21 de agosto de 2011

Pisando o molhado.


Gosto da neblina. Gosto sobretudo de a observar sobre a cidade. A mística conferida torna o ambiente diferente. O verde ganha uma vivacidade especial. A chuva da madrugada de sábado animou as plantas do jardim da avó, onde dormi, e onde passei a manhã. Adoro andar descalço na calçada do jardim. Sentir o frio a trespassar a pele fina dos pés. A chuva da madrugada ainda salpicava as plantas, agora mais vivas do que nunca. Colhi um jarro e coloquei-o perto do nariz para sentir o seu aroma. Se a mãe tivesse visto... Não posso andar descalço, à chuva, nem sentir o pólen das flores. Contudo, sinto-me livre ao contactar com a Natureza, saindo da redoma de vidro, quase cristal, em que sempre vivi. Sentir o vento nas costas, o molhado na pele, o cheiro intenso de terra fresca. Viver a manhã, não como mero observador, mas no palco principal.
Tossi. O corpo ressentiu-se da minha audácia e da vontade feroz de romper fronteiras.
Entrei para dentro e, ao invés dos cereais com leite, optei por um sumo natural de laranja. Fruta da terra trazida pelos caseiros da avó. Fruta daquela que dispensa açúcar. Senti o doce nos lábios. Parecia perfeito, mas há sempre algo que demonstra que a realidade nem sempre é assim tão idílica.
O céu escureceu mais um pouco. A sala também, repercutindo-se agora num profundo temporal no meu espírito.

5 comentários:

  1. Mark,

    partilho esse teu prazer por pisar o molhado, de olhar os verdes, sentir as fragrâncias das flores,...
    E como fizeste bem em, no lugar de cereais, teres optado pelos "frutos" da Natureza, sem qualquer ação do homem no genes dos cereais (ou outras técnicas).
    Mas o "profundo temporal no meu espírito" confunde-me: poesia, ambivalência de sentires ou aquela "solidão" para com a qual insisto sempre em o convidares para junto de ti? Mesmo como amigo... Dos anos que me dediquei à Educação especial, tendo tido de "brincar" aos psicólogos dado a escola nenhum ter, pareces-me ainda ter tanto a arrumar nessas gavetas em relação ao teu pai e ao divórcio dos pais... Fala. Fala com o que amas, com quem confias. Liberta os fantasmas e organiza as gavetas.

    Não estás só!

    Abraço.

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  2. Fogo Mark... adoro a tua sensibilidade na escrita...

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  3. concordo ali com a cláudia... a tua escrita revela muita sensibilidade adoro ler-te.
    abc

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  4. E eu concordo com o que diz o Paulo; um belo comentário a um excelente texto.

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  5. Um misto tão perfeito de sensações e (quem sabe?) recordações e depois o desabar da tempestade.
    Porquê?

    Abraço grande

    http://www.rabiscosincertossaltoemceuaberto.blogspot.com/

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