31 de dezembro de 2017

O ano em revista.


   Dois mil e dezassete dá os seus derradeiros suspiros. Um ano mau a nível pessoal, como mencionei recentemente numa publicação. Figurará, até ver, entre os piores que vivi - sim, foi assim tão mau. O primeiro trimestre, para mim, foi pavoroso. Ali entre finais de Janeiro e meados de Março, vivi dias difíceis, por motivos que agora não vêm ao caso, mas que até me custam recordar.

   No que ao blogue respeita, e fugindo à tendência da blogosfera, decrescente e de apatia, 2017 foi um ano razoável. Escrevi mais do que em 2016 e em 2015, também porque saí mais, fui mais vezes ao cinema, ao teatro, a exposições. Em termos culturais, foi um ano razoável.

   À semelhança do que fiz quer em 2016, quer em 2015, também este ano acabei por me decidir por um apanhado geral dos temas mais importantes abordados no blogue, e foram muitos, com as respectivas hiperligações para leitura rápida. Começando por Janeiro, mês frio, não posso dizer que tenhamos sido surpreendidos com o falecimento do Dr. Mário Soares, que há muito estava doente, e a cujas exéquias fúnebres compareci. Após a vitória de Trump, Barack Obama preparava-se para se despedir da Casa Branca, o que me mereceu alguma reflexão. António Costa viajou até Goa, terra dos seus antepassados, aproveitando, eu, a deixa para escrever um pouco sobre esse antigo território, português por quatro séculos e meio. Pela política nacional, insurgi-me com o aproveitamento político do maior partido da oposição.

   Fevereiro começou mal, com a tomada de posse de Donald Trump. Iniciei o meu ciclo de cinema com dois dos nomeados aos Oscars do ano: La La Land, Moonlight, Jackie e Manchester by the Sea. A meio de um mês vocacionado para o cinema, aclarei a relação histórica entre Portugal e o Brasil e relatei o que se passou num dos sábados culturais.

   Março, mês da Primavera, mantive-me fiel às salas de cinema. Dissertei sobre um tema fracturante em Portugal, a legalização da prostituição. Continuei a abraçar os programas culturais. Perfez um ano desde que Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse, fazendo um balanço do seu primeiro ano em Belém. O Tribunal de Justiça da UE emitiu uma decisão polémica sobre o uso de símbolos religiosos, que tanta celeuma causou. Já no final do mês, assisti a um documentário sobre Mário Cesariny, não deixando que Março findasse sem assinalar os sessenta anos do Tratado de Roma.

   Por Abril, assisti às peças Caveman e Quem Tem Medo de Virginia Woolf?. O Chefe de Estado turco e o seu extremismo foram o tema da crónica do dia 20. No dia 25, como vem sendo habitual, mas fugindo um pouco aos tradicionais clichés, fiz uma análise ao 25 de Abril de 1974.

   Doce Maio, dias cada vez maiores e temperaturas que os acompanham. Comecei com uma menção ao Dia Internacional da Língua Portuguesa. As eleições francesas e a temida deriva à extrema-direita jogaram-se no dia 8. Fátima e os seus mistérios, por ocasião do centenário das aparições, foram, pela primeiríssima vez, abordados por mim no blogue. Também pela primeira vez, após décadas de participação, Salvador Sobral levou Portugal à glória na Eurovisão. Com o mês a findar, o blogue atingia o número histórico de mil publicações.

   Junho, de veraneio, com uma dissertação histórica à união das coroas de Castela e Aragão. O mês seria trágico para o país, com a tragédia de Pedrógão Grande a provocar a dor e a consternação em todos. Pelo desporto, Portugal encerrava a sua jornada na Taça das Confederações.

   Em Julho, tivemos o ainda por explicar furto de material militar em Tancos. Porque valeu a pena, assisti ao filme Tom of Finland, que aconselho, no momento em que progressivamente comecei a ir menos ao cinema. Numa primeira de duas publicações, que a segunda ainda espera vez a luz do dia, dediquei a crónica do dia 17 à tomada da Bastilha, em França. O ano foi profícuo em polémicas relacionadas a decisões judiciais. Uma delas, que levou Portugal às instâncias internacionais, encerrou o mês.

    Agosto, o mês mais quente do ano em polémicas. O Governo viu-se em mãos com o descontentamento que se seguiu aos casos mediáticos. Na América do Sul, o caos social venezuelano agudizou-se. Continuámos a ser assombrados por ataques jihadistas. Em África, os angolanos preparavam-se para a transição política com a saída de José Eduardo dos Santos da presidência da República. Duas tristes efemérides não pude deixar passar em claro: os vinte anos do desaparecimento da minha bisavó e da Princesa de Gales.

    Setembro outonal, Acordo Ortográfico que não me convence. Portugal, após anos de contenção, saía do lixo para uma das principais agências de rating. A Catalunha começava a preencher os nossos dias, com a subida de tom independentista. De novo em paragens africanas, João Lourenço tomava posse, em Angola.

    Por Outubro, tivemos, em Portugal, eleições autárquicas. Fiz uma análise ao acto eleitoral. Simultaneamente, Passos Coelho anunciou a sua não-recandidatura à liderança do PSD. Também tracei o perfil dos candidatos a sucessores. Cinema português, de novo, com um filme muito interessante sobre Al Berto. Em meados do mês, comprei o meu primeiro iPhone, um 8 Plus. Voltávamos a reviver uma tragédia semelhante à de Pedrógão, com elevado número de vítimas mortais. Nas artes, (re)descobri um velho nome, Klaus Nomi, artista único. Lembram-se de vos falar de decisões judiciais controversas? Tivemos outra, desta feita na Relação do Porto, que muita tinta fez correr... Aqui ao lado, o governo autonómico catalão declarava a independência, num processo conturbado e bem pouco pacífico.

    O ano caminhava para o fim. Nos cem anos da Revolução Russa, decidi escrever a respeito. Descobrimos, eu e a maioria dos portugueses, que os jantares nos panteões nacionais eram aceitáveis para os nossos governantes. A um mês do Natal, recebi a primeira de duas consolas clássicas: a Super Nintendo Classic Mini. Assinalei, porque achei pertinente, sobretudo num ano de catástrofes naturais pelo país, os cinquenta anos sobre as grandes cheias de 1967. Encerrei o mês com uma crónica sobre a Galiza.

    Dezembro, mês das festas, começou com a perda de uma personalidade ligada ao rock português, Zé Pedro, dos Xutos. Lá por fora, Donald Trump, sempre polémico, reconhecia Jerusalém como a capital de Israel, aumentando a tensão no Médio Oriente. Um querido amigo, o M., e eu andámos por Lisboa a passear, visitando vários monumentos.

