3 de outubro de 2013

Primeiras impressões.


  As aulas (re)começaram há duas semanas, relativamente. O horário mudou e, a contrariar as minhas expectativas, está a ser interessante. Não sei se cheguei a referir a minha indiferença, para não apelidar de desdém, em relação à licenciatura que escolhi. Até então, aprendi a tolerar. É preciso chegar ao final para aprender a gostar, o que é substancialmente diferente. Consegui estudar, ter sucesso nas provas e transitar sem sentir qualquer apelo. Não poderia dar anos por perdidos, jogar fora o investimento dos pais no meu futuro e, de certa forma, assumir que errara. Não seria um curso que me faria desistir e voltar atrás.

   Os colegas são, regra geral, os mesmos. Alguns reprovaram. Há repetentes, aqueles que já deveriam estar no mercado de trabalho ou, optando pela continuidade, num mestrado. A exigência não dobrou - não estamos no ano mais difícil. Por incrível que pareça, as traves-mestras do curso estão no terceiro. Os professores são menos condescendentes e dão por adquirido de que dominamos quase tudo. Normalíssimo que assim seja.
   Há demasiadas cadeiras económicas, aliás, transversais aos quatro anos. Neste, especialmente, há mais do que deveria. Tenho excelentes notas às disciplinas económicas, assumindo que não gosto e que não me aplico mais para compensar esse facto. Surpreende-me. Veremos se continuo assim - este ano dará jeito!
   Para dar uso aos 'novos' espaços, passámos aos anfiteatros semi-novos: semi porque são, na verdade, de mil novecentos e noventa e sete; novos porque dois, divididos, originaram outros dois, em obras que se prolongaram pelo ano lectivo anterior.


    O P. partiu. Não de vez. Durante este mês, faz o sacrifício de ir e vir todos os dias. Não está, como já havia dito, muito longe da capital. Ainda assim, o percurso é moroso e cansativo, acrescentando-se as horas de aulas que lhe preenchem o dia inteiro. E, segundo me conta, os professores são ágeis em debitar matéria - muito ao estilo dos meus.
    Está surpreso com as enormes diferenças entre o ensino secundário e o superior. Alertei-o nesse sentido. Quando entrei, estava de tal modo expectante e feliz por deixar o colégio que até o ritmo se traduziu numa enorme alegria. "Boa, já sou adulto!"

    Falamos menos. Estamos na faculdade e chegamos tarde a casa. Ele, devido às aulas durante todo o dia, além da viagem de regresso; eu, que optei por ficar na faculdade a estudar. Dias há em que se prolonga para lá das vinte. Não me custa. Em casa, perco-me em conversas, distraindo-me com isto e aquilo. Na faculdade, estou melhor, concentrado. O caminho é árduo, mas mantenho a confiança. Sinto-me como aqueles atletas que estão prestes a cortar a meta. Cansados, sim, mas tomados por uma súbita força ao avistarem a fita por perto. Ou um turista perdido no deserto, sedento, quase inerte, prestes a desfalecer. Entretanto, vislumbra um oásis e as suas pernas cedem ao comando cerebral: água à vista, canudo à vista, faculdade ao longe (um longe perto, mestrado).

    Está feliz com o que escolheu e até já fez novos amigos. É o processo normal. Está deslumbrado. Vivo com ele o sonho e nada farei para que acorde. A sua vida tem sido pautada por algumas tragédias e sentir-lhe a alegria na voz é um bálsamo que me conforta. Acredito mais com ele e ganho alguma ingenuidade. Talvez por isso ande a viver os últimos dias como se dos primeiros se tratassem.

26 comentários:

  1. Longe da vista, mas sempre no coração :D

    Bom regresso às aulas :)

    Abraço amigo

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    1. Por enquanto, não nos afastámos. :)

      Obrigado, Francisco, e um abraço.

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  2. Sucesso na faculdade Mark! Eu quero fazer faculdade esse ano ou no ano que vem, ainda não tou sabendo direito se posso (trabalho e tal) :D Direito é legal mas eu acho que não levo jeito, rsrs :D

    Abraços!

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    1. Obrigado. :)

      Espero que conseguias continuar os estudos.

      Direito é mais trabalhoso do que difícil, se bem que tem o seu grau de dificuldade. Eu pensava que não 'levava jeito' e afinal... LOL

      abraço. :)

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  3. Adorava ver o Mark dar um chuto no curso, cagar para o investimento da família, sair de casa, e tornar-se num outsider sexy da sociedade. (assim tipo... 'libertar a fera que há em ele!' oh yeah!)

