16 de fevereiro de 2023

Crime e Castigo.


   Escandalosamente, só agora terminei de ler este clássico da literatura universal. E comecei-o há meses. Entretanto, entre as mudanças para a nova casa e as minhas crises de saúde mental, fui deixando a leitura de lado.

    O que se poderá dizer de Crime e Castigo que ainda não tenha sido dito? É uma obra sobre os dilemas morais e filosóficos das condutas humanas, das más condutas humanas; os tormentos psicológicos entre o que é e o que devia ser. A narrativa está repleta de acontecimentos comuns do quotidiano, porém, todos revestidos de uma enorme tensão. Não se vislumbra um único momento de paz de espírito nas personagens. Há, além do medo, uma ansiedade, como se estivesse algo de pior por acontecer. Será esse, enfim, o castigo que cada um carrega quando a consciência nos condena permanente e perpetuamente. No final, contudo, Dostoievski é cínico o suficiente para nos abrir a porta a um cenário de esperança que, a cada palavra que escreve, desmente, por tudo aquilo que vocês também terão lido e saberão, suponho. 

6 comentários:

  1. Desconhecia de todo, mas não sou perfeito
    Obrigado pela partilha,
    Abraço amigo Mark

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    1. Ninguém é, e não és menos perfeito por não teres lido este livro. Nem todos somos ratos de livraria como a outra dos gatos. Ainda é viva?

      Um abraço, amigo.

      Mark

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  2. Esta obra li-a quando era, talvez, um pouco jovem em demasia, no entanto, na altura, os russos entusiasmavam-me, com Liev Tolstoy à cabeça (a sua "Guerra e Paz" foi-me importante para entender a respetiva conjuntura europeia - eu andava em batalha com o Napoleão -, e a "Anna Karenina", interpretada no cinema pela Garbo, foi uma descoberta sensacional na altura. É interessante que li quase em simultâneo a Madame Bovary de Flaubert, e foram duas obras que me abriram um mundo feminino com o qual eu ainda ando às voltas), seguido de Dostoiévsky - gostei imenso de "Os Irmãos Karamazov", para lá deste "Crime e Castigo"; e os "Pais e Filhos" de Turgenev entusiasmou-me de forma moderada na altura. Não voltei a ler muitas destas obras, assim, não sei bem como as veria hoje.
    Como não aprecio o suficiente o teatro, evitei Tchékhov, como dramaturgo, e creio que foi uma falha, pois a sua obra ultrapassa muito o teatro. Como homem, aprecio-o de forma desmedida, dada a sua vida e o cuidado que sempre teve em ajudar os necessitados.
    Tendo lido só uma das obras de Pushkin, não me sinto muito à vontade para falar deste último. Pela mesma razão tenho falhas com Gorky, do qual só li "A Mãe", e confesso não ter apreciado, dado que as convulsões políticas de inícios do século XX na Rússia não me terem interessado muito.
    Este Crime e Castigo, lembro-me dos problemas morais do autor dos crimes, e, à altura, não os percebi muito bem, pois a minha mente não estava virada para essa situação. Talvez hoje, com a maturidade da velhice e da quantidade de anos que por mim passaram, talvez os entendesse melhor.
    Há coisas que devem ser lidas em momentos corretos do nosso desenvolvimento mental. É possível que tivesse sido preferível ter lido muitas destas obras quando já era mais velho, pois a minha maturidade ter-me-ia revelado muitos aspetos que seguramente me escaparam na altura.
    Continuação de boas leituras e divirta-se no processo, pois é para isso que a leitura serve também.
    Cumprimentos
    Manel