    O grande evento do mês, e do ano, quanto a mim, foi o Jantar de Natal - Lisboa 2017, que tive a honra e o prazer de organizar.


    Foi um ano rico no que concerne a programas culturais. De igual modo, houve um aprofundamento na amizade com pessoas que conheci na e pela blogosfera, em contraposição com a agonia da mesma. Que assim se mantenha nestes domínios, e que 2018 melhore noutros.

     E fico-me por aqui. Obrigado a todos os que me acompanharam neste ano. Desejo-vos um final de ano excelente e uma entrada com o pé direito no novo ano que está prestes a iniciar. Feliz 2018!

A azul, as hiperligações para os artigos.

28 de dezembro de 2017

Unha semana marabillosa.


   Tivemos o jantar de Natal pelo meio, bem como o Natal propriamente dito, e muito ficou por dizer em relação à semana fantástica que vivi com o meu amigo galego, o M., que esteve em Portugal de segunda a segunda (de dia 11 a dia 18). Foi uma semana muitíssimo bem aproveitada, e só não o foi mais porque tive de ir visitar a minha avó no hospital, que estava internada devido a uma fractura no fémur.

    Na primeira publicação em que dei conta da sua vinda a Portugal, expus sucintamente o que fizemos na segunda e na terça (dias 11 e 12). Logo na quarta, dia 13, levei-o a Belém. É um bairro paradigmático da capital, pela história ligada aos nossos descobrimentos, e o M. também tinha muita curiosidade. Como já chegámos tarde, só passeámos pelo bairro, à beira-rio, mas ainda o pude levar ao Museu da Presidência. O M. é republicano, nacionalista. Sente um profundo desprezo por Espanha e pela monarquia dos Borbón. Saber mais sobre o nosso regime e o nosso sistema, semipresidencial, agradou-o muito.


    Ainda entrámos na igreja dos Jerónimos. Esteve perto dos cenotáfios de Vasco da Gama e Camões. De seguida, fomos aos pastéis de Belém, quentinhos e deliciosos, fazendo todo o percurso de regresso a pé, a conversar, de Alcântara ao Cais do Sodré.





    Na quinta, à partida iríamos a Sintra, mas fez-se tarde. Escolhemos, então, o Palácio de Queluz, uma jóia da arquitectura portuguesa do século XVIII, mandado edificar por Dom Pedro III. Percorremos todas as galerias e os imensos jardins, belíssimos.

O quarto em que nasceu e morreu Dom Pedro IV de Portugal / I do Brasil



    No dia seguinte, bem cedo, fomos, finalmente, à mágica vila de Sintra: um dia em cheio. Quem julgar que consegue visitar o Palácio da Pena numas poucas horas, desengane-se. Julgávamos que daria tempo para visitar o Palácio e a Regaleira, e só conseguimos ir ao palácio e passear pela vila.  Apanhámos um dia cinzento, com muita névoa. Chuviscou, o que com a neblina tornou o passeio ainda mais especial. Indescritível.






   A entrada é cara, sim, mas compensa. O palácio é maravilhoso, por dentro e por fora, e os jardins, verdadeiros bosques, são encantadores. Perdemos o dia inteiro a desbravar cada torre, cada recôndito, cada vale. Ainda passeámos pela vila, passando, claro está, pelos tradicionais travesseiros da "Piriquita", passo a publicidade.



   Já no sábado, no dia do jantar, fomos, da parte da manhã, ao Museu dos Coches, em Belém. À tarde e à noite, como se sabe, dedicámos o tempo ao evento. Tivemos sorte, porque o recinto antigo do museu, encerrado por anos, já abriu ao público, e ainda contém alguns exemplares.

Recinto novo.

    Domingo seria, tudo indicava, o dia em que o M. se despediria de Portugal, voltando à Galiza. Por um percalço no horário, acabou por adiar o vôo para o dia seguinte, permitindo-se a explorar um pouco mais de Lisboa. Uma vez que se tratou de algo inesperado, nesse dia só tivemos tempo de ir ao Museu de Arte Contemporânea da Gulbenkian.


    Na segunda, por fim, tempo das despedidas. O M. partiu, com a promessa de que o visitarei, em breve, na Galiza. Será a minha vez de me deixar encantar por uma nação tão rural e mágica.
    Foram dias fantásticos na companhia do M., um rapaz culto, interessante, médico respeitado. Os amigos do jantar puderam conhecê-lo e testemunhar o quão afável e educado é. Oito dias que guardarei na memória. Pessoas assim valem muito a pena.

Todas as fotos foram captadas pelo meu iPhone. São minhas e de minha autoria. Uso sob permissão.

26 de dezembro de 2017

Catalunha 2.0.


   No dia 21, realizaram-se as eleições regionais catalãs, após a aplicação do artigo 155, tendo o governo central assumido o poder na Catalunha até à convocação de novas eleições. A Europa e Espanha, principalmente Espanha, após a campanha de terror que empreendeu, esperavam que os partidos unionistas obtivessem a maioria dos assentos no parlamento catalão, o que não se verificou: o Ciudadanos foi o partido mais votado, mas, em contrapartida, os partidos pró-independência têm a maioria para formar governo. As detenções ilegais, as perseguições políticas e a cargas policiais não intimidaram o povo catalão, que foi chamado a pronunciar-se e que democraticamente confirmou que quer a independência. O partido de Puigdemont, o líder catalão refugiado na Bélgica, garante que só assume o poder se o seu cabeça de lista puder regressar a Espanha. Puigdemont sabe, entretanto, que será detido se o fizer. Vivem-se, na Catalunha, dias de incerteza.

   A líder do Ciudadanos na Catalunha, Inés Arrimadas, nem coligada conseguirá governar, uma vez que os partidos independentistas, juntos, incluindo o Junts per Catalunya de Puigdemont, têm a maioria. Trata-se de uma tripla derrota: de Rajoy, do PP (que teve um péssimo resultado autonómico) e do Rei de Espanha, que não poderão manter a recusa em assumir a escolha que os catalães há muito fizeram. A Catalunha, à sua maneira, vive o que Portugal viveu em 2015, quando o partido mais votado, o PSD, não conseguiu formar governo, abrindo portas a uma maioria de esquerda. Uma maioria. Importa frisar. Há, na Catalunha, uma maioria favorável à independência, o que significa que a maioria do povo catalão é favorável à independência. Parece claro.

