31 de outubro de 2013

Castelo de cartas.


   Em casa da avó sem nada para fazer, ontem, ao final da tarde, resolvi folhear uma das inúmeras revistas do social que existem. A avó não tem por hábito ler este tipo de publicações, contudo, foi induzida pela curiosidade mórbida que afecta a generalidade das pessoas. Interessou-lhe, em concreto, a recente polémica que dá conta da separação tumultuosa de Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho. Também eu li os desenvolvimentos...

   Acima de tudo, entristeceu-me. Não concebo o final de anos de vida em comum deste modo tão grotesco e pouco dignificante. Li as mais diversas acusações, de violência doméstica a tentativas de invasão de domicílio; de alcoolismo a operações plásticas que tentam contrariar a passagem do tempo. Um rol de mexericos que aguçam a inveja alheia e a deleitam.

   Bárbara Guimarães e o marido eram aquilo a que se poderia facilmente chamar de casal perfeito, ou perto disso. Ela como apresentadora de topo de uma estação televisiva; ele como político, qualquer coisa perto de filósofo e ex-governante. Sobre eles pairava um manto de glamour e discrição. Houve quem chamasse de conto de fadas, uma história exemplar que tudo tinha para se manter ad aeternum. Mas, como no melhor pano cai a nódoa, o corte abrupto levou a que viessem a público os escândalos e as intrigas. A Comunicação Social, no seu pior, como sempre, aproveita ao máximo cada palavra, cada pedaço de infelicidade para lucrar. E como lucra! O descontrolo emocional de ambos completa, alimentando revistas que nada fazem a mais que não seja subsistir à custa da vida privada de terceiros.

  No meio, os filhos, sobretudo o menino com perto de dez anos. Não posso deixar de atentar nas repercussões óbvias que estes comportamentos têm numa criança que se apercebe de tudo em seu redor, não sendo indiferente ao que se passa. Em experiência própria, que vivi de perto um processo de divórcio, sei que por mais se tente manter um filho à parte, vulgarmente somos os primeiros a perceber que algo está errado. Tinha mais quatro anos. Faz toda a diferença. Catorze, perto de quinze, ou dez, implica na compreensão.

   A separação dos pais foi pouco dolorosa para mim. O amor terminou. Não houve qualquer episódio de violência, como, aliás, nunca houve em quase duas décadas de casamento. Nem verbal. Jamais ouvi uma discussão.
    Jantavam num clima de frieza tal que pareciam dois estranhos. Não tardou a que o pai me sentasse no sofá, ajoelhando-se aos meus pés, pegando-me na mão e explicando-me a sua decisão irreversível de sair de casa. E saiu.
   De mútuo consentimento, o divórcio foi célere. Menor que era, em relação a mim tudo ficou esclarecido, decidindo-se, claro está, pela minha permanência em casa com a mãe. As visitas do pai não teriam hora ou dia marcados. Foram de uma sensatez irrepreensível. Hoje, anos volvidos, admiro-os por evitarem ao máximo que sofresse. Viria a sofrer, sim, mais tarde, com o envolvimento da mãe com outra pessoa, o seu actual esposo.

     Posto isto, é pertinente dizer que acredito em separações quase perfeitas, se relacionamentos não os há. É possível minimizar os efeitos colaterais nos filhos e demais parentes envolvidos, assim haja calma e respeito. Porque o amor pode terminar, até mesmo a amizade, admito, mas nunca o respeito. E o respeito não necessita de se extinguir com o amor, a atracção. O respeito cimenta-se ao longo dos anos e, no caso dos pais, sempre existiu e esteve presente.
    Actualmente não têm contacto algum, nem interesse recíproco. Não se vêem há uns anitos. Mas sei que, acaso estivessem um na presença do outro, cumprimentar-se-iam cordialmente.

     Lastimo que figuras públicas, de responsabilidade acrescida, não se pautem pelos mesmos critérios.

26 comentários:

  1. O que me intristece nessa história da Barbara e do Carrilho é todo o lavar de roupa suja nas revistas, podiam apenas separar-se e ponto final.