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    1. Olá, Manel

      Lê-lo é sempre um privilégio. De todos os que citou, tenho, em lista de espera, “Anna Karenina”, “Guerra e Paz” (este dividido em dois tomos, numa edição antiga do Círculo de Leitores) e “Os Irmãos Karamazov”. Anoto os demais títulos para as compras futuras. Gosto de comprar clássicos, uma vez que são uma compra segura de boa literatura, e da mais moderna tenho algum receio. Naturalmente que os clássicos, à parte das grandes lições que contêm, podem ser enfadonhos e difíceis (por exemplo, o “Ulisses”, de Joyce). “Crime e Castigo” é ligeiramente aborrecido. Quando leio clássicos, mesmo que os considere aborrecidos, penso sempre que o defeito é meu -e tem de ser; quem seria eu para pôr em causa os grandes mestres-, daí que me comprometa, dê por onde der, a terminá-los, nem que os olhos se me cerrem constantemente. As lições, pois, talvez não seja maduro o suficiente para apreender algumas. Neste “Crime e Castigo”, o que me ressalta imediatamente é que o crime, pelas repercussões na paz de espírito, não compensa mesmo. O terror vivido por aquele rapaz é um inferno. Haverá muitas outras, suponho eu. Sou pouco maduro, pouco experiente (ainda que não pouco sofrido, digo eu, e espero não estar a ser injusto com a vida, Deus, sei lá). Escapa-me muito. Sou pouco intuitivo.

      Obrigado, Manuel. Cumprimentos.

      Mark

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    2. Achei interessante falar do "Ulisses", de Joyce. Nunca o consegui ler, de tão aborrecido (ainda está nas minhas prateleiras, mas invicto!), e como acho que a literatura deve ser essencialmente prazer a par da descoberta, no contacto com outras mentes, recuso continuar a ler quando ultrapassa estes limites.
      Outra pessoa que tenho muita dificuldade em entender, e nunca consegui ler nada dela até ao fim, é Virgina Woolf. Outro escritor que me aborrece de morte é o Saramago, recuso totalmente lê-lo. Consegui ler-lhe o "Memorial do Convento" (só consegui ter prazer a ler a porção inicial do livro), mas a duras penas, e decidi que nunca mais. Ele que vá aborrecer outros, sobretudo os que dele gostam, pois é considerado uma "vaca sagrada".
      Outra pessoa, das consideradas "vacas sagradas", que tenho muita dificuldade a ler é Fernando Pessoa, quer o ortónimo quer os seus heterónimos. Consigo ler excertos somente.
      Enfim, a literatura fez-se para comunicar ideias e, nesse processo, alimentar e enriquecer o nosso mundo interior e dar-nos prazer enquanto o faz, tudo o que falha nesta conjuntura ... deixo de lado para quem gosta.
      E não deixo que outros exerçam coerção mental sobre mim, dizendo-me que terei de se ser obrigado a ter prazer na leitura do que a sociedade "ilustrada" considera "clássicos", sob pena de não ser considerado culto ou "inteligente" ... este raciocínio funcionou enquanto fui jovem, e ainda a descobrir-me, hoje em dia mando essa gente "pentear macacos".
      Obrigado pelo seu comentário
      Manel

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    3. Tenho uma história curiosa com o Ulisses: comprei-o em três versões. Em galego, em português do Brasil (considerada a melhor tradução, uma antiga, pela dificuldade) e finalmente em português europeu. Comecei a lê-lo em português do Brasil e abandonei a sua leitura nem tanto por tê-lo achado difícil, senão por não me adaptar àquele português, o que demonstra que não são só eles que têm dificuldade em adaptar-se ao nosso; o inverso também sucede. Chego ao ponto de sentir aquele português deles mais estranho do que o castelhano (o português europeu e o castelhano de Espanha partilham muitas semelhanças semânticas).

      Ainda não li nada de Virginia Woolf (tenho ali livros à espera), e de Saramago também não. Outra falha, quiçá. No 12° ano (como já se passaram uns aninhos posso contar a batotice) li o “Memorial” pela internet, em resumos, e foi com eles que fiz um trabalho de power point, e apresentei na aula, e o exame nacional de português. Os resumos que li foram o suficiente. Assim sendo, não tenho como dizer o que penso de Saramago.

      Quanto aos clássicos, realmente compro-os seguindo o gosto universal. Tanta aprovação há-de querer significar algo, digo eu. Tenho medo de arriscar em autores que não conheço, ainda que dos outros pouco mais saiba que o nome e a fama.

      Um grande abraço.

      Mark

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