   O Rei de Espanha, a quem é atribuído, pela Constituição, um papel unificador, foi profundamente infeliz na primeira declaração, há meses, em meio da sublevação catalã. Desta vez, no tradicional discurso de Natal, aparece bem mais sereno e conciliador, porque saberá, de antemão, que é o que se espera de um Chefe de Estado de uma monarquia. Tomar posição, seja ela qual for, afasta-o do seu propósito. Como não desempenha qualquer função executiva, deve agir de acordo com aquilo que é, ou seja, rei de todos os espanhóis, ainda que daqueles que não o querem ser.

   O impasse não tem fim, tudo indica. Há um ciclo pernicioso, a menos que os partidos independentistas refreiem os ímpetos. Não sabemos até que ponto Puigdemont está disposto em pôr em causa a sua liberdade para assumir a liderança da autonomia catalã. Admitindo que o faça, e que as autoridades espanholas não lhe dêem ordem de prisão, não sabemos se manterá o discurso de cisão face ao poder central, que é como quem diz, Madrid.

   A sociedade catalã está dividida. Eu, que só pró-independência da Catalunha, não poderei ignorá-lo. O que lamento, sim, é que haja uma tendência para se simpatizar pelos unionistas, como se os independentistas não merecessem que as suas súplicas fossem atendidas. A Europa vira-lhes a cara, os Estados também, e a opinião pública, a portuguesa, que é a que me interessa, suporta Madrid. Temos milhões de catalães que querem poder decidir o seu futuro de forma soberana.  Não temos qualquer legitimidade, sendo livres, para impor a submissão a outros povos. Essa arroganciazinha de quem não teve de lutar por nada nos últimos séculos - o nosso caso - era desnecessária, e até não nos dignifica.

24 de dezembro de 2017

Feliz Natal.


   Uma quadra. Mil desejos. As famílias reúnem-se. Há a quem já pouco lhe diga o Natal. A mim, continua a configurar a época mais bonita do ano. As luzes, o espírito, a azáfama. Natal é comunhão, partilha, sorrisos. Vai sendo menos Deus, infelizmente. O alcance é tal que contagia não-religiosos e até quem segue outros credos. O Natal é mais do que o nascimento de Jesus. É economia, retalho, crescimento económico. Repercute-se em tudo. Poucos lhe são imunes.

   Natal também é tristeza, pelo que vivemos e só recuperamos na nossa memória. Pelos amigos e familiares que partiram. No que a mim respeita, oscilo entre a saudade e o momento. Há horas do dia em que me recordo das consoadas no Alentejo, entre os tios e os primos, rindo e brincando. E agora eis-me aqui, com a família reduzida a umas unidades, em meio do desânimo e ainda me perguntando sobre o porquê de insistir em valorizar o Natal.

   Não me demoro mais. Desejo-vos, aos meus leitores e seguidores, um Feliz e Santo Natal, na companhia daqueles que vos forem mais queridos. Com harmonia e presentes no sapatinho.



Mark

20 de dezembro de 2017

Dear Jesus.


   Lisboa, aos vinte de dezembro de dois mil e dezassete,

   A Ti,

  
   Eis-me aqui, um ano volvido, endereçando-te algumas palavras. Serei mais sucinto do que no ano passado. Inquieta-me menos ter a certeza da Tua existência ou da Tua não existência. Assumo que existes, ainda que omisso. Assumo, também, que nos revelaste a Tua Palavra, e que por ela encontraremos a salvação. Nasceste exactamente para que não perecêssemos. Somos tão imperfeitos que me custa acreditar que fomos feitos à Tua imagem e semelhança. A menos que sejas tão imperfeito como nós. Há essa probabilidade, que deve ser justamente equacionada.

   O ano foi atribulado. Escuso-me a detalhar. Se tudo sabes e tudo vês, imaginas àquilo a que me refiro. Pondo-me à procura de um bom adjectivo para descrever dois mil e dezassete, dou-me conta da impossibilidade de encontrar um que o defina de modo preciso. "Estranho", talvez. Poder-se-á aplicar, sem delongas. O ano foi assim mesmo: estranho. Uma estranheza má, que há as boas. Há coisas que nos são estranhas, mas positivas. Dois mil e dezassete foi estranho e profundamente negativo.

   Entretanto, e começou tão mal, foi-se tornando melhor com o passar dos meses, ou pelo menos foi-se tornando mais leve, mais fácil de suportar. Não tendo ainda terminado, diria que estas últimas semanas se passaram em acalmia.
  Terei de aprender a lidar comigo e com as minhas manias e ansiedades. Sofro muito por antecipação e por desordem interna. Tudo isso torna a vida mais pesada, sofrível. Não há que ser assim. Por vezes, procuro pôr-me na pele de outrem e tentar compreender em como ainda vêem beleza na vida, no viver. Há em mim um desalento qualquer. Não é de agora. É de anos. Um desânimo. E tão-pouco sei explicar se são os meus olhos que observam a vida de modo pior do que ela é. Porque é custosa, sabemo-lo. Serei eu que a torno pior? Por mais que tente desligar-me da minha pele para o investigar, serei sempre o autor das minhas análises. Torna-se impossível evadir-me de mim, dos meus preconceitos e formatações, daquilo que a vida foi imprimindo no meu carácter. Estou condenado a viver comigo, com o que sou. E não sou uma pessoa fácil. Não sou fácil para ninguém. Para consolo de terceiros, nem para mim.

   Já fiz as minhas compras, as trivialidades que não trazem felicidade, mas que aquecem a fúria consumista. Também passeei muito nos últimos dias, mais do que em anos, e o jantar de Natal foi um sucesso. Vou tendo saúde, com as mazelas de sempre que não matam, só moem. Nem devo formular pedidos a título individual. Só tranquilidade e bom senso na hora de tomar decisões. Seriam os melhores presentes de Natal, que se prolongariam pelo ano novo afora.

   Para que não mais Te incomode, que certamente terás outros, com maior prioridade, a quem ouvir, despeço-me. Vai olhando por todos. Perdoa aos homens, e inspira-os, que a humanidade carece da Tua presença e dos valores que lhes ensinaste através do Teu Filho.


lots of love,
Mark


18 de dezembro de 2017

Jantar de Natal - O grande dia.


   Sábado começou cedo, bem cedo. Levantei-me pelas seis e meia. Arranjei-me meticulosamente - quem me conhece sabe que sou vaidoso - afinal, tratava-se do primeiro jantar que Natal que iria organizar. Saí de casa e fui ao encontro do meu amigo estrangeiro, o M., que já me esperava para o pequeno-almoço. Um pequeno almoço inglês, requintadíssimo, como eu gosto.


   De seguida, e como o lanche seria apenas às 16h, numa pastelaria do centro de Lisboa, decidimos voltar a Belém. Levei o meu amigo ao fantástico Museu dos Coches, que já conhecia, mas que está um encanto. Aproveitámos e fomos ao antigo, num átrio lindíssimo, que abriu de novo ao público e que ainda guarda alguns exemplares.