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  2. Também me custa imenso, principalmente porque fui colega de um deles em tempos de escola :(

    Creio que muito mau que se acabe uma relação, o Respeito deveria perdurar.. E com filhos mais Respeito deveria Haver...

    Abraço amigo

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    1. A sério, Francisco? Suponho que da BG, visto que o Carrilho deve ter muito perto de 60 anos, se já não os tiver... Confesso que não sei a idade do senhor.

      É... o respeito é fundamental. Pessoas que dividiram o leito e que depois se maltratam de forma tão ostensiva é algo que me perturba indirectamente.

      abraço, querido.

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  3. 'A avó não tem por hábito ler este tipo de publicações, contudo, foi induzida pela curiosidade mórbida que afecta a generalidade das pessoas.'
    Ai tu deleitas-me com esta literatura, Mark. Olha, beijinho para a avó, viu. Eu acho que ela teve imensa coragem em ler a mórbida revista social. Este elogio também se estende a ti, visto que estás também muito a par do que se escreve e escreveu. Sobre o caso, é lamentável. Esta palavra basta para expressar a minha opinião, como os demais, aliás.
    E sim, contos de fadas na vida real dão nisto. Toda a gente sabe ou desconfia.

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    1. LOL, quanta ironia.

      E sim, a avó não costuma ler revistas do social, nem eu. E se sentiste alguma crítica no que escrevi, sentiste bem. Não a quem lê, como é evidente, cada um faz o que quer, mas às ditas revistas que lucram à conta do descalabro de outros. É uma imprensa pouco rigorosa.
      Engraçado, num texto que escrevi em que abordava um qualquer jornal tablóide, surgiram as mesmas observações. Não sou obrigado a gostar dessas publicações; não condeno quem gosta.
      Estou a par do que li e somente. Vi, entretanto, em letras garrafais e no meu percurso para o metropolitano, um título que dava conta de mais um escândalo relacionado.

      O texto insere-se num desenvolvimento em que relato a minha própria experiência. Pouco me importa o que faz ou deixa de fazer a senhora Guimarães e o senhor Carrilho.

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  4. É tão lindo esse teu coração de menino grande.
    P

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    1. Oh, obrigado, mas nada disso. :)

      Creio que é alguma serenidade na apreciação dos factos. É evidente que me revejo em todos os processos de divórcio de que tenho conhecimento, desejando que sejam rápidos e, hum, indolores o possível.

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  5. o que me choca nesta história (em relação à qual é difícil passar indiferente ou incólume) é como pessoas inteligentes, apetrechadas e até sofisticadas intelectual, cultural e socialmente, se entregam a comportamentos tão auto-destrutivos. é que o respeito perde-se, mas o sentido de auto-preservação e de protecção daqueles que amamos acima de tudo (como os filhos), devia manter-se. e não percebo como é que estas pessoas usam todas as armas para tentar ferir e magoar o outro, sem perceber que se estão a destruir a si próprios e àqueles que amam.

    agradeço-te muito teres aproveitado este pretexto para nos contares algo de ti, e de tão intimo e pessoal. e louvo os teus pais que, ao contrário dessas estrelas de novela de segunda categoria, souberam resolver um problema tão complexo com grande sentido de eficácia: fizeram de ti um homem maduro, inteligente, sensível, honesto e são. o que, hoje em dia, não é pouco e é muito raro.

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    1. Olá Miguel. Sempre sábias as tuas palavras... :)

      É realmente difícil não ter uma opinião sobre este processo tumultuoso. Queiramos ou não, a imprensa tem bombardeado tudo e todos, inclusive na internet, com mais pormenores.
      O factor 'choque' tem funcionado como um rastilho porque, como bem disseste, não se esperava nada disto de pessoas como o MMC, por exemplo. Um homem bem posicionado, culto, aparentemente acima de qualquer suspeita. E a Bárbara, mulher requintada, discreta. Mal sabemos nós o que se passa no lar destas pessoas...

