25 de outubro de 2013

Tutoria.


   Nunca demonstrei qualquer interesse pela vida académica. Habituei-me desde cedo a separar as águas. Lá dentro, o meu papel consistia em ser um estudante aplicado, tirar boas notas nas provas e tentar, no meu limite, ter as melhores classificações que podia. Notando em mim capacidades para tal, recordo-me de, no segundo ano, ser convidado para ser vogal de uma lista qualquer que se propunha às eleições dos cargos associativos. Recusei. E fi-lo porque me roubaria muito tempo e distrairia no essencial, o estudo. Quase que se vislumbra uma atitude semelhante em cargos políticos. Dali saem os futuros senhores que mandarão no país. A par, talvez só os de Economia. Provavelmente terei, como já tive, colegas futuros ministros, secretários de Estado, por aí. Não sou politizável. Não almejo o poder. O poder, no meu entender, é algo que corrói, que machuca. Torna-se um vício. E corrompe. Corrompe muito. Quem manda, quer mandar mais e mais. É terrível.

   Nesse sentido, sempre me mantive suficientemente distante de tudo o que envolvesse esses cenários alternativos. Não sou interventivo. Gosto de me manter no meu espaço. Nada tenho a provar e sou ambicioso q.b. De todas, a maior que tenho é a de ser licenciado, atestar os meus conhecimentos de qualquer forma. O currículo, o certificado, será uma mera confirmação. Algo se exige em troca, claro.


    Criaram um novo instituto: a tutoria. Sendo um conceito antigo, soa-me mal. Leva-me ao Estado Novo. Não gosto. Mas gosto, sim, do fundamento: auxiliar alunos que tenham dificuldade com as diversas matérias. Unindo esforços, os melhores alunos a determinadas cadeiras tornam-se tutores de outros, ajudando-os na compreensão dos programas e até na resolução de casos práticos. Pela primeira vez, que me recorde, aplaudo uma iniciativa por lá.
     Falando acerca de tudo isto com a mãe, sugeriu que me tornasse tutor, nomeadamente às disciplinas que considero favoritas e onde obtenho resultados mais satisfatórios. Falou-me do primeiro ano. Por que não ser tutor das cadeiras histórico-jurídicas? Se escrevo sobre isto é porque estou com alguma predisposição em aceitar, contudo, importa referir que não tenho vocação para explicar, embora acredite que possa parecer o contrário. Um dos motivos que me levou a afastar um determinado rumo no ensino superior foi precisamente o de saber que, caso fosse direccionado para o ensino, seria um desastre, além de todas as implicações emocionais e de realização pessoal envolvidas. Não sei estar numa mesa a explicar matérias a outrem. Não levo o menor jeito. A falta de paciência é um dos principais obstáculos. Fá-lo-ia num sentido totalmente altruísta, atenção, mas há uma certa recompensa acessória: ao que sei, este acto, eu diria, nobre, constará nos currículos de todos aqueles que vierem a ser tutores. O espírito é apenas e tão somente o de ajudar colegas.

     Seria, outrossim, um modo interessante de me tornar útil - e tanto falei disso por aqui.
     Teria de me informar e o mesmo jamais poderia colidir com o meu estudo e com as horas do dia que guardo para mim, e merecidas são.

   Para melhor meditar sobre o assunto, vou tirar o dia de amanhã e sair. Talvez faça umas compras de Inverno. Preciso de renovar o roupeiro. 
      Sozinho, porque sou o meu melhor conselheiro.

29 comentários:

  1. Sozinho?! Hein!!!!!

    Claro que podes ajudar, podes te sentar e falar dos temas, como se tratasse de uma conversa de café...

    Sabes que tive uma professora que nos ensinava sentada no chão connosco?!

    Abraço amigo e bom fim de semana ;)

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    1. Sim, sozinho. :)

      Terei de meditar sobre o assunto. Não tenho paciência. Recordo-me de, no secundário, ajudar uma colega e aquilo foi um desastre. Ela tirou uma nega bem baixinha... Eu esforcei-me!