   Não dava para passearmos mais por Belém. Pelas minhas contas, nem todos viriam ao lanche, pelo que chegámos à Pastelaria Versailles em torno das 16h:20m. Lanchámos, até que se juntou um dos convivas, seguindo-se outro. Por lá ficámos até cerca das 19h, sempre em amena cavaqueira.

   
  Conforme o que fora previamente combinado, descemos a Avenida da Liberdade, a esta altura já quatro, apreciando a decoração natalícia deste ano. O percurso terminou à porta do restaurante escolhido - a Casa do Alentejo. Subimos a escadaria. Um antigo palácio. Espaço elegante, todavia familiar. Aos poucos, todos se foram juntando em torno de uma mesa redonda, escolha perfeita.


   Decidi assim que a ideia me ocorreu: para ser mais democrático, e aproveitando as iguarias tradicionais alentejanas, cada um escolheria o seu. Impingir comida nunca foi meu apanágio.
    Houve tempo para tudo: confraternizar, brindar com um fantástico tinto, à temperatura ambiente, e provar as iguarias do restaurante. Pontos mui positivos para a doçaria, que adorámos - creio poder falar por todos.

    Estômagos cheios, hora do Amigo Secreto. Munidos de um fantástico cesto natalício, cuja foto reproduzo abaixo, procedemos à votação: cada um tiraria um papelinho com um nome, colocado no cesto entre os restantes papéis e uns bombons redondos, e ofertaria a pessoa que lhe tivesse sido atribuída. Tudo imbuído no espírito da época. Na foto não é perceptível, mas o cesto tinha um saquinho em renda vermelha, muito engraçada. Pensei ao pormenor.









Foi um momento engraçadíssimo - o ponto alto do dia. Fartámo-nos de rir com a originalidade, e eu diria que se acertou em cheio. Os presentes foram bem atribuídos.

   
   A noite não terminaria sem o after-dinner. Local eleito: Palácio Chiado. Escolhemos as bebidas entre mais risotas e muitas histórias. Quanto a mim, tomei um fantástico, e bem quentinho, chocolate quente. Hmm, delicioso.


   
    É necessário fazer um balanço? Super positivo. Orgulha-me muito saber que organizei um jantar em que todos se sentiram bem, e incluídos. Reconforta receber mensagens nestes moldes: "Foi o melhor jantar de grupo". É bom, cai bem. Eu, que nunca me julguei ser o melhor nisto e naquilo, proporcionei um momento agradável e de comunhão, sem grandes aparatos. O jantar não correu como idealizei; superou todas as minhas expectativas. Digo-o do fundo do coração. Guardarei aquele dia na minha memória.

    Só mesmo para concluir: obrigado a todos os que estiveram presentes. Tive oportunidade de o agradecer antes do Amigo Secreto, mas reitero aqui, uma vez mais, o meu agradecimento. Aos que vieram de longe e de menos longe, e aos que aceitaram de imediato, mesmo não me conhecendo tão bem. Vocês, sim, são os melhores. :) Haverá mais, estejam seguros disso.

13 de dezembro de 2017

Dois turistas em Lisboa.


   Na segunda-feira, o meu amigo chegou do estrangeiro. Fui esperá-lo ao aeroporto. O vôo veio atrasado. Adiaram-no uma hora, de início, e atrasou durante a viagem em mais uns quarenta anos, até que, por fim, lá o avião aterrou. O meu amigo, o M., reservou um quarto num hotel muito bem situado, na baixa, e nem se sentia cansado. A ânsia de passear era tal que fomos só deixar a sua bagagem ao quarto e descemos de imediato. Andei com ele pelo Chiado, pelo Rossio. Mostrei-lhe o que ali há para ver, já de noite, claro, mas o que agora até se torna positivo pela iluminação natalícia que decora a cidade e pelas feirinhas de Natal. Entrámos na livraria Sá da Costa, mítica, e subimos ao segundo andar. Há uma pequena exposição de azulejos antigos, a par de uma loja que os vende, bem como a painéis e a outros artefactos. Ainda fomos ao Príncipe Real. Levei-o ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, em passagem.

    Já ontem, terça, e em virtude de ter ido à casa do meu pai, só nos encontrámos de tarde. Passeou sozinho, mas de dia, pela baixa, tirando inúmeras fotos. Juntei-me a ele pelas 16h, levando-o de seguida ao Parque das Nações, uma zona oriental sobre a qual ele tinha alguma curiosidade. Por lá jantámos. Fizemos todo aquele caminho junto ao Tejo. No regresso à baixa, passámos pela Santini e deliciámo-nos com os melhores gelados da capital (manga com amendoim é indescritível de bom!).

    Hoje, levá-lo-ei a Alcântara e a Belém. Faremos esse percurso. Quero ver se ainda conseguimos ir ao Castelo de São Jorge. Tudo depende do seu interesse. Queluz, Mafra e Sintra também pairam no ar. Vamos ver.

    O M. veio especialmente para estar comigo, para conhecer Lisboa e, claro está, para participar no jantar de Natal de sábado. Tudo combinado. Está expectante, e eu também, confesso.

    Lisboa é tão encantadora que até eu, que aqui nasci, me sinto um turista. Há tanto para explorar, para ver, ainda que em repetição. Uma semana intensa, para desfrutar em boa - e saudável - companhia. O M. é muito bom rapaz. Estou de tal modo cansado de gente com mau carácter - e este ano foi profícuo em desencantar algumas dessas personagens - que os dias têm passado com uma leveza extraordinária que há muito não sentia. As pessoas boas tornam-nos melhores. As más só fazem despertar más energias, péssimos sentimentos, e trazem inquietação. E, por hoje, respiro fundo, tranquilamente. 

8 de dezembro de 2017

Jerusalém.


   Desde a constituição do Estado de Israel, em 1947, que a ONU estabeleceu, em resolução, que o mandato britânico para a Palestina daria lugar a dois estados: um judeu e um árabe, com Jerusalém, que hoje está no centro da discórdia, como de resto tem estado, que ficaria sob a alçada directamente da comunidade internacional, ou seja, não seria nem israelita, nem palestiniana. Jerusalém tem sido reivindicada, desde então, quer por palestinianos, quer por israelitas. Para Israel, Jerusalém é a sua capital. Por lá mantém os seus órgãos governamentais e políticos. Para a comunidade internacional, todavia, falta cumprir o disposto quanto à cidade e ao próprio estado da Palestina, que não vê a luz do dia.