      Obrigado. O meu objectivo era esse e, pelos vistos, tu percebeste-o. :) Mais do que falar de mim, quis falar dos pais e da nobreza que demonstraram durante a separação e, mais do que isso, pós-separação.
      Não sou nada assim! :D Sou bastante imaturo até, tenho ainda muito para aprender, mas esforço-me, garanto que sim. :)

      um abraço.

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  6. É de todo lamentável que muitos dos relacionamentos sejam suportados em areias movediças.
    Os danos colaterais são muitos a curto e médio prazo.
    Estilhaços de relacionamentos de fachada.
    Depois temos o jornalismo execrável, vestido de autênticos abutres que alimentam o seu ego com estas histórias sem história!!!

    http://diogo-mar.blogspot.com/

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    1. Absolutamente, Diogo! Quero acreditar que ambos estão descontrolados, daí esta novela. A imprensa, quais abutres, pegando nas tuas palavras, chafurda sempre, é inevitável. Se eles se dessem ao respeito, conseguiriam evitar grande parte das 'fofocas'.

      Irei ao teu espaço. :)

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  7. Como é que diz o povo? Quem está no convento é que sabe o lá vai dentro, estou de acordo contigo no que diz respeito à civilidade nestas coisas, pelas crianças e por eles próprios.

    Há muito mais nesta história do que o que temos acesso pelos media, só eles e aqueles que privam ou privaram é que sabem e nunca achei este casamento um conto de fadas, um conto sim, de fadas não.

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    1. Ditado sábio...

      Magoam-se mutuamente e magoam os filhos, o pior.
      Conto de fadas no sentido de que tudo parecia correr às mil maravilhas, idílico. Realmente, as histórias aparentemente perfeitas dão a desconfiar.

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    2. Sempre achei este casamento fabricado, sempre intuí que de amor havia pouco ou nada. Mas fundamento-me unicamente na intuição.

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    3. Estavas certo. Não tenho por hábito acompanhar a vida dos "famosos", entre aspas, muito entre aspas. Mas, em relação a estes, jamais levantaria qualquer suspeita.

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  8. é difícil passar ao lado desta triste novela, fingir que nada se lê, eu li, eu comentei com colegas, eu ironizei com ela, os 40 são tramados para as mulheres, digam o que disserem, a mim não me dá para a bebida nem para o botox, dá-me para os comics, são a minha catarse.
    ele é um fdp (desculpa a palavra), sou completamente parcial aqui, devia ser capado, esfolado, cruxificado.
    isto é mau demais, as crianças são o elo mais fraco. os danos serão muito difíceis de reparar e a imprensa, mesmo a dita mais séria, é absorvida pelo escândalo.
    se foi um casamento de interesse, nada importa, quantos não são nesta vida? a imagem conta muito, infelizmente.
    tens uns pais fantásticos, apesar do que passaram. respeito é a palavra-chave.
    bjs.

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    1. É impossível não se comentar aqui e ali. Escrever sobre a BG e o MMC serviu de pretexto para relatar a minha experiência, como afirmou o Miguel.

      Não consigo formar uma opinião em concreto, assim como não sei quem terá a razão, se ele, se ela. Ambos trocam acusações; é difícil ajuizar. No entanto, quanto a ele existe uma ex-mulher que veio a público dizer o que sofria nas suas mãos. Não abona em nada a seu favor, ou seja, tudo leva a crer de que a vítima foi mesmo a Bárbara.
      Ele foi um escroque ao vir dizer o que disse da ainda cônjuge. Ela apenas colocou uma queixa por violência doméstica. Não tenho conhecimento de nada mais além disso, da parte dela. As crianças são as mais prejudicadas...

      Não acredito no casamento por interesse. Interesse dela? Ela já era famosa antes de o conhecer. Ela é apresentadora há imensos anos. Recordo-me de ser pequenito, mas pequenito, e ela já andar nisto.

      Obrigado, Margarida. Foram realmente uns pais exemplares.

      beijinho. :)

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  9. Supostamente duas pessoas educadas e cultas não se deviam portar assim, não só por causa do filhos, mas pelo espectáculo degradante que dão publicamente. E as revistas cor-de-rosa vendem-se aos milhares, para gáudio de todos nós, que queiramos ao não, temos que levar com essa história que até no noticiário da Sic passa.
    Como se houvesse algo de edificante para tirar dali. lolXD
    Enfim...

