Há muito que me afastei da esquerda política. Não há tanto quanto gostaria e deveria. Hoje, compreendo o processo que se dá em variadíssimas personalidades do nosso panorama político, e que criticava: crescer e perceber o absurdo que é perfilhar-se dos entendimentos da esquerda. De certo modo, esta escandaleira com o vereador do BE em Lisboa, Robles, veio precipitar um desabafo que presumo ainda não ter dito - perdoar-me-ão, mas são mais de mil textos no blogue - e que adiei persistentemente.
Como nacionalista histórico, vi-me confrontado com a visão totalmente incompatível com a minha, de demonização dos europeus e do legado histórico que deixámos pelo mundo. Se se derem ao trabalho de ler o que a esquerda política pensa a respeito, verão que não minto. Começou por aí. Às tantas, já não me identificava com os preceitos económicos, pela sua inexequibilidade e incoerência, e já nada me prendia à esquerda. Foi um processo gradual, que terá levado dois anos. Sim, se quiserem pô-lo assim: eu, militante de esquerda arrependido, me confesso. Nunca fui militante por nenhum partido, vá lá. Poupei-me a esses vergonhosos papéis.
Até considero natural ser-se de esquerda na adolescência, pela tendência a olhar-se para a igualdade como bem supremo. No meu caso, acresciam certas bandeiras tradicionais de esquerda, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adopção, que hoje ponho em causa, sobretudo a última. A razão era a da idade. Não dava para mais. O ensino não ajuda, completamente adulterado. Sim, a História é escrita pelos vencedores. Por último, o amadurecimento pessoal, que se consubstancia num mais refinado juízo crítico: a esquerda destruiu Portugal, desbaratou o império, endividou o país, encaminhou-nos para uma sociedade sem quaisquer valores morais ou éticos, onde tudo é consentido e permitido, e onde qualquer crítica legítima e democrática é atacada. Se há verdadeira intolerância, há-a na esquerda e nos seus partidos e militantes. Este processo, gradual, como disse, levou-me a perder amigos e a tornar-me mais próximo de outros, isto é, admitindo que percamos amigos. Se os podemos perder, é porque nunca o foram.
À direita, ainda ando à procura do meu lugar. Continuo, e deve ser o último resquício que há em mim de esquerda, a defender um Estado mínimo, mas mínimo, em determinados sectores, para que o arbítrio não nos conduza a uma impiedosa desumanidade. O Estado é, por natureza, dado a vícios e a corrupções. Defendo uma sociedade liberal em termos económicos, com as leis do mercado na regulação da actividade económica. As melhores sociedades têm uma economia verdadeiramente livre de amarras estatais. O Estado é péssimo enquanto gestor dos dinheiros públicos. Portugal, no índice de liberdade económica, está sempre mal posicionado. Menos Estado, mais iniciativa privada.
Nos costumes, estou totalmente conservador, e aí é onde o declive se verifica mais. Sabe-se que sou contra a eutanásia, a interrupção voluntária da gravidez (já escrevi rios de tinta acerca), mas também me oponho, a priori, à adopção por casais compostos por membros do mesmo sexo e, quanto ao casamento, coloco as minhas reservas. Defendo, claro está, que os casais gozem de protecção legal, causando-me alguma estupefacção, devo dizer, que uma comunidade - com a qual não me identifico minimamente - pugne pelo direito à diferença durante décadas e, depois, queira imitar o modelo heteronormativo em todos os seus moldes, incluindo no direito ao casamento, sublinho, ao casamento. Na adopção, quanto a mim, num mundo ideal, uma criança deve crescer com o seu pai e a sua mãe. Há outros modelos de família, sabemos que sim, e é preferível entregar-se uma criança a dois homens ou a duas mulheres do que sujeitá-la durante anos aos trâmites burocráticos do Estado; no limite, será melhor entregá-la a casais homossexuais do que ao Estado, que, além de falhar na tarefa que a Constituição que lhe incumbe, propicia a crimes que todos conhecemos. Não há um direito à adopção; há, pelo contrário, um direito a ser-se adoptado. Um modelo masculino e um modelo feminino são imprescindíveis para o são desenvolvimento da personalidade de uma criança. Sabemos que nem sempre tal é possível.
A defesa da família tradicional não é imune à minha experiência pessoal: defendo a família porque conheço as consequências da falta dela: a família deve ser um valor absoluto, e não haverá gente equilibrada que não tenha uma família equilibrada.
Quando temos conhecimento de casos como o de Robles, a podridão da esquerda caviar invade-nos o nariz. O caviar estragou-se, e o povo ficou a conhecer quem é a esquerda que o diz defender. Antes ser de direita e coerente do que desta esquerda e profundamente infeliz nas condutas, que até estarão dentro dos limites legais, mas que revelam toda a hipocrisia e cinismo. Não há defesa possível para o indefensável. Há que assumir o erro e lidar com as contrapartidas pessoais e políticas.