    O reconhecimento dos EUA é simbólico, e constava no programa de Donald Trump. Há muito que Israel queria que as suas pretensões fossem reconhecidas. Os americanos têm sido sólidos aliados do Estado israelita. A influência da comunidade judaica nos EUA é por todos conhecida, e que não se duvide dos planos de Trump para a reeleição. As campanhas presidenciais envolvem gastos astronómicos, e têm de ser financiadas. Junte-se o clima de suspeição, justo, face ao mundo islâmico e encontraremos os motivos que levaram o presidente dos EUA a decidir-se por esse passo, seguramente ponderadíssimo, mas que vem aumentar a desconfiança numa zona do globo altamente instável. Há quem queira avançar para uma intifada. Os confrontos sucedem-se.

    A minha postura, na qual sou acompanhado também pelo Governo e pelo Presidente da República, é de profunda apreensão. Só alguém muito insensato, conhecendo-se todo o processo histórico e religioso no Médio Oriente, tomaria uma medida que já se sabia que despoletaria reacções hostis no mundo muçulmano. E eu sou um tradicional sionista, amigo de Israel. Não sou, entretanto, indiferente ao processo de paz necessário para o conflito israelo-árabe, que assim queda definitivamente enterrado. Jerusalém é a terceira cidade santa para os islâmicos, cidade santa para cristãos também, pela vida de Jesus que se cruza com a cidade, após o seu nascimento e na morte. Não é uma cidade apenas judaica. Deve, como consta desde o início pelas Nações Unidas, ser património de toda a humanidade. Reconhecê-la como capital de Israel é negar o seu carácter sagrado para as duas maiores religiões monoteístas do mundo, o Cristianismo e o Islamismo. Nego, inclusive, que se partilhe a cidade entre judeus e árabes. Enquanto cristão, Jerusalém é uma cidade que se reveste de especial simbolismo para a minha fé. Reitero o que defendi acima e que é o compromisso firmado pela ONU: Jerusalém seria uma cidade desmilitarizada, com um status político muito particular, à semelhança do que teria Bruxelas caso a Bélgica, um dia, se desfragmentasse, anseio de grupos rivais de língua francesa e flamenga, que integrariam as respectivas regiões na França e nos Países Baixos. Bruxelas seria administrada pela UE directamente, como uma cidade da organização internacional.

    E os EUA, que se crêem os polícias do mundo, devem parar de se investir nesse papel de juízes da humanidade. Há questões que lhes fogem à sensibilidade, e que homens como Trump não têm capacidade de discernir.

5 de dezembro de 2017

Dois em um.


   Há algum tempo (muito?) que não faço um dois em um. O dois em um, sucintamente, consiste na abordagem de dois temas numa única publicação.  Neste caso, têm ambos em comum o Natal.

   Começando pelo primeiro, a encomenda do estrangeiro: a minha NES não chegou. Após várias semanas de espera, e uma ida ao posto dos correios, soube, ainda sem qualquer aprofundamento, que foi entregue a outra pessoa por engano, provavelmente, estando de momento a fazer o caminho do remetente, ou seja, voltará para onde veio. Incompetência dos CTT, talvez. O endereço estava correctíssimo. Já segue uma reclamação via postal. Só espero que a carta não se extravie... O mais estranho é que da minha primeira ida aos correios, estranhando a demora, disseram-me que a encomenda estava em Portugal, só que retida no norte por uma "greve na distribuição". Souberam de alguma greve na distribuição dos CTT? Eu tão-pouco. Veremos o que se segue. Se voltar para quem ma enviou, nem tudo estará perdido. Falta saber se não andará por aí num qualquer lar português.
   Menos um presente de Natal. Terei outros. Na pior das hipóteses, que queria ao máximo evitar, terei de accionar meios judiciais.

   
   O jantar de Natal. Terminou, no dia 2, o prazo para aceitar integrantes. Somos um número razoável. O jantar terá um momento divertido no final, fruto de uma ideia que me ocorreu. Os participantes foram devidamente informados de tudo via e-mail.
   Estou expectante. Seguramente que será uma noite, ou melhor, um dia, para mais tarde recordar. Falta pouco mais de uma semana. Da minha parte, há uns detalhes a acertar, coisa pouca. Quero tudo devidamente tratado. É a semana de ultimar os preparativos. Gente metódica age assim. 
   Creio que consegui manter algum suspense. Há muita curiosidade em torno... Nada mais do que esperar para ver, para comer, claro, para rir e brincar.
   Contar-vos-ei todas as novidades. :)

1 de dezembro de 2017

Zé Pedro (1956 - 2017).


   Este será um dos obituários mais difíceis para um português fã do bom rock que por cá se produz. A notícia não causou estupefacção. Exactamente no mesmo dia, numa visita hospitalar à minha avó (que fracturou o fémur mas está bem), vieram à conversa os Xutos, acerca do estúdio imponente que têm, realidade tão diferente da do início da banda, no bairro dos Olivais, e até fui eu quem disse que, mais dia, menos dia, teríamos a informação do falecimento do Zé, que há muito lutava contra uma doença do foro hepático. Tristes coincidências. Se soubesse, não teria aberto a boca.

   Gosto dos Xutos. São uma banda paradigmática na música portuguesa desde o início dos anos 80. O álbum Circo de Feras, de 1987, e o que se lhe seguiu, de 1988, intitulado simplesmente 88, contêm as canções mais conhecidas, e popularizaram-nos. Gerações cresceram a ouvi-los. Os Xutos têm aquela capacidade de encher estádios, trinta anos depois, com velhos e novos à mistura. Serão, talvez, a banda mais intemporal e consensual. Quem tem coragem de não gostar dos Xutos?

   Eu, entretanto, pela minha idade, passei a adolescência com o Ai Se Ele Cai, do álbum Mundo ao Contrário (2004), mas Chuva Dissolvente, de Dizer Não de Vez (1992) faz parte daquele rock old school de que não prescindo.

   Não sei como ficarão os Xutos após esta partida. Perdeu-se o espírito do grupo - Zé Pedro era um membro carismático. Temos vários exemplos de bandas que se souberam reerguer. Os Queen, sem Freddie desde 1991, ainda actuam em parcerias com este ou aquele intérprete.
   Zé Pedro era mais do que o guitarrista da banda; não sendo o líder, sabia puxar pelo público como ninguém. Assumia sem pudores o seu passado ligado ao álcool e às drogas, e preocupava-se com essa mensagem pedagógica junto dos jovens.

   Nunca fui festivaleiro. Nunca vi os Xutos ao vivo. E só agora me dou conta dessa falha. Com o Zé Pedro, não mais será possível, infelizmente.
    E que ele possa dar os seus acordes lá na dimensão em que estiver.