    Abraço Mark :)

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    1. Passou no noticiário da SIC? :O Dessa não sabia eu! Que exagero! Não é assunto de relevo para o país que mereça destaque num noticiário. LOL Parece a TVI há uns anos quando passava 'cenas' do Big Brother no Jornal Nacional das 20h. Bem, vistas as coisas, aquilo nunca foi um noticiário. xD

      É... 'broncas' destas daqueles lados ninguém esperava. :s

      abraço, Arrakis. :)

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  10. Bem, eu ouvi a história nas notícias, mas não perdi tempo a ler sobre ela. Infelizmente este é aquele tipo de situações que os media acrescentam sempre mais e mais "pontos", para poderem vender mais revistas...e quanto mais escandalosas forem as notícias, pior...

    É disso que o povo gosta... :/

    Tenho pena, isso sim, dos filhos. Serem vítimas desta brutalidade imposta pela fama dos pais, serem provavelmente colocados de lado nos colégios, gozados pelos restantes miúdos, porque deve ser já um fardo pesado serem filhos de pessoas famosas, quanto mais quando acontecem escândalos como estes.

    Não sei quem tem razão nesta história, nem sei o que será real nesta história, mas acho que os media deviam respeitar a privacidade das pessoas, mais que não seja, o Dr Manuel Maria Carrilho deveria interceder junto do Ministério Público e colocar uma acção contra os media para proteger a intimidade e a privacidade não só do casal mas dos filhos.

    Cada caso é um caso e neste caso em particular, ninguém sairá a ganhar com este triste "espectáculo". Caso seja verdade e a Bárbara Guimarães esteja com problemas, então porque ninguém a ajuda?

    Onde estão os amigos e familiares dela quando são precisos? São amigos apenas pela aparência? Pelo glamour? Pelos interesses e relações comerciais? Desejo-lhe as melhoras e votos de que fique bem, pois é triste ver uma pessoa como ela assim.

    Beijinhos :)

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    1. Eu por acaso li por mera curiosidade. Não pelos escândalos, mas de forma a tentar perceber melhor os contornos... Ingenuidade minha, claro, a de acreditar que poderia encontrar algum rigor na dita imprensa cor de rosa...

      As crianças, como já foi referido, são sempre as maiores vítimas, não só dos processos complicados de divórcio como também das situações de violência anterior à separação. Neste caso, sobretudo o menino mais velho, sujeito que está a ditos, mexericos e 'piadas' por parte das outras crianças. E todos sabemos o quão as crianças conseguem ser más e mesquinhas quando querem.

      Referiste os procedimentos jurídicos a adoptar e fizeste muito bem. De facto, qualquer um dos dois poderia intentar uma acção com vista à obtenção de um processo cautelar, por exemplo.

      beijinho.

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  11. Uma reflexão muito coerente e sensata.
    Exemplos foram afinal os teus pais! Ainda que figuras públicas, infelizmente retratam a realidade da maioria dos casais e das situações que vamos encontrando nas nossas escolas. Talvez não saibam que as principais vítimas são os próprios filhos!
    Abraço.

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  12. E assim se perde a sensatez e o mérito...
    Eis-nos perante o trivial e decadente na nossa sociedade. Aquilo que nas nossas escolas encontramos, com crianças jogadas entre adultos que procuram nelas semear o ódio pelo outro progenitor. Outra má dimensão do ser humano, efusiva que apenas prejudica ... os menores! :(
    Big hug

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    1. Situações que influenciam decisivamente a personalidade das crianças que convivem no meio destes ambientes. Os adultos já estão educados, como se costuma dizer, 'criados', mas os pequenitos são o fruto do que fazemos deles, dos exemplos que lhes damos. Horrível é o pai ou a mãe que incute o ódio pelo outro progenitor. Depois, é toda uma violência que transborda para os colegas, para os professores... Dramático.

      um abraço grande.

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