Ontem, durante uma aula na faculdade, fizemos as apresentações dos alunos. A princípio estranhei, uma vez que ainda não tinha acontecido alguma apresentação na faculdade. No entanto, notei que este professor era bastante acessível e simpático, o que nos coloca bem mais à vontade. Trata-se de um senhor na casa dos cinquenta, magro e com um sorriso constante no rosto. Gostei dele. Começou por falar do programa da cadeira, seguido do seu método de ensino, das taxas de aprovação, dos livros aconselhados, até que chegou a altura das apresentações. Começámos um por um. Até chegar à minha vez, ninguém era de Lisboa. Senti-me estranho por ser da capital, o que é realmente estranho. Bom, disse o meu nome, idade e os meus objectivos. Foi, no fundo, uma apresentação-síntese. Uma das minhas colegas, muito gira por sinal, que estava sentada mais atrás, começou a fazer a sua apresentação. É loura e tem um estilo que combina o sóbrio com o informal. Mal a vi, apercebi-me do seu espírito livre e irreverente. Vi nela um pouco de mim. Lá disse de onde vinha (por acaso de Lisboa), a idade, e quando chegou aos objectivos disse que, e passo a citar, «quero ter um cargo importante» e que «tudo o que for abaixo de ministra não me interessa.».
Foi o suficiente para ser mal interpretada. Ouvi logo uns zum-zuns e uns murmúrios vindos de toda a sala. O professor reagiu com um sorriso e nada disse que pudesse constranger aquela aluna. À saída, pude testemunhar como as pessoas são mesquinhas e maldosas. Disseram que ela era convencida, que tinha a mania, entre outras delícias...
Eu não me manifestei, mas comecei a falar com essa colega. Não a conhecia e o facto de ter sido marginalizada levou a que me aproximasse dela. Ela tem todo o direito em pensar como pensa e em querer atingir mais e melhor. Foi sincera e a honestidade é um grande trunfo. Creio que é esse sentimento menor e conformista que germina no nosso país que leva a que poucos ambicionem muito. Podia ter sido discreta? Sim, sim, mas o que é a discrição? Compartilho da sua opinião. Também estou ali para chegar alto, bem alto, quanto mais alto melhor, de preferência Juiz-Presidente do Supremo. Ambiciono, acredito em mim e nas minhas capacidades. E a ambição, controlada e medida, é o motor do desenvolvimento. O mundo foi, é e será dos que ousaram.
A ambição não é uma coisa má. Desde que saibamos manter os nossos princípios e valores, e respeitá-los no nosso caminho, não há qualquer problema em ser ambicioso. Eu próprio tenho ambições elevadas mas considero que não as devemos apregoar. Devemos manter o jogo na manga o máximo de tempo possível, por uma questão de estratégia. E em parte para não fazermos má figura ou figura de tolos. E acima de tudo não devemos ter problemas de começar em baixo e ir subindo degrau a degrau, cautelosamente (porque às vezes um degrau pode não ser aquilo que parece) e mantendo sempre um foco paciente no topo.
ResponderEliminarUm abraço (só para fazer a vontade ;)
Muitas vezes paga-se o preço da sinceridade e assim se contribui, em parte, para a institucionalização da hipocrisia.
ResponderEliminarFrancisco: Concordo inteiramente contigo. Eu gostava de ser assim tão metódico, mas até já disse que queria ser Juiz-Presidente. :)) Claro, digo-o no blogue, não o digo aos sete ventos como essa colega.
ResponderEliminarE começar de baixo até é muito bom: aprendemos mais e ficamos mais preparados para responsabilidades maiores.
Até que enfim o meu abraço. ;) Outro para ti. :)
Pinguim: Exacto, muitos dirão que querem ser simples advogados ou juristas e na volta querem bem mais do que ela. É assim que estamos estruturados, infelizmente.