Viver numa grande cidade tem inúmeras vantagens, pese embora o facto de ter imensos inconvenientes. Fala-se muito da poluição, do trânsito, da violência, mas há situações insólitas que, ao mesmo tempo, não deixam de ser perigosas. Lisboa já não é a cidade pacata de meados do século XX.
Ontem, ao falar com uma colega da faculdade, apercebi-me que estava triste, preocupada e cabisbaixa. Consegui que me contasse o que a preocupava. Então, disse-me que no dia anterior tinha ido jantar com umas amigas conterrâneas que, tal como ela, tinham vindo estudar para a capital. Como o jantar acabou tarde, apanhou um táxi que não a deixou bem à porta de casa. Fez o restante percurso a pé. Ao entrar numa rua escura, reparou que um carro seguia ao seu lado de forma lenta. O carro abrandou e alguém abriu o vidro da janela. Era um homem de meia idade. Ela, inexperiente, parou. O homem, então, perguntou-lhe: «quanto é que levas?». Apercebendo-se da situação, ela começou a correr, aflita, até chegar à porta do prédio. Ao cair na cama, chorou durante muito tempo porque pensou que o tinha provocado por andar com uma saia mais curta.
Fiquei perplexo, não com a situação em si, mas sim com o estado em que ela estava. Estava com medo de que o homem a começasse a perseguir e que lhe fizesse mal. Perguntei-lhe em que zona tinha arranjado casa. Intendente, foi a resposta. Tive de lhe explicar que, embora vivam pessoas de bem e honestas em tal lugar, é uma zona associada à prostituição, proxenetismo e consumo de estupefacientes. Ela não sabia. A falta de informação que dão aos estudantes é gritante. Também lhe disse que o homem nem sabe quem ela é e que, provavelmente, a associou a uma prostituta. Aconselhei-a a não andar na rua sozinha, principalmente à noite e, caso se sinta mais à vontade, a arranjar uma casa noutra zona da cidade. Uma rapariga que veio de uma aldeia em Trás-os-Montes a passar por isto!... Tive realmente muita pena dela. Estes homens são nojentos.
Claro que nós, habitantes da cidade, conhecemos as zonas proibidas. Aquelas que convém evitar. Para a tranquilizar, contei-lhe uma história que se passou comigo quando tinha quinze anos. Era raro andar na rua sozinho. Aconteceu de dia. Tinha ido a casa da avó e ao regressar apanhei o metro. Quando saí do metro, comecei a caminhar na rua. Um carro abrandou e parou. Um homem, também de meia idade, ofereceu-se para me dar boleia. Ora eu, que de tolo não tenho nada, continuei a andar, ignorando por completo a interpelação do sujeito. Continuou a caminhar em velocidade reduzida. Voltou a desafiar-me para o acompanhar. Parei, olhei para ele e só lhe disse o seguinte (sensivelmente por estas palavras): "Olhe, se continuar a incomodar-me, eu vou à polícia e dou o seu número de matrícula que até já fixei. Se sair do carro, começo a gritar e olhe que eu grito mais alto e agudo do que uma menina!"
Estávamos numa zona com pessoas por perto. O carro saiu disparado de tal forma que levantou poeira. Ahahahahahah. Hoje dá vontade de rir... :)
Bom, diga-se de passagem, eu era um perigo com quinze anos. :) Os meus jeans justos coladinhos ao rabito, a gravatinha do colégio que me dava um ar angelical, o cabelinho à emo que já usava (sim, sou um dos precursores dessa moda!) e as minhas t-shirts com o umbiguinho saliente faziam furor. Ai, saudades!... Não é que hoje não o seja (perigo), mas os tempos são outros, sou mais velho e menos ingénuo. Ahahahahahahah. :)
Voltemos aos assuntos sérios. Espero que a minha colega se decida pelo melhor. Ela é uma querida e não está habituada a situações semelhantes.
Lisboa tem encantos. Tem, vários. Mas também tem perigos, oh se tem.
Olha que, por vezes, as zonas tidas por inseguras, acabam por ser as mais vigiadas... Não é taxativo, mas em alguns casos corresponde à realidade.
ResponderEliminarExacto, há mais policiamento. Mas aquela zona, realmente, não é segura para estudantes universitários. Muito menos para uma miúda inexperiente e, ainda por cima, gira como tudo. :)
ResponderEliminarAbraço.
O Intendente é uma zona "marcada" pela prostituição, é claro. Mas haverá zonas seguras em Lisboa? Mesmo para mim, quando caminho á noite por Lisboa, o que é raro, estou sempre de sobreaviso, imagino o "perigo" para uma miúda nova...
ResponderEliminarJá vi coisas nesta nossa Lisboa que me fazem pensar como era fácil deambular às tantas da manhã, nos anos 60/70 por qualquer rua de Lisboa.
Acho que se para o ano se for estudar para ai, já sei as precauções que tenho de ter :P
ResponderEliminarGostei da boca que mandaste ao homem quando tinhas quinze anos, muito bem!
Ela até que teve sorte. Antes oferecerem dinheiro por sexo do que a assaltarem ou pior.
ResponderEliminarMas não estando a contar e sozinha é normal assustar-se, coitada.
A mim o máximo que me aconteceu foi o condutor abrandar para me apreciar melhor. Não dei muita importância, apenas usei como mimo à auto-estima XD.
Realmente Lisboa é uma cidade maravilhosa. É pena é ter zonas menos seguras, que do meu ponto de vista não existiriam se houvesse coragem política para isso.
ResponderEliminarMas no fundo o que interessa é que será sempre a nossa "Lisboa menina e moça."
Pinguim: De facto, Lisboa está muito insegura. Por vezes, ouço falar do sossego da cidade nos anos 60/70 e, como não os vivi, estranho um pouco. :)
ResponderEliminarMarta: É preciso ter cuidado nesta cidade, principalmente em certas zonas. :)
O homem ouviu o que mereceu. :)
Lusoboy: Engraçado, também pensei nisso. Não ter acontecido nada de pior já foi muito bom. Podia ter ocorrido um crime. :/
Esses "abrandamentos" acontecem-me tantas vezes que nem dou importância. Quando é algo sem maldade, considero como tu: mimos à auto-estima. :)
Francisco: Exacto, eu olho para Lisboa com um enorme carinho. Adoro esta cidade. Adoro mesmo!
Creio que o problema das zonas devolutas é crónico: acabando com estas, acabariam por surgir outras... :/
Também acho atroz a falta de informação que é dada a quem anda à procura de casa, especialmente os estudantes universitários. Acho que as associações de estudantes podiam ter uma papel mais interventivo neste campo.
ResponderEliminarTenho lidado com muitos estudantes deslocados, e logo um dos eixos que desaconcelho é esse da Almirante Reis, especialmente a parte do Intendente. Claro que o perigo está em todo o lado, mas esse da fama não se livra.
Gostava que Lisboa fosse uma cidade segura. Gostava que, como nas outras capitais onde estive, fosse comum as pessoas irem dar uma volta a pé depois do jantar, sem ter de estar constantemente a olhar para trás e a mudar de passeio.
Concordo integralmente contigo, Coelho. :) . As associações de estudantes deveriam ter um papel bem mais activo. Alguns estudantes têm um total desconhecimento da realidade lisboeta.
ResponderEliminarLisboa, infelizmente, e como eu tenho o hábito de dizer, já não é a cidade pacata que era... :/