      Isso é muito bom. :) A última vez que vi 'professores' sentados no chão comigo foi no pré-escolar. LOL Melhor dizendo, educadores.

      abraço, Francisco, e bom fim de semana.

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  2. Participe disso, parece interessante :D Ajuda colegas e se diverte um pouco também. Ora se não leva jeito, tente de novo.. Vai no shopping? Bem que eu iria com vc, tô precisando de comprar, rsrs :D

    Abraços!

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    1. Sim, se puder, mas temo não ser uma ajuda muito valiosa. :)

      Não sei. Não ligo muito a 'shoppings'. Já gostei mais. Talvez vá até à Baixa de Lisboa. Sempre apanho ar.

      abraço, Ty.

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  3. Por que não? :) Até podia ser uma experiência bastante interessante. Durante a licenciatura, de forma bastante informal, sempre fui dando explicações a outros colegas do mesmo ano ou mais novos e foi sempre fantástico. :D

    Abraço :)

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    1. Sim, claro, mas neste caso não é algo informal. :) É um instituto que foi criado nos estatutos da faculdade, daí a minha apreensão. :s

      Creio que é possível dar explicações a alunos mais novos ou do mesmo ano, se bem que agora, na recta final, não faria muito sentido. Se já chegaram até aqui. :D Fazendo-o, será às histórico-jurídicas ou a Penal.

      abraço, Inefável.

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  4. Várias ideias/conselhos me vêm à cabeça. Todas elas são a meu ver interessantes, mas decerto algumas um pouco excessivas para o teu modo de vida académica. Antes de mais deixa-me referir que não são as boas notas que fazem os melhores profissionais. Podia dar vários exemplos, como o Einstein ou outros. O que faz um bom profissional é sim a sua disposição para aplicar os conhecimentos que obteve e dando as necessárias tropeçadelas, sem as quais o mais certo é não evoluir.

    A vida académica é a meu ver, um dos mais importantes factores que ajudam a modelar o futuro de cada um. É uma época de excessos ou não, mas acima de tudo é onde se nota a separação entre o secundário e o futuro, a vida profissional.

    No meu simples ver acho que deves experimentar a sensação de ser tutor. Podes pensar que não sabes ensinar ou que não tens paciência para tal. Experimenta e retira depois as tuas conclusões, torna-te um ratinho de laboratório e experimenta as doenças e as curas. Não é só uma forma de ajudares o próximo, é acima de tudo mais uma experiência, que decerto recordarás no futuro.

    As mães costumam ser boas conselheiras e parece que a tua não é excepção. Vai pela experiência dos mais anosos, que eu nem sempre o fiz.

    Concordo contigo quando dizes que és o teu melhor conselheiro. Eu costumo dizer o mesmo, embora nem sempre consiga ser bom conselheiro para mim próprio. É a tropeçar e a cair (lá estou eu a repetir) que se aprende.

    Abraço Mark e que depois de te dares ao trabalho de teres lido este testamento, lhe dês pelo menos uma pequena importância. Ao menos que este esforço te valha de alguma coisa.

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    1. Ribatejano, concordo em absoluto contigo. :) Eu, quando referi os 'melhores alunos', mencionei um dos requisitos para ser tutor que consta do respectivo estatuto. Não fui eu que o elaborei. Admito que muitos alunos com classificações medianas possam vir a desempenhar o 'cargo', provavelmente com melhores resultados do que outros com médias globais superiores. Todavia, quer queiramos, quer não, o mercado de trabalho olha para as notas. Quando procurarmos emprego, observarão o currículo e terão em consideração a média. Infelizmente é assim e cada vez será pior.

      Estou a ponderar se deva ou não dar este passo. Não o posso fazer por capricho ou para demonstrar seja o que for a mim mesmo. Trata-se de ajudar um colega e se não me sentir habilitado para o fazer, recuo, pois poderei prejudicá-lo. Estou a ter em conta a outra parte. Não posso pensar em mim, não aqui, logo, a experiência para o 'baú das memórias' pouco releva.

      abraço e obrigado pelos válidos conselhos. :)

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  5. olá Mark, tudo bem? ainda te lembras de mim? :) espero que esteja tudo bem contigo! um abraço

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    1. Olá Tomás! Lembro, claro, há quanto tempo!

