Dia 1 de Novembro tem vários significados e o mais óbvio é, sem dúvida, o significado religioso. Associamos este dia ao tradicional dia dos Finados, embora o correcto seja a comemoração ao dia 2. Hoje o dia é o dia de Todos os Santos, o que liturgicamente corresponde à celebração em honra de todos os santos e mártires da Igreja Católica. No entanto, as pessoas escolhem este dia para visitarem as campas e ossários daqueles que já partiram.
Mas, em Portugal, este dia tem mais um significado; foi no dia 1 de Novembro de 1755 que se deu o Terramoto de Lisboa, acontecimento que destruiu uma parte significativa da cidade, antecedendo um poderoso maremoto que matou milhares de pessoas e fez desaparecer importantíssimos monumentos nacionais. A família real escapou ilesa porque nesse Domingo, D. José I (1714-1777) resolveu dar um passeio com toda a família por Belém. Se tivessem ficado no Paço naturalmente tinham perecido já que o Palácio Real, que se situava na actual Praça do Comércio, foi totalmente destruído, levando consigo numerosas obras de arte e documentos históricos de elevada importância. Só a determinação do futuro primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês de Pombal, salvou a capital do Reino da ruína total, muito com a ajuda das remessas de ouro do Brasil, diga-se... O Terramoto de Lisboa de 1755 teve um impacto muito forte na mentalidade da época e ajudou a desenvolver os estudos sísmicos que começaram a aparecer, de forma ainda débil, na sociedade de então. Filosoficamente, e devido ao contexto Iluminista em que se inseriu, o Terramoto também provocou reacções, por exemplo, em Voltaire que deixou alguns trabalhos sobre o sucedido. O impacto ajudou, nomeadamente ao Marquês de Pombal, a ascensão a Primeiro-Ministro. D. José terá ficado eternamente grato a Sebastião José pelo facto de ter reconstruído Lisboa num espaço tão curto de tempo. Só a sua fobia não teve cura, pois o Rei continuou a viver num Acampamento Real nos arredores da cidade. O povo, esse, continuou a passar fome e privações. Seguiu-se todo o esplendor absolutista defendido por Sebastião José: os julgamentos e execuções arbitrários (o caso da família Távora e do Padre Malagrida) e a perseguição religiosa (expulsão dos Jesuítas). Mas também se extinguiu a diferença social entre cristãos novos e velhos, criaram-se companhias comerciais essenciais para o país e aboliu-se a escravatura, embora apenas no Reino e não nas colónias, o que originou um Despotismo Esclarecido de base iluminista, embora autocrático. É uma época incoerente; progressista em alguns aspectos, conservadora noutros, o que não retira o encanto do magnífico século XVIII.
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