14 de julho de 2022

In memoriam.


   Hoje, ao vasculhar o meu e-mail lá por 2014/2015, dei com umas fotos antigas de que nem tinha conhecimento. Duas fotos onde surjo com o meu amigo Miguel Botelho, um dos bloggers mais antigos, falecido em 2019 após vários anos, muitos mesmo, de uma luta inglória contra um tumor agressivo. O Miguel relatava no seu blogue, que poderão encontrar aqui (um voo cego a nada), todos os processos médico-cirúrgicos por que passou ao longo do tempo, e foram muitos, que lhe provocaram um enorme sofrimento, sem que porém se resignasse. O Miguel enfrentou o cancro sempre com a mesma tenacidade e coragem. A sua morte, entretanto, assim espero, trouxe-lhe finalmente a paz que não pôde encontrar em vida.

   Estive com o Miguel algumas vezes, e recordo-me que, aquando da notícia do seu falecimento, me lastimei por não ter, presumia eu, uma foto consigo, onde constássemos os dois. Encontrei hoje, misteriosamente, uma, neste ano horrível. Ali estamos nós, no jardim Amália Rodrigues, perto do Parque Eduardo VII, numa cálida tarde de Verão. Depois, fomos almoçar numa das transversais à António Augusto de Aguiar. Não sei se terá sido a última vez que estivemos juntos. O que sei, sim, é que a doença já se manifestava de uma forma ostensiva, não lhe permitindo estar mais do que alguns minutos sem que tivesse que acudir de novo, uma e outra vez, à casa de banho. E todos nós, os que ali estávamos com ele, éramos testemunhas daquele sofrimento e incómodo, que o Miguel dissimulava com um sorriso, a sua simpatia e educação. É este o Miguel que recordo: um homem educado, culto, ávido devorador de livros, e discreto. Discreto nas relações pessoais, íntimas e menos íntimas.

    A descoberta da foto, chamemos-lhe assim, foi o mote para esta publicação. Deixo-a aqui, e faço-o porque sei que o Miguel não se importaria. Ele mesmo tem fotos suas no espaço que nos deixou como legado, por assim dizer.



    A propósito, e porque talvez algum de vocês saiba interceder junto seja de quem for, a minha tartaruga faleceu há três dias, depois de 27 anos e 7 meses comigo. A quarta morte do ano, uma mais que se vem somar ao rol de tragédias.

9 comentários:

  1. Como Acredito na vida depois da morte, apesar de não ter conhecido, acredito que ele esteja bem e contente por saber que te lembras/ te dele :)
    Também acredito que os animais morrem, deixam esta vida por amor, quando perdem os seus donos/as
    Não sei quantos anos vive uma tartaruga num aquário, mas acredito que ela esteja bem :)
    De facto, os animais também nutrem e tem sentimentos como nós
    desculpa este post tão esotérico
    Grande Abraço amigo e força

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  2. Acredito que ele tenha ficado contente por te teres lembrado. :) Não sei quantos anos vive uma tartaruga em aquário, mas acredito que também morrem por amor.
    Grande abraço amigo
    Francisco

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    1. Olá, amigo Francisco.

      Creio que o conheceste num jantar da blogo, em 2013. Tenho quase a certeza que sim. Provavelmente não falaram muito um com o outro, mas tu e ele estavam lá.
      Quanto à tartaruga, morreu velhinha. Esta espécie vive sobretudo entre 20 e os 30 anos. Algumas ultrapassam os 30. Como nós. Alguns, poucos, ultrapassam os 100.

      Um abraço grande e obrigado pelo apoio.

      Mark

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  3. Olá Mark, é verdade, o Miguel deixou-nos um vazio difícil de preencher e ainda hoje continuo a sentir falta da sua simpatia, generosidade e das suas opiniões cultas e equilibradas. Um forte abraço para ti. João

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    1. Olá João.

      O Miguel faz falta, sim, inclusive aqui na blogo. Sinto falta da sua escrita lúcida e informada. Já lá está. Acabou-se-lhe toda aquela angústia e o sofrimento que a longa doença lhe provocaram.

      Um grande abraço.

      Mark

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  4. É possível, se estivemos no mesmo jantar. Não me recordo, já faz muitos anos. Desde que estou em teletrabalho, sinto me mais patareco e que a minha memória visual está se a perder. É a idade
    Grande abraço amigo
    Francisco

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    1. Até eu estou patareco, e tenho 36 anos. Às vezes, a falar, não digo coisa com coisa. Elas não matam, mas moem.

      Sim, estiveram. Foi naquele jantar na Amadora. Aquele em que tu depois até me levaste à paragem de táxis. Já foi quase há 10 anos. O tempo passa a correr.

      Um grande abraço.

      Mark

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  5. O tempo passa a voar
    :)
    Grande abraço
    Francisco

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    1. Passa… e é impiedoso.

      Um abraço, amigo.

      Mark

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