* Uma pequeníssima nota de rodapé para dizer o seguinte: termina amanhã, dia 2, o prazo para que quem quiser participar no jantar de Natal, que estou a organizar, ainda o possa fazer. Cliquem neste linkou no gadget que encontrarão logo abaixo da minha foto de perfil, se se decidirem a vir. Despachem-se! :)

29 de novembro de 2017

Galiza.


   Descobri recentemente a Galiza. Em verdade, não a conheço. Aproximei-me gradualmente do povo galego através de incursões minhas em grupos temáticos que exaltam o nacionalismo galego. Espanha, que sabemos ser uma realidade forjada, tem muitos nacionalismos periféricos. O catalão será o mais conhecido, mas o galego, antigo, sobrevive. A Galiza é a comunidade autónoma espanhola na qual o idioma autóctone é mais falado do que o idioma do Estado, o castelhano. Os mais recentes estudos indicam que a situação está prestes a mudar. Vive-se, na Galiza, em diglossia. O idioma de prestígio empurra o idioma autóctone para uma condição de ostracismo conotado à ruralidade, por um lado, ou ao nacionalismo galego, pelo outro. Falar-se galego, na Galiza, cada vez mais é associado a uma destas realidades. Nos grandes centros urbanos, fala-se castelhano; os jovens, também eles, adoptam progressivamente o castelhano em detrimento do galego, num processo lento de linguicídio, prática comum em Espanha.

   A Galiza - tão bucólica - pela mansidão do seu povo e pelas suas paisagens de incontornável beleza, deveria representar bem mais para os portugueses. O nosso idioma nasceu na Gallaecia, que outrora o norte do país e a actual Galiza conformaram. Em jeito de peregrinação, como os islâmicos fazem a Meca, na Galiza descobrimos as nossas origens, até quanto ao idioma. Pelo norte do país, identicamente. E constatamos em como a fronteira política, imposta pelo Estado espanhol, é, a par de um erro grosseiro, uma farsa. Os falares de uma e de outra margem do rio Minho confundem-se. E é na Galiza profunda que descobrimos que o nosso idioma comum ainda não morreu, pese embora haja políticas agressivas por parte do Estado espanhol, com a cumplicidade dos órgãos galegos, como a Xunta de Galicia e a Real Academia Galega, esta última com competências no domínio da linguagem, tendo procedido a reformas que aproximaram o galego do castelhano, numa união anti-natural, quando o certo teria sido aproximá-lo do português, idioma com o qual divide séculos de história. Para mim e para outros reintegracionistas, o galego e o português são duas variantes de um mesmo idioma, e as diferenças que lhes encontramos prendem-se aos séculos de imposição e de influência nefasta do idioma castelhano.

    Nem tudo está perdido. Há uma nova geração orgulhosa do seu passado e das suas origens, consciente de que a Galiza deve olhar a sul. Porque a Galiza, que não tem a pujança económica e social de uma Catalunha, tem o que mais nenhuma região de Espanha tem: uma ligação fortíssima a outro Estado soberano, neste caso Portugal, que lhe pode seguir de guia e de exemplo. Há grupos galegos que defendem essa aproximação a Portugal, à língua portuguesa e à Lusofonia, através da CPLP. Em 2008, fundou-se a Academia Galega da Língua Portuguesa, que nos seus estatutos reconhece que o Português é o idioma da Galiza, e que foi recentemente aceite na CPLP como observador consultivo. Afinal, galego e português são dois nomes para um mesmo idioma. Divergências políticas levaram a nomenclaturas distintas. Como disse, a seu tempo, Carvalho Caeiro, «o galego, ou é galego-castelhano ou é galego-português».

27 de novembro de 2017

As fragilidades do decrépito regime.


    Estávamos em finais de Novembro de 1967. O ano havia sido chuvoso, mas nada fazia prever a hecatombe que se seguiria. Naquela madrugada, de 25 para 26, choveu, choveu muito. Lisboa e a região centro acordaram alagadas. Os mortos, mais que muitos. Sete centenas, na pior das tragédias desde o terramoto de 1755. O Estado Novo já se via em mãos com a Guerra Colonial e com o descontentamento generalizado. Oficialmente, morreram umas trezentas ou quatrocentas. Saber-se-ia, mais tarde, a dimensão real do que acontecera.

    O Portugal dos anos 60 não era aquele país bafejado pelo Maio de 68 e pelas conquistas sociais e tecnológicas da Europa civilizada. Era um país parado no tempo, isolado, com enormes desigualdades. Na Casa Portuguesa de Salazar, faltava o pão e o vinho sobre a mesa. Havia fome, miséria. Crianças desnutridas. Inúmeros analfabetos (cerca de 30 % da população). O crescimento económico, à custa das províncias, soçobrara com os esforços para manter uma guerra inútil. Naquela noite, não foi apenas a natureza a culpada da mortandade; foi-o, também, a insalubridade da habitações, a escassez de posses. Péssimas infraestruturas levaram a que muitos morressem dentro das suas casas. De Europa, muito pouco tinha Portugal.

    Não era fácil contornar o lápis azul do censor. O regime impunha expressamente uma política restrita de informação disponibilizada ao público. Claro que, em finais da década de 60, já havia uma imprensa pungente, sobretudo lá por fora, que não se coibiu de fotografar e de enviar para as redacções de todo o mundo o que se passava no pequeno rectângulo peninsular, como esta foto bastante expressiva.


24 de novembro de 2017

Um mês para o Natal.


    Celebraremos a Consoada exactamente de hoje a um mês. Os edifícios começam a vestir-se para a época. Lisboa já tem luzes dispostas pelas ruas e avenidas, ainda desligadas. É provável que as liguem hoje. Natal é isto: luz, magia, frio, músicas da quadra. Toda a envolvência cria este espírito natalício que, a mim, continua a encantar.

    Este ano, como sabem, tive a ideia de organizar um jantar, que está a ser um sucesso em termos de adesão. Somos, ao momento, onze pessoas, com uma provável décima segunda a juntar-se a um grupo bem disposto. O restaurante está escolhido. Um espaço agradável, requintado, tradicional, no coração de Lisboa. Mais: a reserva está feita, sendo que continuarei a aceitar integrantes até ao dia 2 do mês que vem (e fiz a salvaguarda no dia da reserva, a quem me recebeu). Mais uma semana, portanto, para que quem se sinta indeciso ainda possa decidir.

    Também fiz o roteiro, previamente comunicado aos participantes. Lancharemos (quem quiser) numa confeitaria de excelência, descendo de seguida a avenida para ver as luzes de Natal, terminando o percurso, claro está, no fantástico restaurante que nos irá receber. E também a madrugada nos espera...


