de verão. Adorava ver-te sentado na relva, a empurrar gentalha com a cerveja na mão ou mesmo ires a uma daquelas casas-de-banho públicas. Não refiles: eu também não gosto. Mas não evito :)

    ResponderEliminar
  5. Uau, ele tocou mesmo no ponto.
    Eu acho que vocês completam-se, ele é o que nunca serás, e vice-versa. E é por isso que gostam um do outro, há uma certa curiosidade pelo outro.

    Veremos no que isso resulta.

    ResponderEliminar
  6. Eu: Sim, talvez ele seja aquilo de que necessito para "espevitar" um pouco. :)

    Pinguim: Eu sei que pertenço a um mundo meio distante da maior parte das pessoas, mas não me sinto assim tãooooo diferente... Serei "diferente", eventualmente, porque Portugal é muito medíocre e banal. Convivo com todas as pessoas, porém, há certas coisas que prefiro não saber, não experimentar. Gosto da minha "saudável" diferença. :) E vejamos, ainda há pessoas menos vulgares em Portugal, não sou apenas eu. :)

    Tomás: Sim, exacto, é uma questão meramente educacional. E eu próprio recuso vulgarizar-me. Não quero ser como todos, gosto de ser assim. :) Traz-me é alguns pequenos problemas, como por exemplo, eu nunca vim a cambalear meio alcoolizado pela rua. Lol Ele disse-me que já o fez. :)

    Speedy: Muito obrigado por seres um meu leitor tão dedicado. :) Sabes que também te acompanho fielmente. Adoro o teu espaço. :)
    Eu? No meio daquelas confusões? LOL Era engraçado tirar o perfume da mochila e ajeitar a minha franjinha do cabelo absolutamente fantástica à frente daquela populaça. :)

    Eric: Acho que disseste tudo: é uma enorme curiosidade, embora mais da parte dele. Claro que gostava de cometer uma loucura com ele. :)


    lots of love para todos ^^

    ResponderEliminar
  7. Pelo que notei tu está apaixonado...
    Se realmente ele te encanta, espera a hora certa, e tente algo, quem sabe ambos se encantem e role algo bacana entre voces....
    Forte abraço

    ResponderEliminar
  8. Ro Fers: Obrigado pelo conselho. :)
    Talvez esteja "in love", mas nem eu sei.

    lots of love ^^

    ResponderEliminar
  9. Acho-te piada porque a todo o momento estás sempre a apontar as vossas diferenças como irreconciliáveis, mas aos mesmo tempo admites que gostas da diferença e do efeito que ele provoca em ti.
    Os opostos atraem-se mesmo, pessoas inteligentes como tu sentem-se atraídas por pessoas que lhe podem despertar interesse, que têm alguma coisa para ensinar. E tu tens imenso a aprender com ele. Talvez não num festival, no meio da poeira e do suor, mas no início o meu P também não achava muita graça a ir acampar. Ainda hoje, ele não gosta muito disso, mas sei que está disposto a fazê-lo se eu lhe pedir. Como eu tenho todo o gosto em acompanha-lo a concertos de música que nem ligo muito, mas só para poder ver o ar feliz dele (já agora, gostava que ele fizesse o mesmo por mim... ;-)

    ResponderEliminar
  10. Coelhinho, vocês devem ser um casal espectacular. :) A forma doce como dizes "o meu P" coloca-me um sorriso no rosto. Que querido. :)
    Eu acho que não é tanto o facto do R. ser diferente que mexe comigo. No fundo, no fundo, ele... excita-me! Lol O cheiro da sua pele e aquele ar másculo deixam-me rendido. Apetece-me que me agarre e me tome ali no chão! Ahahahahahahahah. :P

    lots of love ^^

    ResponderEliminar