18 de abril de 2020

Diesel.


     Instalado aqui em Espanha e tendo um apartamento amplo, decidi adoptar um cão. Comprar estava fora de questão, com tantos animais abandonados por aí. Estivesse eu em Lisboa e a minha mãe não me deixaria, temendo um agravamento da minha asma. Não sofro de crises iguais às da infância, se bem que volta e meia a doença se faz sentir - estive doente há semanas, já aqui em Espanha, com uma infecção respiratória. 

    Contactei um abrigo galego de animais abandonados e apaixonei-me imediatamente pelo Diesel, um cãozinho mestiço de 4 a 6 anos de idade encontrado numas bombas de gasolina de Verín, junto ao diesel, o que lhe veio a inspirar o nome. O Diesel estava muito maltratado, com otites graves, uma infecção ocular e cheio de carrapatas. Não tinha vacinas, como se calcula, e trazia um chip não-registado português, o que dá a entender que foi abandonado por portugueses junto à fronteira. Não tivesse sido acolhido e morreria. Decidi manter-lhe o nome, afinal, não sabendo absolutamente nada do seu passado, Diesel é um ponto de referência. Foi ali, entre os combustíveis, que o deixaram à sua sorte.

     Assim que nos vimos, o Diesel urinou na minha mochila. A coisa começou bem! Encontrámo-nos junto a uma clínica veterinária e lá pude comprar-lhe umas coisinhas: uma cama (que não usa, e que urinou duas vezes), o comedouro e o bebedouro e alguns brinquedos (aos quais não liga). Foi tudo tratado devidamente. Adoptei o Diesel seguindo todas as formalidades. Já tem a sua documentação e eu sou o seu legítimo tutor. 

        
    A adaptação do Diesel tem sido regular. Está connosco há três dias. No primeiro, assim que chegou, urinou pela casa e fez cocó numa das carpetes. Já marcou o território várias vezes, levando a que, inclusive, tivéssemos de lavar a colcha da cama, ao tê-la brindado com o seu alçar de perna. É extremamente meigo e sossegado. Não ladra. Tomou dois banhos seguidos (que tinha um cheiro insuportável) e tão-pouco rosnou. Apenas ficou mais agitado, o que é natural. É todo um mundo novo, cheio de desafios. Pessoas e lugares diferentes. Conhece-nos cada vez melhor e nós a ele, e já vai sabendo onde pode entrar e onde não pode. Em regra, os quartos estão vedados. Tem acesso aos demais cómodos. Ainda é cedo para lhe abrir todas as portas. Tememos que, reiteradamente, repita o que tem feito. Por enquanto, o que mais me preocupa é a sua alimentação. Não come da ração que lhe comprámos e nem come toda a comida que lhe faço. Parece preferir ossos. Encomendei uma ração caríssima e estou a ver que nem lhe toca.

      Uma vez que não gostei do veterinário que o viu, escolhido pelo abrigo e no dia em que o fui buscar, levei-o a uma aqui de Trives que já lhe administrou a primeira dose da vacina que abrange sete doenças. O Diesel não está castrado, numa opção a considerar. Afortunada e estranhamente, não tem leishmaniose. Num cão que esteve na rua, é quase milagroso.

     Passando os dias entre o sofá e a carpete, que adora, ao Diesel também agrada correr pelos campos, e isso é o que não falta destes lados. Claro está que ter um animal, sobretudo um cão, é trabalhoso: há que levar a passear, por exemplo, uma obrigação que a muitos resulta impossível ou de difícil cumprimento, levando-os a escolher gatos. Em todo o caso, e é o meu primeiro mamífero, o meu primeiro cão, não se trata de um hábito a adquirir apenas para eles, senão de igual modo para nós. Ter decidido adoptar o Diesel fez com que começasse a ter outras responsabilidades, e isso é bom. Foi bom para si e para mim. Resta-me apresentá-lo.



4 comentários:

  1. Que olhar tão meigo :)

    Abraço amigo

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  2. Muito bonito o seu cão, e fez muito bem em adoptar ... há tanto cão abandonado! Ainda bem que o fez.
    Muitas e boas energias positivas na sua vida :)
    Manel

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  3. É lindo!!!! E que nobre atitude que tiveste :) Tomara muitos e muitas, ter esse comportamento. E continuo a não acreditar que existam pessoas capazes de abandonar assim animais à sua sorte. Os humanos são de facto, a pior coisa que existe.

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  4. Ahhh. Ele é muito fofo. Criar um cachorro hoje em dia não é fácil.

    Bom fim de semana!

    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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