    O jantar terá um sabor muito especial - vários sabores, atente-se, pelas iguarias que estarão à nossa disposição! - porque alguns vêm de longe, do norte do país, e do estrangeiro, até. Um evento internacional, não se circunscrevendo apenas às pessoas de cá, por assim dizer. Mais um motivo para que a noite seja especial e verdadeiramente inesquecível.

    Há gente com blogues e sem blogues. Pessoas cujo único intuito é o de conhecer, confraternizar, aproveitando o embalo do Natal, que estimula ao convívio. Haverá, portanto, um saudável equilíbrio, como se quer.
    Eu sou apenas o organizador. No dia 16, serei um entre todos, sem protagonismos, sem imposições, promovendo a interacção - e não segregando, como num por outro jantar em que participei recentemente. Quero apenas que quem participa se sinta bem. Não duvido, no entanto, de que será uma noite memorável.


19 de novembro de 2017

Super Nintendo Classic Mini.


   No ano passado, sensivelmente por este mês, a Nintendo lançou a famosa consola Nintendo, de 1985, em formato mini. Recordo-me de que a quis, e de ter publicado isso numa das minhas redes sociais. A NES Classic foi uma das consolas que preencheram a minha infância. Passava horas a jogar, sobretudo os jogos do Super Mario. Bem assim, também os meus pais jogavam. À data, já era antiga. Os jogos, entretanto, eram dos mais apelativos. Não sei o que se terá passado, mas esqueci-me de a comprar. O Natal aproximou-se, com ele outras compras, e nem nunca mais me lembrei de passar por uma FNAC ou por uma Worten e de a comprar.

   Há um mês e pouco, a Nintendo manteve o propósito de continuar a pôr no mercado as suas consolas mais famosas. E se no ano passado lançaram a NES, este ano decidiram-se pelas Super NES, de 1990. Foi quanto bastou. O interesse despertou em mim e andei um ou dois dias completamente obcecado com a consola. Percorri quase todas as lojas. Esgotada. Importa dizer que o meu objectivo era o de encontrar a NES, não a SNES, que, em verdade, nunca me interessou. Passei pelo OLX e pelo Custo Justo. Consolas em segunda mão, para ser sincero, são um risco. Algumas até poderão estar novas, porque muitos compram-nas já com o intuito de as vender a preços exorbitantes. A Nintendo lançou uma edição limitada, que esgotou em poucos dias. Com tantas solicitações, ainda foi abastecendo as lojas até meados de Março do presente ano. É surpreende verificar em como uma consola retro movimenta milhões de pessoas. Um misto de nostalgia, de jogar com 8 bits, de voltar aos velhinhos comandos. Impulsionávamos o corpo para fazer o Mario saltar mais longe e mais alto!...

   Estes novos formatos, mini, trazem acoplados de entre 20 a 30 jogos. Ligam-se facilmente ao televisor e recuperam toda a magia das consolas originais. De tanto comentar o assunto com a minha mãe, e do quão triste me sentia ao constatar que a NES Classic Mini estava completamente esgotada, fi-la, em itálico porque nunca o imaginei, andar por meia Lisboa à procura de uma. Não a encontrou, mas trouxe-me uma SNES, também já esgotada, que encontrou numa superfície comercial da periferia. Não era exactamente o que queria, mas estou-lhe agradecido.

    Um amigo meu, estrangeiro, que por acaso até vem ao jantar de Natal, soube da minha saga em busca da NES e resolveu comprar-me uma no seu país, tendo-a adquirido em segunda mão através de um site, já que por lá também estão esgotadas. A moça que lha vendeu garante que só a comprou para a revender. Ligou-a e desligou-a. A julgar pelas fotos que o meu amigo me enviou, está novíssima. Vem com a embalagem original, com o plástico envolvente e traz até o manual de instruções. Já segue desde o seu país até Portugal. Devo recebê-la amanhã, segunda-feira, ou nos dias seguintes, pelo correio.

    Da minha parte, já montei a SNES, e estou encantado. Como ficarei quando a NES chegar! A Nintendo sabe fazer negócio. O transformador de energia não vem incluído. Lá tive eu de ir a uma Worten comprar um, da Nintendo, que transformadores até tenho. Receava de que não fossem os indicados. Já fica para NES. Dá para ambas.
    Deixo-vos a foto da SNES, captada assim que a minha mãe chegou a casa com ela.


14 de novembro de 2017

No Panteão.


   Sendo sincero, não imaginava que o Panteão pudesse ser arrendado, e chegam ao cúmulo de especificar partes do monumento e respectivos preços. Quem sabe se o fundador da Web Summit tem razão e é um problema cultural? Problema ou não, um panteão não é o local mais apropriado para se organizar jantares. É um monumento fúnebre, que encerra os grandes vultos nacionais. Exige-se o mínimo de respeito. A foto das mesas corridas entre os cenotáfios provoca aqui qualquer reacçãozinha de desaprovação e desagrado. É de mau gosto. Se querem jantar num local imponente, arrendem uma sala de jantar de um palácio. E temos tantos e tão bonitos.

    Não está tanto em causa apurar os responsáveis. Sê-lo-ão o anterior executivo, que emitiu o despacho que permite estas jantaradas, e a actual Direcção-Geral do Património Cultural que, podendo recusá-los, permitiu-os. A DGPC está sob tutela do Ministério da Cultura, que não revogou ou alterou o despacho (o Governo é o órgão superior da Administração Pública, por imperativo constitucional, da qual a DGPC faz parte). E há registos de jantares em 2013, quando Costa era presidente da Câmara Municipal de Lisboa, aparentemente sem conhecimento deste. Em suma, queremos saber o que o Estado - porque falamos de organismos estatais e de pessoas que ocupam cargos públicos - pensa sobre o respeito devido aos nossos mortos.

    Creio que o assunto tem mais do que dignidade para ser tratado aqui. Agora, todos se indignam e consideram ofensivo. E como sempre, em Portugal, apressamo-nos, mui diligentemente, a alterar esta lei, regulamento ou portaria depois das polémicas. Se não tivesse este mediatismo, estimulado pelas fotos e vídeos postos a circular, as jantaradas na Igreja de Santa Engrácia continuariam, entre os túmulos e os cenotáfios, profanando-se a memória dos nossos antepassados históricos.


E por falar em jantar, se ainda não decidiu, tem até ao dia 2 de Dezembro para o fazer. Pode participar no nosso jantar de Natal, seguindo esta hiperligação ou clicando no gadget do lado direito do ecrã. Terá lugar num espaço acolhedor, com bom ambiente e rodeado de gente viva e simpática!

8 de novembro de 2017

A Revolução de Outubro.


