Mea culpa, mea maxima culpa. Não conhecia Christa Päffgen, ou Nico, como era conhecida no mundo da música. Nico foi uma cantora alemã, nascida em 1938, a quem a II Guerra Mundial, particularmente no final, haveria de marcar indelevelmente. Nico assistiu aos bombardeamentos sobre Berlim, que teriam reflexos mais tarde, já compositora, levando-a a, como verão no filme, carregar consigo um gravador portátil, em busca por um som nítido que a reportasse àquele que ouvia em garota, vindo dos aviões e dos escombros. O som da destruição. Creio ser necessário fazer certo enquadramento na vida de Nico antes de explorar o filme, o que pude ver na obra de Susanna Nicchiarelli.
Nico viveu os loucos anos 60. Entrou na banda Velvet Underground pela mão do seu grande amigo Andy Warhol, acabando por abandoná-la, iniciando uma carreira a solo. Drogada, suja, desiludida, traumatizada. Nico é o espelho da degradação humana mais evidente pelo uso reiterado de drogas e álcool. Quando a vemos, com dificuldade acreditamos que foi uma mulher belíssima, modelo, colaborando com a Vogue, nomeadamente. Os traumas vêm da infância, como referi, e da perda da custódia do filho, dadas as suas condições de vida precárias. Filho esse concebido numa relação casual com Alain Delon, também marcado pela instabilidade e, a julgar pelo argumento de Nicchiarelli, com reiteradas tentativas de suicídio, a última das quais pouco tempo antes de Nico falecer subitamente numas férias em Ibiza, no Verão de 1988.
O filme gira todo em torno de Nico, nos seus dois últimos anos de vida (1986 - 1988). Ela é o epicentro da narrativa. A actriz que a encarna, Tryne Dyrholm, fá-lo de modo soberbo. A interpretação é de um realismo e de uma verosimilhança ímpares. Intuímos que não será fácil recriar uma mulher, para mais artista, com tamanhos problemas pessoais. A estória, crua como a vida de Nico foi, não cai em melodramatismos baratos. Nico viveu como quis, e viveu intensamente. Compôs e cantou as suas mágoas. Há alguns momentos em palco, e, ao tomarmos conhecimento do teor das canções, percebemos que Christa e Nico se confundem. Uma entoa as dores da outra.
Avessa ao comercial, temperamental (sobretudo em período de ressaca da heroína, que a perseguia e que ela perseguia quando não tinha), Nico amava profundamente a Ari, o filho. Amava-o como sabia, a meio de toda aquela disfuncionalidade que a vitimaria precocemente, aos 49 anos. Quis reatar o vínculo que se perdeu algures na meninez de Ari, com os estragos de ambos a não o permitirem. Vale muito a pena.
Nico e a banda Velvet Underground marcaram minha adolescência. Super super valem a pena ainda nos dias de hoje. Belo resgate ...
ResponderEliminarEspero que o filme estreie o quanto antes aí no Brasil, caro amigo. Decerto que você irá gostar!
Eliminarum abraço.
Obrigado pela dica ;)
ResponderEliminarAbraço amigo
Mais do que dica. :)
Eliminarum abraço.