Um dos maiores e mais conhecidos poetas do século XX, José Carlos Ary dos Santos primou pela ousadia e irreverência num país dominado pela ditadura ultraconservadora de António O. Salazar. E se é verdade que sempre foi um militante anti-fascismo, também é verdade que as obras mais conhecidas pelo grande público devem-se à sua participação no cançonetismo português. Alguns desses poemas emblemáticos encerram todas as memórias colectivas de um povo, como a Desfolhada, interpretada por Simone de Oliveira; ou a Tourada, na voz de Fernando Tordo. A genialidade de Ary dos Santos trespassou as suas orientações políticas e o estigma por elas produzido; até mesmo algumas famílias de direita, católica e conservadora admiraram a sua capacidade como compositor e poeta. A sua capacidade de auto-definição, as suas lutas políticas e, até mesmo o facto não esconder a sua orientação sexual, fizeram dele um homem inesquecível para o panorama triste e sombrio do pós 25 de Abril.
O pai, imbuído naquela esquerda, embora burguesa, sempre teve um grande carinho por Ary dos Santos. Conheceu-o nos anos 70 e, ocasionalmente, falava-me dele e da sua personalidade forte e determinada. Os ventos da Revolução ecoaram também sobre ele. José Carlos Ary dos Santos era assim: único e mítico e, nesse sentido, mantém-se vivo na memória de todos os que admiravam a sua extraordinária capacidade de intervencionismo social.
Ary faleceu em 1984.
Um post bem apropriado para este dia mundial da Poesia.
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