   Assinalou-se, ontem, o centésimo aniversário sobre a Revolução de Outubro, ou de Novembro, no nosso calendário gregoriano. A 7 de Novembro de 1917, os bolcheviques tomaram o poder numa Rússia em plena convulsão política e social. Lenine encabeçou um movimento que se opunha ao governo provisório vindo da Revolução de Fevereiro (ou de Março, no calendário ocidental) de cariz burguês e local, da classe assalariada.

    A estratégia de Lenine foi devidamente conjecturada. Para o conseguir, apoiou-se nos sovietes, ou seja, nas associações de trabalhadores e soldados. Estes órgãos de poder, democráticos na sua génese, inspirariam, mais tarde, em 1922, o nome do país: União Soviética.
    Depressa foram esvaziados nas suas competências e atribuições, que passaram para o partido único, organizado de modo centralista, que pôs em prática um programa de eliminação da classe média, erguendo uma sociedade dita socialista. Seria um primeiro passo. Lenine estava plenamente convencido de que o sucesso da revolução socialista passaria também por exportar o modelo para os países do ocidente europeu.

    O atraso estruturante tem sido invocado como um dos motivos que levaram ao sucesso dos bolcheviques. O estilo de governação absolutista, a sociedade fortemente estratificada e a participação na I Guerra Mundial proporcionaram a ascensão de movimentos que, tomando em consideração a realidade do país, com 85 % de camponeses, defendiam a tomada do poder pelas classes trabalhadoras. Os erros, entretanto, foram mais do que muitos. Sob a insígnia de inimigos da revolução, e sob o comando de Lenine, houve perseguições em massa; nem as crianças Romanov escaparam à fúria bolchevique. Seguiu-se-lhe, à Revolução, uma guerra civil, e não a prosperidade que é apregoada.

    Munida de boas intenções, a Revolução de Outubro viria permitir a institucionalização do terror e das práticas persecutórias. A ditadura do proletariado mais não foi do que a ditadura do partido comunista, com execuções sumárias e com deportações em massa.

    As grandes fomes continuaram, o atraso também. Os vícios que se apontavam ao czar e à sua administração foram transferidos para outro modelo, também ele devidamente centralista. A passagem da Rússia da enxada e do arado para superpotência teve um preço dramático para milhões de pessoas. A vida do operariado e do campesinato não mudou. Logo em 1918, um ano após a revolução, queixavam-se da falta de trigo e das péssimas condições de trabalho.

    O pior, quanto a mim, viria com o apoio a revoluções semelhantes um pouco por todo o mundo que orbitava em torno da influência soviética, pelo reflexo nesses países e pelo que teria noutros, a contrario, com regimes autoritários de direita fortemente anticomunistas. A Revolução de 1917 teve consequências na história do século XX como poucas.

    A Rússia de Lenine não conheceu a bonança como apregoa a historiografia pouco isenta. Seria Estaline, posteriormente, com as suas políticas de planificação, que conduziria a Rússia ao estatuto que atingiu, sem que os problemas estruturais do país e das repúblicas que anexou fossem sanados. Em verdade, os últimos anos da União Soviética poriam a descoberto as fragilidades de uma realidade assente na repressão, na violação sistemática dos direitos humanos e na instrumentalização do ser humano ao serviço de um Estado que, contrariando os planos de Lenine, nunca viria a ser abolido. A sociedade comunista jamais se concretizou. Ergueram, sim, um Estado totalitário, dirigido por uma elite indiferente ao bem-estar da população. Escudando-se numa educação politizada e programática, incutiam os seus valores torpes nas novas gerações, mas quem viveu em sociedades socialistas conheceu o terror, a carência de bens e serviços e a falta de um valor inestimável: a liberdade, até a de conformar o destino aos ditames da consciência de cada um, num livre e saudável desenvolvimento da personalidade.

4 de novembro de 2017

Jantar de Natal - Lisboa/2017.


   Este ano, pela primeira vez, e como ando festivo, vou organizar um jantar de Natal para amigos. Há algumas considerações a fazer. E perguntas que se vos, legitimamente, colocarão. Em primeiro lugar, é oportuno fazer uma pequena referência ao lanche de Natal do ano passado, de minha autoria, que foi singelo, porém um êxito. Em rigor, já em 2016 pensei em propor um jantar de Natal. Todavia, como havia sido organizado recentemente um jantar, adaptei a ideia para algo mais comedido.

   Para amigos. Este jantar, e convém frisá-lo, não é um jantar de blogues. É, como o nome indica, um jantar de Natal, que anuncio no blogue porque gostaria que fosse abrangente e que reunisse pessoas também da blogosfera, desde que se proponham a participar. O intuito é tão-só o de desfrutar de um serão agradável. Terá lugar num espaço acolhedor, da capital, ainda a determinar. O dia, esse sim, está escolhido. Realizar-se-á a um sábado, 16 de Dezembro. A quem quiser participar, anote na agenda. A menos que haja um contratempo, será este o dia do jantar.




    Para esse dia, o evento é o jantar. Entretanto, haverá um lanche de Natal, no mesmo dia, pela parte da tarde, que em nada estará relacionado ao jantar, ou seja, quem quiser participar no jantar não terá de participar no lanche. O lanche, digamos assim, será um momento de confraternização que antecipa o jantar. Já escolhi o local do lanche e a hora, que serão devidamente divulgados a quem mostrar interesse. Haverá, seguindo-se ao lanche e ao jantar, um after-dinner num local agradável, a definir, de animação nocturna. Nada de devaneios, que é Natal. Um barzinho. Por maioria de razão, também só participará quem quiser. O evento, repito, será o jantar.

   Com a periodicidade que me parecer devida, irei publicando mais informações sobre o jantar. Se quiserem participar, enviem-me um e-mail para asaventurasdemark@hotmail.com, o e-mail do blogue. Exorto-vos a que adiram à ideia. Será um jantar simpático, elegante, com pessoas divertidas e discretas. É o primeiro anúncio que faço ao jantar e posso dizer que já somos umas 5 a 6 pessoas, comigo incluído. Virão, inclusive, de fora do país. Pelo menos uma. O esforço valerá a pena.

   Compreendo que o factor gastos-de-Natal pese em algumas pessoas na hora da decisão. Pois bem, o jantar comportará um preço simbólico a cada um. Não será nada excessivamente caro. Assim haja boa vontade em participar. Poderão confirmar a vossa presença até ao dia 2 de Dezembro. Terão tempo para reservar o dia 16 para o jantar.
   Venham. Podem trazer conhecidos, amigos. Não se sintam acanhados! Quaisquer dúvidas, disponham. Estarei disponível através do e-mail e na caixa de comentários para questões mais genéricas. :)