Ainda deixo a luz do candeeiro ligada enquanto durmo. Uma luz âmbar, alaranjada, fraca o suficiente para me deixar dormir, embora forte para afastar os monstros que teimam em assombrar o meu sono. O teto, no escuro, assume formas estranhas, indecifráveis, de contornos irregulares, cujo o afastamento se dá com a luz / presença do meu abat jour. De pálpebras cerradas, consigo sentir a luz alaranjada a iluminar-me a retina. Sinto o calor de um aconchego inexistente, uma segurança imaginária que não existe para além da minha vontade.
"Dormes de luz apagada?"
Consegues fazê-lo, como todos, mas perdoar-me-ás esta pequena fraqueza. Necessito desse amparo tão meu, dessa proteção concebível por mim quando nada mais posso fazer. Se soubesses o que se passa quando estou no escuro, provavelmente compreenderias o que sinto. Os monstros saem debaixo da cama, do roupeiro e vêm assombrar-me. O divórcio dos pais trouxe-me o medo, rebuscado quando, de madrugada, na infância, gritava pelos seus nomes por temer o escuro. O medo, afinal, nunca passou. O pai ou a mãe vinham, sentavam-se na pequena poltrona azul e zelavam por mim até que adormecesse. As sombras, quase por magia, desapareciam.
"Podes fazê-las desaparecer novamente?"
... Se ao menos estivesses aqui, de noite, poderia desligar a luz e deixar-me adormecer. Segurarias em ti o meu sono, porque quando durmo estou em paz.
Quando acordo a luz está desligada. Ou não. Já se fundiram de madrugada, já se esbateram com a luz da alvorada, já foram desligadas pela mãe.
O candeeiro pode, por fim, descansar.
Os monstros esconderam-se nos seus abrigos secretos.
Quando a chuva não cai, unindo-se a mim, o sol brilha. Já não me aquece mais.
Amei este texto... Excelente mesmo... =)
ResponderEliminarHugz*
Abraço, Someone. ^^
ResponderEliminarNão...não consigo...os fantasmas.
ResponderEliminarE atenção...não são os fantasmas dos mortos que me perseguem noite fora...esses não me assustam... São sim, os fantasmas dos vivos.
Gostei muito de te ler...como sempre.
Abraço
http://rabiscosincertossaltoemceuaberto.blogspot.com/
Obrigado.
ResponderEliminarSim, devemos temer os vivos e não os mortos. Os meus "fantasmas" são más memórias e medos, alguns de infância, outros atuais.
Abraço. (:
Gostei muito do seu texto, simplesmente encantador!
ResponderEliminarquero lê sempre agora!
http://homemgama.blogspot.com/2011/08/desafio-livros.html
Mark,
ResponderEliminaraos poucos conseguirás libertá-los. Estou certo que após escreveres e publicares os teus "momentos", sentes-te aliviado. Sim, escrever pode ser terapêutico! Para mim é-o.
Não receies qualquer julgamento e por vezes foge mesmo à poesia ou correção: tens amigos, ainda que virtuais!
Abraço.
Adorei.
ResponderEliminarAdorei, parabéns, texto lindo. E eu ainda durmo de luz ligada (:
ResponderEliminarEspero que em breve não precises mais da luz ligada,pois outra luz dormirá contigo e afastará os medos...
ResponderEliminarJá pensaste em dormir abraçado ao Simba ou a um outro peluche?
ResponderEliminarEu só consigo dormir se estiver tudo muito escuro. Se estiver a dormir e começar a sentir alguma claridade no quarto, é certo que vou acordar...o mesmo com o ruído...
Há dias porém que os fantasmas também me assombram. Nesses dias gosto de dormir agarrado a um dos muitos peluches que tenho.. ^///^
Ele protege-me. :)