O sistema constitucional norte-americano, ou estadunidense, como prefiro designar (até por uma questão de correcção linguística e cultural - norte-americanos são, a bem ver, canadianos e mexicanos, lembrando essa apropriação indébita aquela que Espanha empreendeu ao tomar abruptamente a hispanidade e Las Españas dos portugueses), é substancialmente oposto ao português. A experiência, inclusive. O constitucionalismo estadunidense, na senda do britânico, e na tradição anglo-saxónica, é estável, cimentando-se pelos tempos. A Constituição dos EUA, de 1787, é bastante sucinta, com poucos artigos e tendo passado por brevíssimas emendas ao longo da sua provecta vigência (há dias, a propósito de outra publicação, recordo-me de mencionar, sem enumerar, textos constitucionais menos exaustivos e mais duradouros). O Presidente da República é, efectivamente, a primeira autoridade da União. Simultaneamente Chefe de Estado e Chefe de Executivo, o Presidente dos EUA incorpora a figura estável e eficiente. O Presidente detém o poder executivo federal, executa as leis, superintende nos serviços da Administração e é o Comandante-Chefe das forças militares. O Presidente, em síntese, foi adquirindo um papel de elevado protagonismo, tornando-se o condutor político do Estado federal e, nesse sentido, o centro da vida pública estadunidense.
As eleições presidenciais estadunidenses revestem-se de extrema complexidade, envolvendo gastos astronómicos que ascendem aos milhões de dólares. As campanhas, como não poderia deixar de ser, são imensamente personalizadas. Os eleitores votam nos ideais, no entanto também escrutinam o carisma, a postura e a própria vida pessoal. A imprensa estadunidense é ágil, livre das amarras que em determinados países, como Portugal, comprometem, de facto, um olhar esclarecido e verdadeiramente livre. Num Estado federal, com uma multiplicidade de entidades federadas, todo o processo é intrincado. As eleições, por sua vez, subdividem-se em primárias, cuja finalidade centra-se na escolha de cada partido, Partido Democrata e Partido Republicano, pelo seu candidato, que será o que tiver obtido o maior número de delegados. Esse candidato, muito provavelmente, conseguirá a nomeação na convenção do partido. Seguir-se-á o dia da eleição propriamente dita, em que cada cidadão será chamado às urnas. Em todo o caso, o sufrágio estadunidense não é directo. Os cidadãos escolherão os eleitores presidenciais, republicanos e democratas (colégio eleitoral). Posteriormente, esses eleitores presidenciais reúnem-se nas capitais dos seus Estados e votam nos candidatos que lhes parecerem idóneos, que é como quem diz, os candidatos do seu partido (à Presidência e Vice-Presidência) - o constitucionalismo informal que também persegue a Constituição dos EUA. Os cidadãos, que votam nos eleitores de certo partido, sabem que esses eleitores votarão no candidato do partido.
Escusando-me a mais considerações acerca do sistema constitucional estadunidense, o que me é muito estimulante e apela às minhas saudosas aulas de Direito Constitucional comparado, deter-me-ei na fase em que estamos, nas eleições primárias, sobretudo no candidato que, pelo decurso dos acontecimentos, dada a desistência dos seus oponentes no interior do seu partido, será a escolha dos republicanos. Falo-vos de Donald Trump, como é sobejamente conhecido. Pelo Partido Democrata, Hillary Clinton vai-se assumindo como favorita, muito embora Bernie Sanders vá ganhando alguma vantagem pontual. Trump e Clinton, aliás, têm-se revelado mui bem sucedidos nas suas respectivas campanhas pelos Estados federados da União.
Donald Trump. Um magnata do social. Conhecido da imprensa cor de rosa. Recordo-me de o ver - porém sem o levar a sério - associado a alguns escândalos com a socialite Ivana Trump, sua ex-mulher. Desconhecia-lhe a faceta política, como julgo que muitos dos seus compatriotas. A política estadunidense lembra-me a brasileira, por vezes, dada a descontracção e informalidade. Quando ouço e vejo Donald Trump, não sei se hei-de rir ou chorar. A sua demagogia é asfixiante. Que assim fosse e estaríamos confortáveis. O pior é o perigo que nela reside. Trump sabe galvanizar as massas, sabe apelar ao que de pior existe em cada estadunidense; conhece as aspirações do povo, o desejo por segurança, marcando como alvos fáceis os imigrantes. Noto-lhe o tom belicista que me preocupa sobremodo. Os EUA são a única potência hegemónica desde a queda da União Soviética e são, de facto, um dos líderes do planeta desde que destronaram a sua pátria-mãe, o Reino Unido, após o final da I Guerra Mundial. Em boa verdade, os estadunidenses escolherão um pretenso Presidente Mundial, um homem ou uma mulher que terá em suas mãos os destinos do planeta. Não subestimemos o peso de um país como os EUA no quadro geopolítico internacional. Sabemos em como organismos como a ONU e o FMI são facilmente manobrados. A ONU viu a sua legitimidade fortemente ameaçada desde que a administração Bush não teve o menor pudor em fazer a guerra sem o seu aval; o FMI tem como um dos seus maiores financiadores - senão o maior - os EUA. Se acrescermos tudo isto ao poderio bélico e militar, chegamos à superpotência que, de uma ou de outra forma, tem influído nas relações entre os povos ao longo de todo o século XX e destes primeiros dezasseis anos do século XXI.
