1 de agosto de 2017

Dias Difíceis.


    Desde que o Governo assumiu funções que não se havia deparado com tamanhas polémicas desestabilizadoras da solução governativa alcançada. O mais caricato é que há maior demérito do Governo do que mérito da oposição. Antes de começar, quero deixar claro que tenho sido, e continuo a sê-lo, um apoiante do Governo e da aliança à esquerda; todavia, sou independente e fiel apenas à minha consciência.

    O PS não soube lidar com a tragédia de Pedrógão e com o furto de Tancos. Houve desautorizações, falta de liderança. Os ministros com as respectivas tutelas disfarçaram mal o desnorte, e ficou evidente que, quer num e quer noutro caso, houve indolência do Governo, para ser simpático. Falharam as redes de informação interna, falhou a segurança nos paióis. Reuniões, que por lei são obrigatórias, deixaram de ter lugar... Em ambas as situações, o Governo viu-se fragilizado. António Costa, até então tão seguro, procurou contornar as polémicas, mas parece-nos evidente que este governo não é o governo do início do mês de Junho.

    Entretanto, do lado da oposição deparamo-nos com o seu maior partido, o PSD, sem rumo e orientação política, refém das autárquicas, direi eu, para substituir o presidente. O acólito CDS, através da sua líder, tem-se saído melhor. Pedro Passos Coelho deu um tiro no pé ao levantar suspeitas sobre o número de mortos, os alegados suicídios. A imprudência veio-se a confirmar. E a actuação do Governo tem sido profícua em casos: as viagens de Secretários de Estado, as máfias das matrículas escolares em Lisboa (o Ministério da Educação tem algo a dizer), a CGD, o SIRESP... Só a desorientação da oposição justifica que, entre tanto caso problemático, nada tenha resultado daqui, nenhuma consequência política ao Governo - falo-vos de uma moção de censura. Provavelmente tê-la-ão guardado para um momento (ainda mais) oportuno.


    Da parte do outro agente político, o Presidente da República, deu-se um afastamento face ao Governo, uma dissonância ainda tímida. Enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa, e compreensivelmente, sentiu um certo desconforto. Visitou os paióis, foi ao « limite dos poderes ». Na altura, e quando escrevi sobre o assunto (uma das minhas últimas crónicas), critiquei-o pela apatia. Ora bem, a sintonia já não é total. Sucedem-se os recados políticos - e um Presidente deve-os à nação - e pairou, pelo menos na entrevista concedida ao Diário de Notícias, a hipótese da "bomba atómica". Falou-se nela. Falar-se nela já indicia algo. O Presidente da República foi claríssimo, no meu entender, quando aludiu à demora dos seus antecessores em dissolver a Assembleia, procurando evitá-la, vendo-se obrigados a fazê-lo, ou seja, Marcelo não hesitará em dar uso aos poderes que a Constituição lhe confere quando sentir que o actual consenso governativo se esgotou.

      Se tanto na política, o Verão tem sido bem quente. Não tivemos ainda semanas mortas. Em Setembro ouviremos falar muito nas autárquicas, que têm, em Portugal, uma interpretação política clara: há partidos vencedores e vencidos. Todos estão à espera do resultado das autárquicas para definir o futuro.
      O Governo atravessa o turbilhão. Está sob a tempestade, esperando que ela passe provocando os menores danos possíveis à credibilidade e à reputação do executivo. Os próximos tempos ditarão o nosso futuro a médio prazo.

6 comentários:

  1. Creio que as férias, políticas ou não, ditam este desmazelo do "deixa andar" (também falo por mim, mas eu não tenho responsabilidades políticas, nem ganho como tal - mas não me importava desta última parte).
    Será que os senhores que têm a responsabilidade de governar um país, acreditam que "o que de mau vai sucedendo no país" também está de férias?
    Parece-me que esta apatia será devida a um desinteresse estival dos dirigentes, e políticos em geral.
    Primeiro gozam-se as fériazinhas com a famelga, a banhos nos Algarves, ou, se o dinheirinho der, e há de dar, nem que se peça "emprestadado" a algum patrono desejoso de pôr uma mãozinha nos contratos públicos, noutra estância balnear mais na moda, que neste mundo de Deus sempre existe.
    Infelizmente Biarritz saiu de moda, ou Evian ou outra qualquer estância termal tão em voga na "Belle Époque" (suspiro de pena e nostalgia), hoje destino de quase ninguém - talvez alguém com os joanetes enferrujados, um vesícula mais preguiçosa, que sei eu.
    Eu ainda vou ocupando o meu lugar à sombra das frondosas tílias ou românticos jardins de buxo, dando o ar da minha pouca graça, mas eu ... sou um fora de moda (ia escrever um galicismo, mas pensei melhor ...).

    E depois ... lá para setembro, lembrar-se-ão que, afinal, Portugal ainda existe como país que, como se faz de conta que se pretende, e continuamos a teimar, seja o mais independente que for possível (e já pouco o é, se alguma coisa ...), e a carecer de uma diretriz que nos governe dentro dos limites que nos são impostos pelo enquadramento em que fomos encaixados (cortaram-se os cantos, desbastaram-se os arredondamentos, esconderam-se anomalias, como se fez aos pés das malvadas para caberem no sapatinho da Cinderela).
    Se estiver de férias desejo-lhe um tempo descansado, eu ainda vou trabalhando, não obstante os finais de semana alentejanos (curiosamente, próximo de Estremoz)

    Manel

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    1. Começo pelo fim. Ainda não fui de férias. Irei, na segunda ou na terceira de Agosto. Ou talvez na primeira de Setembro. Se tudo correr bem. Rumarei a sul.

      Se está por Estremoz, está por uma boa terra. :)

      Os nossos dirigentes, pois está tudo dito. Costa já foi e já veio, e gozou-as até ao fim com o país a arder. Marcelo ainda não foi, julgo.

      Cumprimentos.

      p.s.: Como vê, ando por cá, e inspiradíssimo. :)

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  2. Ai se o PSD estivesse no Governo?! Já a cathy, jerocas e Kostas estariam roucos de tanto gritar...

    Eles deveriam era ir ter aulas de piano, de tão pianinho que andam a tocar

    Abraço amigo

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    1. Se têm apoiado o Governo, é natural que se poupem a investidas contra, se bem que tenho-os ouvido a criticar António Costa e a sua equipa.

      um abraço, amigo.

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  3. Fala-se inúmeras vezes, infelizmente, de terrorismo. De ataques aqui e ali por toda a Europa e resto do Mundo. Admira-me que ainda não considerem estas tragédias florestais como um acto de terrorismo. Não acho normal que ano após ano, estas efemérides aconteçam e volta e meia, com números assustadoramente grandes, seja em danos à nossa floresta, seja em danos materiais e civis.

    Não querendo parecer "conspiratório", mas tenho pensado que tudo isto [Pedrogão, CGD, Tancos, etc.] acontece num ano de eleições, a escassos meses das mesmas. Uma coincidência...

    Abraço :)

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    1. Quem sabe, quem sabe... Já acredito em tudo.

      um abraço, João. Sejas bem aparecido por aqui.

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