      Está tudo bem. Espero que contigo também.

      abraço. :)

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  6. Renovar o guarda roupa eleva o astral, aproveite e divirta-se.

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    1. É verdade. Numa sociedade materialista como aquela em que vivemos, tem importância.

      Sim, eu ontem comprei umas roupinhas. :)

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  7. r: mas essa é a parte divertida, andarmos com medo durante um pouco :)

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  8. falando por experiência, eu gostei das tuas explicações enquanto viajávamos de comboio, caminhávamos, jantávamos. penso que nada impede um informalismo 'tutorial' (isto existe?) :) não é necessário estares numa sala de aula, ou à secretária. bom, talvez um certo 'clube dos poetas mortos' seja o mais adequado. :)
    bjs.

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    1. Oh, estás a ser querida. :) Obrigado!

      Sim, nada impede de se juntarem alunos informalmente. Oficializaram para tornar mais solene, formal. :)

      beijinhos.

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  9. A tutoria até é capaz de ser uma boa ideia para ti!

    Durante a faculdade eu sempre fui uma especie de explicador da turma, alias muitos me ligavam a pedir que lhes explicasse certas coisas... sempre gostei da atenção que isso atraia para mim...

    Pensa nisso com carinho, quem sabe não descobres uma vocação! ;-)

    Abraço ;-)

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    1. Já tenho o tempo tão ocupado, mas, sim, quem sabe até ajudaria na interacção. Eu sou pouco dado na faculdade. Não que seja tímido, que não sou; isolo-me um bocadinho. Ajudar-me-ia a soltar.

      Temos aqui muitos explicadores. :D
      Ontem pensei bastante. Não cheguei a qualquer conclusão, contudo. Tenho de analisar os horários, etc.

      abraço. :)

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  10. eu já fui professor, e acho que em realação ao "dilema" que aqui apresentas, tenho duas frases-feitas muito clichés, mas em que deves refletir:

    "Qualquer um é bom professor de um aluno inteligente, estudioso e aplicado. Poucos conseguirão ser bons professores de um aluno burro, pouco aplicado e nada estudioso". Apesar de aqui estarem os dois extremos, o meio termo (que será aquele que irá recorrer a esses serviços tutoriais) muitas vezes revela-se mais complicado de perceberde como atuar.

    "Ninguém percebe verdadeiramente determinado assunto sem o conseguir explicar à sua avó", ao que um prof. meu acrescentava "Isto não se aplica aos netos de Marie Curie". Poderá ser bom para desenvolveres os teus conhecimentos, pois não és (nem nunca serás) "absoluto" (desculpa o termo, se calhar é um pouco forte) em determinado assunto. Com estas tutorias poderás aprofundá-los ainda mais e seres gradualmente cada vez melhor neles.


    PS: espera-se um post mais "materialista" e "light" sobre aquilo em que consistiram as tuas compras :P

    Grande Abraço

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    1. Exacto, Horatius, por melhor que conseguisse explicar, jamais alcançariam bons resultados se não se aplicassem. Todavia, creio que um aluno que se dirige à tutoria tem ele próprio vontade de fazer algo por si. E não são apenas os 'maus alunos' a recorrer; há vários que precisam de mais horas de estudo acompanhado, até porque os professores, mesmo nas aulas práticas, não dão muita atenção. Estão sujeitos a um programa e a horários rigorosos - há poucas aulas por semana. Isso leva-os a avançarem rapidamente na resolução dos casos, tomando por garantido de que as matérias foram assimiladas nas aulas plenárias. Quantas e quantas vezes os alunos não vão para casa cheios de dúvidas... eu, por exemplo, fui imensas.

