Lisboa, aos vinte de dezembro de dois mil e dezassete,
A Ti,
Eis-me aqui, um ano volvido, endereçando-te algumas palavras. Serei mais sucinto do que no ano passado. Inquieta-me menos ter a certeza da Tua existência ou da Tua não existência. Assumo que existes, ainda que omisso. Assumo, também, que nos revelaste a Tua Palavra, e que por ela encontraremos a salvação. Nasceste exactamente para que não perecêssemos. Somos tão imperfeitos que me custa acreditar que fomos feitos à Tua imagem e semelhança. A menos que sejas tão imperfeito como nós. Há essa probabilidade, que deve ser justamente equacionada.
O ano foi atribulado. Escuso-me a detalhar. Se tudo sabes e tudo vês, imaginas àquilo a que me refiro. Pondo-me à procura de um bom adjectivo para descrever dois mil e dezassete, dou-me conta da impossibilidade de encontrar um que o defina de modo preciso. "Estranho", talvez. Poder-se-á aplicar, sem delongas. O ano foi assim mesmo: estranho. Uma estranheza má, que há as boas. Há coisas que nos são estranhas, mas positivas. Dois mil e dezassete foi estranho e profundamente negativo.
Entretanto, e começou tão mal, foi-se tornando melhor com o passar dos meses, ou pelo menos foi-se tornando mais leve, mais fácil de suportar. Não tendo ainda terminado, diria que estas últimas semanas se passaram em acalmia.
Terei de aprender a lidar comigo e com as minhas manias e ansiedades. Sofro muito por antecipação e por desordem interna. Tudo isso torna a vida mais pesada, sofrível. Não há que ser assim. Por vezes, procuro pôr-me na pele de outrem e tentar compreender em como ainda vêem beleza na vida, no viver. Há em mim um desalento qualquer. Não é de agora. É de anos. Um desânimo. E tão-pouco sei explicar se são os meus olhos que observam a vida de modo pior do que ela é. Porque é custosa, sabemo-lo. Serei eu que a torno pior? Por mais que tente desligar-me da minha pele para o investigar, serei sempre o autor das minhas análises. Torna-se impossível evadir-me de mim, dos meus preconceitos e formatações, daquilo que a vida foi imprimindo no meu carácter. Estou condenado a viver comigo, com o que sou. E não sou uma pessoa fácil. Não sou fácil para ninguém. Para consolo de terceiros, nem para mim.
Já fiz as minhas compras, as trivialidades que não trazem felicidade, mas que aquecem a fúria consumista. Também passeei muito nos últimos dias, mais do que em anos, e o jantar de Natal foi um sucesso. Vou tendo saúde, com as mazelas de sempre que não matam, só moem. Nem devo formular pedidos a título individual. Só tranquilidade e bom senso na hora de tomar decisões. Seriam os melhores presentes de Natal, que se prolongariam pelo ano novo afora.
Para que não mais Te incomode, que certamente terás outros, com maior prioridade, a quem ouvir, despeço-me. Vai olhando por todos. Perdoa aos homens, e inspira-os, que a humanidade carece da Tua presença e dos valores que lhes ensinaste através do Teu Filho.
lots of love,
Mark
Posso?
ResponderEliminarTalvez a última frase deva ser modificada na medida em que a carta está dirigida a Jesus e não ao Pai.
Foi, certamente, uma distracção.
A sua escrita, Mark, é sempre muito boa pelo que esta correcção, se assim o entender, pode ser feita sem a publicação deste comentário.
Um abraço de um leitor assíduo carregado de Votos de Festas Felizes.
Claro que pode, mas não me enganei. :) Embora a carta seja endereçada a Jesus, porque foi a data em terá nascido, é dirigida a Deus, que, como sabe, engloba o Pai e o Filho, daí que os mencione indistintamente ao longo do texto. Pelo menos assim entendo Deus, à luz da teologia católica.
EliminarBoas Festas. Um abraço.
2017 foi bom para mim, tanta coisa que aconteceu e que ainda não acabaram. Creio que foi o início de qualquer coisa e espero que o fim não seja em breve
ResponderEliminarSe 2018 for igual a 2017, já me darei por muito feliz :)
Grande abraço amigo e Feliz Natal
Ainda bem, amigo. :)
EliminarFeliz Natal, e um abraço grande.