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    1. Maluco. xD

      Não pode ser, Alex. Seria bonito... não haveria de faltar! Já te imagino daqui a uns anos: "Pois, este Mark não fez nada da vida, não terminou os estudos, vive às custas dos pais, não tem um emprego. Deverias ir para as obras como eu, isso sim! Faz-te um homem e larga a casinha da mãe!" :DD LOL

      Para piorar, nem tenho categoria para viver como indigente. Não sei fazer nada! Nem fritar um ovo. Há quem saiba fazer malabarismos na rua, outros de mimo, e ainda aqueles há que fazem números circenses com animais. Eu seria um outsider bastante peculiar. :)

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    2. Tudo se aprende.
      Só é preciso estímulo.

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    3. para ti, há a bimby, para os outros, a yammi, ou o novo robot de cozinha do PD (só isso para me fazer voltar a entrar num deles) :p
      não morrerias de fome.
      acaba o curso, gere da melhor forma os amores, depois tira um ano sabático antes de te aventurares no mestrado e vai conhecer Portugal. não digo a Europa, já não digo, mas aventura-te um pouco, Mark, faz jus ao título deste blogue :)
      bjs.

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    4. LOL, 'para mim'. :) Margarida, eu não tenho património pessoal, além de uma conta a prazo desde que nasci, ahah. :) Mas, sim, entendi o teu raciocínio. :)

      Seria uma excelente opção. O ano sabático paira na minha cabeça, sim, mas teria de estipular de forma rigorosa o que fazer. Passar um ano contemplativo não é algo que me seduza. :)

      Eu sou pouco aventureiro. O nome do blogue cinge-se unicamente às poucas aventuras que realizo - e são realmente poucas. :)

      beijinhos.

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  4. a distância é sem dúvida chata. mas vocês parecem ser compreensivos e tolerantes, vão falando e mantendo uma boa relação entre vocês, honestidade a cima de tudo. :)

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    1. Sim. E marcámos um 'date' para sábado. Vamos aproveitar a manhã e pôr a conversa em dia. :)

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    2. óptimo! e olha. http://www.lowcostportugal.net/viver/lisboa-open-house-visitas-gratuitas-a-a-60-espacos-a-5-e-6-outubro/2013/10/

      pode ser que isto te ajude a arranjar um sítio fixe para irem se quiserem :D

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    3. Oh, muito obrigado!! Ajudaste muito, Aaron! Ele adora espaços culturais e monumentos. Não fazia ideia disto!

      Obrigado! :)

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    4. de nada, sim eu sabia que ias gostar do link :P

      eu tenciono ir ao museu de história natural no domingo, nem que vá sozinho :P

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    5. Vou propor a ideia (genial) ao P. Pode ser que ele esteja de acordo. :)

      Oh, às vezes até é melhor andarmos sozinhos. Damos mais atenção aos pequenos pormenores que, de outra forma, passariam despercebidos. :)

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  5. gosto de te sentir feliz Mark :)
    é tão bom, a sério que sim!

    Que todos vos corra bem!

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    1. Não sou o que se pode chamar de 'pessoa feliz'. Vou vivendo como sei e posso. :)

      Obrigado, Kyle. :)

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  6. r: estou tão confuso que prefiro nem pensar.

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  7. Ainda bem que estas mais animado com o curso e espero que o passeio e a conversa com o P. tenha corrido bem!

    Abraço

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    1. Correu bem. Foi óptimo poder estar com ele. Já fazia uma semana e um dia sem estarmos juntos...

      abraço. :)

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  8. A vida dos adultos é assim, feita de momentos que se repetem, de uma forma ou de outra...e também de dizermos "adeus" a pessoas que a dada altura são especiais. No vosso caso, felizmente não é um adeus...é um "até já"! É bom de saber que ele está entusiasmado com o curso, situação perfeitamente normal também! Estás agir muito bem! :)

    R: Desculpa a demora em dizer algo sobre o email. Antes de mais obrigado pela resposta! Veio de encontro ao que eu já esperava! Achas que, mediante o que te perguntei, seria possível dividir em duas alas, uma Conservadora e outra Liberal? É que pelo que li, o feudalismo não me parece ser muito lógico nem possível... :P

    Abraço grande e obrigado uma vez mais :3

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    1. É... a vida propiciou a que nos afastássemos. É mesmo assim. Felizmente, é um afastamento meramente físico, pois mantemos o contacto e estamos juntos sempre que temos disponibilidade. :)