      Pegando no teu segundo raciocínio, certamente. É um estudo que beneficia ambas as partes. :) Oh, mas não pensem que sou uma mente brilhante. Lol Tenho boas notas, sim, que se devem ao estudo. Claro que a algumas disciplinas tenho notas razoáveis, apenas, eheh. :)

      Oh, os posts materialistas e fúteis, tive tantos... Preciso de recuperar esse registo. :D

      abraço grande.

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  11. quanto ao ensino, eu sinto-me como tu. há uns anos lembro de me falarem sobre a possibilidade de dar aulas, coisa que na minha mente não funciona, não dá. no ano passado dei umas formações, não correram mal e no geral acho que até me safei bem mas.. não gosto. não é a minha cena.

    agora não perdes nada em tentar, arriscar, ver no que dá, até te podes surpreender.

    força nas compras!! eu há dias também fiz isso e sabe bem. mas eu nem sempre gosto de ir às compras sozinho por acaso. .se bem que quem me acompanhar apanha seca pois eu acabo por andar de um lado para o outro sem nunca saber o que comprar :P

    abraço :)

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    1. É isso mesmo que sinto. Desde sempre soube que ensinar, mesmo que a nível de explicações, não é o meu estilo. Além disso, temo prejudicar em vez de ajudar... Vou pensar! :)

      As compras! Sou exactamente assim, ahah. Perco imenso tempo e ninguém tem paciência para ir comigo... bom, excepto a mãe e as primas que também demoram uma eternidade. Eu experimento, deixo, experimento outra, deixo, e outra e outra... :D Uma seca total!

      abraço.

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  12. Percebo, além das questões 'morais', há todo o tempo que isso te leva, e para quem tem que gerir muito, todo o tempo é pouco. E a pergunta que se impõe é, quais são as prioridades?

    Abraço Mark.

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    1. Tenho realmente pouco tempo. Para guardar algum para mim é preciso fazer uma ginástica... Este curso consome imenso dos alunos.

      A prioridade é acabar a licenciatura... :)

      abraço, Arrakis, e muito obrigado. O teu comentário fez-me pensar numa outra perspectiva de que ainda não tinha dado conta: a das prioridades.

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  13. Tenho certeza que você será um ótimo tutor. Seus tutelados irão gostar dos seus ensinamentos.

    Boa sorte.

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  14. Eu acho que deves aceitar a proposta, ainda mais pelo facto de te enriquecer o curríulo. É algo muito importante nos tempos que correm, ter um currículo rico e diversificado. Quando ao medo de "ensinares", até experimentares, nunca saberás. Sê tu mesmo, partilha com os teus "pupilos" tal como partilhas os teus conhecimentos aqui no blog e vais ver que serás um tremendo sucesso, acredita! ^^

    Eu acredito em ti! :)

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    1. Pois, mas a esta altura nem sei se o prazo de inscrição não terá já terminado. :) Enriqueceria o currículo, isso é certo.
      Oh, ajudar colegas num regime de tutoria é substancialmente diferente de escrever artigos e dissertações por aqui. Envolve uma responsabilidade acrescida.

      Ainda vou ter de me informar. Obrigado! :)

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  15. Mark,
    Leciono Direito Tributário (ou Fiscal, como dizem em Portugal) em várias Universidades aqui do Brasil. Gosto muito. E gosto, principalmente, porque me força a estudar, a relembrar e a me reciclar. Esse, para mim, é o principal ganho. Se enveredar por esse caminho, lembre-se que o magistério é uma semeadura, não uma colheita e você nunca deve esperar colher os frutos do que está plantando. Se tiver esse desprendimento, siga em frente...
    Marcelo Pires

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    1. Marcelo, há quanto tempo! :)

      Direito Fiscal é uma disciplina do quarto ano (último da licenciatura) na faculdade onde estudo. Não gosto muito, apesar de ter bons resultados às 'cadeiras' económico-financeiras. A minha área é mais o direito público: constitucional, penal, administrativo, por aí. :)

      O magistério é algo que nunca me ocorreu. Sinto não ter vocação. Neste caso, seriam umas aulas de explicações, acessórias, com vista ao esclarecimento de dúvidas aos alunos com dificuldades.

      Prazer em ler o seu comentário. :)

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