9 de outubro de 2017

Da direita.


   Pedro Passos Coelho anunciou a sua não-recandidatura à liderança do PSD. Bem como referi no artigo atinente às autárquicas, não há muitas individualidades no seio do partido dispostas a tirá-lo do lamaçal em que o ainda presidente o jogou. Ouvimos falar de Rui Rio, de Luís Montenegro, de Paulo Rangel e, curioso, de Pedro Santana Lopes.

   O PSD é um dos partidos do centrão. Numa democracia como a portuguesa, exige-se que haja uma alternativa credível ao poder instalado. É saudável que assim seja. O PSD pós-2015 insistiu, muito por culpa do seu líder, num discurso derrotista que não encontrou correspondência com os factos, com a realidade do país. A natural consequência foi a do descrédito do partido, e da sua orientação manifestamente neoliberal, junto do eleitorado. A pesada derrota de 1 de Outubro e o anúncio da não-recandidatura de Pedro Passos Coelho darão um outro fôlego ao PSD, no momento em que Rui Rio se prepara para comunicar aos sociais-democratas e ao país as suas intenções de se apresentar como candidato à presidência.

    Rui Rio é um homem moderado, interessado em encontrar consensos, adepto dos pactos de regime. O bloco central, que assusta o Presidente da República e determinada ala no PSD. Eu, entretanto, defendo que quer o PS, quer o PSD devem assumir-se como diferentes, muito embora, em matérias sensíveis e de superior interesse nacional, saibam convergir quando é necessário. O PSD afastou-se sobremodo do seu ideário fundador, perdeu votos entre os jovens, entre os moderados. Extremou posições. Importa recolocá-lo ao centro sem medos, porque é ao centro que se ganham as eleições.

     Santana Lopes, com a decisão conjunta, mas não combinada, suponho, de Paulo Rangel e de Luís Montenegro de afastarem qualquer intenção de se candidatar, surge como segundo nome. Santana Lopes dispensa apresentações. O currículo político e pessoal fala por si. O período, curto, felizmente, em que governou não deixa saudades. Em sua defesa, devo dizer que não governou em circunstâncias favoráveis. Grosso modo, como Passos Coelho.
    Para liderar um partido com aspirações de poder, convém ter certa envergadura, credibilidade pública, inspirar confiança nas pessoas. Pedro Santana Lopes não reúne estas condições. Acredito que aceite o desafio; é um homem que não teme comprometer-se - verdade seja dita, tem pouco a perder.

     Há muito que se fala em Rui Rio. O ex-autarca nunca quis avançar, talvez por sentido de estratégia, talvez por não estar preparado para embates nacionais. Liderar o PSD é distinto de liderar a Câmara Municipal do Porto. É bem provável que o faça agora, dado que nenhum adversário de peso se lhe pode opor. Fala-se em cerca de sessenta por cento do partido favorável à sua candidatura.


     A direita portuguesa deve reestruturar-se. O CDS, pela deriva a que assistimos no PSD, tem sabido capitalizar os votos e o apoio daquela direita que não cede ao centro. Passos Coelho deixa, a Rui Rio, uma herança bafienta que cabe ao próximo líder repudiar. Recuperar um pouco do PPD, reconquistar aqueles que acreditam na afirmação do sector privado face ao público, na diminuição do Estado na vida dos cidadãos, particularmente do Estado português, pouco amigo, pesado. Incentivar ao investimento. Mais importante ainda, ter outro discurso. Não apresentar ao eleitorado um caminho obstinado e surdo de contenção. Não vai ser fácil. Compreendo as reticências de Rio.

4 comentários:

  1. Ah! Esta política contemporânea, em qualquer ponto do planeta, não nos deixa opções ... tudo muito difícil ...

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  2. Curioso em ver quem irá ficar na frente no PSD. A meu ver, os sociais democratas não deveriam apresentar qualquer candidatura e deixar o PS governar. Até entrarmos em Bancarota... É uma questão de tempo, outra vez. Mais dois a três anos se tanto...

    Abraço amigo

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