      Ora essa. :) Por acaso já me tinha questionado se a resposta teria chegado ou não. LOL

      Para responder à tua pergunta tive de ir ao email de novo (já não me lembro ao certo). Caso a democracia acabasse, não consigo ver nenhuma ala liberal. Viria o extremismo. Se de esquerda, se de direita, não te sei responder. :)

      Feudalismo actualmente? Não! O feudalismo viveu-se na Idade Média e hoje isso não poderia ter qualquer aplicação. :) Imagina o que seria vivermos nas imediações de um castelo, necessitando da protecção do senhor em troca de cultivar as suas terras. :D Seríamos uns servos da gleba versão XXI. :P Mas, olha, com tantas voltas que o mundo dá, já nem digo nada! LOL

      abraço grande e não precisas de agradecer. :) É uma honra poder ajudar com o que sei. :)

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  9. Olá Mark! Interessante! Eu passo a explicar o porquê destas perguntas "estranhas"- um dos temas do meu próximo conto do blog é precisamente este. :P

    Tenho andado a ponderar que regimes poderei colocar no país depois da queda da democracia, mas não estou a chegar a grandes conclusões... :c

    Não queria "repetir" os regimes que já vivemos em Portugal, mas também não sei o que possa "inventar", que não seja completamente ficcional - uma vez que eu adoro misturar a realidade com a ficção :)

    Em princípio começo esta semana a escrevê-lo. Vamos a ver se até lá me consigo decidir... :)

    Abraço grande e uma vez mais obrigado pelas tuas respostas, são muito importantes, como deves imaginar :)

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    1. Oh, sinto-me lisonjeado. :)

      No entanto, devo dizer-te de que não acredito no fim da democracia no seu âmago. Não creio que a nossa sociedade aceitasse de novo um regime ditatorial. Parece-me bastante improvável. Claro que na ficção tudo é possível e se te sentes à vontade para abordar esta temática numa perspectiva criativa, óptimo! :)

      abraço grande e 'de nada'. :)

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  10. Como eu te entendo na questão do curso; a mim foi-me quase imposto ir para Económicas, pois na empresa da família fazia falta um economista, e o caminho ficou logo delineado a partir do então 5º.ano (equivalente ao actual 9º), pois fui obrigado a escolher a alínea com que me matricularia no terceiro ciclo, a qual só dava mesmo para Económicas e Financeiras.
    Eu teria adorado ir para História, o curso em que me sentiria realizado, mas não, que "era um curso sem saídas, só daria para o ensino" e coisas assim, levaram-me a aceitar a escolha familiar; com maus resultados, pois claro, porque tendo sido um bom aluno durante todo o ensino secundário, comecei a desleixar-me aqui na Universidade e também a conhecer melhor Lisboa (ia a tudo - cinemas, teatro, bailado, óperas, concertos) e principalmente a "conhecer-me a mim próprio".
    De desleixo em desleixo, deixei-me apanhar pela guerra colonial ,quando estava no quarto ano, com uma cadeira do terceiro (Estatística) em atraso.
    E claro, quando regressei, queriaera ganhar dinheiro e ainda quase terminei o curso aproveitando as baldas das passagens administrativase coisas semelhantes, faltando-me apenas 5 cadeiras para acabar o curso...
    Fui para o ensino, pois o bacharelato em Economia dava-me na altura para ter habilitação para isso e quando estava para me profissionalizar, em Serpa, lá vem outra vez o imperativo familiar de que era necessário com urgência na empresa e largo o ensino e estou 14 anos a trabalhar lá...
    Podes ver toda a minha frustração, nada parecida com a tua.
    Espero que tudo te corra bem, quer no campo dos estudos, quer no campo afectivo.

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    1. O pior é mesmo quando optamos por algo que nada nos diz ou porque a família quer. No meu caso isso nunca aconteceu porque os pais sempre me deram total liberdade quanto ao meu futuro. Acho terrível quando os pais tentam influenciar os filhos para que escolham isto ou aquilo. Cada um tem a sua vida. É profundamente injusto. E se 'filho de peixe sabe nadar', não é menos verdade de que há imensas pessoas que trilharam caminhos opostos aos dos respectivos familiares.

      Se não fui para História, a 'culpa' é inteiramente minha. E ponho entre coimas por uma razão: não me arrependo. O que te disseram nessa altura, há tantos e tantos anos, continua a valer: História são dois tiros nos pés, infelizmente, e o ensino é a única saída. Direito abre portas, várias, nos mais diversos campos. Daí ter enveredado por aqui.

      Obrigado, João, e um abraço. :)

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