Obama, presidente cessante, brincou - e bem: Trump tem fragilidades, não tem sentido de Estado; será inusitado, no mínimo, vê-lo actuar enquanto Presidente dos Estados Unidos da América. Preenche, quanto a mim, o velho e gasto estereótipo do estadunidense desinformado, que conhece apenas o seu umbigo, demonstrando uma grotesca ignorância relativamente ao mundo que o rodeia. Talvez assim não seja. Da habilidade de Trump ninguém duvida. Não é qualquer um que passa de piada a epicentro de uma histeria colectiva. Esse mérito já não lhe tiram.
Preocupante sim mas não acredito nem q ele chegue a ser o candidato. Na hora H dão o tombo nele. Em disputa ele não tem chance.
ResponderEliminarJá tivemos um Bush.
EliminarEu não irei, doravante, subestimar Trump.
Trump diz algumas verdades, como todos nós. Ouvimos o senhor com o seu blá blá blá...
ResponderEliminarMas acredito mais na vitória de Hilary :) A mulher que irá ocupar a sala, onde o seu marido andou a brincar com a secretária ahahahahahahhahaha
Quando olho para os EUA, acredito que nós portugueses não somos assim um povo tão burro lolololololololololol
Grande abraço amigo Mark
Diz disparates, e alguns bem graves.
Eliminarum abraço, amigo.
Trump é um candidato ideal para o "show business". Ele é polémico, espalhafatoso, "dá uma no cravo e outra na ferradura", além de cometer gaffes e de se meter em confusões, semana sim, semana sim. :P
ResponderEliminaré verdade que ele diz aquilo que muitos americanos pensam no seu íntimo. Desde que um amigo meu se foi embora para viver nos States o ano passado, tenho uma informação "in loco" muito mais precisa e interessante sobre os americanos no geral, o seu modo de vida e cultura em particular, apesar de eu já lá ter estado uma temporada. Em San Diego a vida é muito mais "liberal" do que no Colorado, por exemplo. Em alguns aspectos a minha visão quanto ao país em si e aos americanos em particular mudaram. Mas continua a ser um país onde quero viver. :)
Quanto ao Trump, ele irá perder nas eleições. Tem uma grande máquina partidária a trabalhar com ele, mas o sistema financeiro e a maioria dos americanos prefere a Hilary e ainda bem. :) Também gosto do Sanders, tenho pena que ele fique pelo caminho, mas era bom que ele fosse convidado para Vice-Presidente.
Abraço :3
Olá, Sphinx.
EliminarIsso não é uma novidade em si. É conhecida a discrepância entre o interior dos EUA e o litoral e entre os estados do norte e os estados do sul. Os republicanos têm bastante mais peso político no interior rural enquanto que os democratas encontram maior acolhimento nos grandes centros urbanos.
Sabes, eu sou muito cauteloso. A decisão pertence aos eleitores e não às sondagens. Até agora, o percurso de Trump tem sido bastante mais sólido do que o de Hillary Clinton. Eu diria que ela terá mais probabilidades de ganhar, porque creio que os estadunidenses esclarecidos ultrapassarão os que se deixam levar pela demagogia de Trump, se bem que acho arriscado dizer-se «ele irá perder as eleições». A própria Hillary não é consensual entre os democratas.
um abraço.
Daí a luta salutar entre a Hilary e o Sanders. Da parte dos democratas, creio que ainda teremos surpresas, "a procissão ainda vai no adro".
EliminarCreio que de uma forma geral os norte-americanos estão "esclarecidos". É certo que existe muita gente que aceita as demagogias do Trump, mas na maioria sabem que se ele for eleito Presidente, o país entrará em retrocesso, com as medidas radicalistas que ele pretende impôr. E mesmo que ele seja eleito, tenho as minhas dúvidas que consiga levar algumas das suas demagogias adiante. O Congresso ficará bastante dividido porque certas medidas não afectarão só os Estados Unidos e eles não se podem dar ao luxo de entrar em crise novamente.
Trump tem o seu nicho numa população racista, homofóbica, a crise económica dos últimos anos acentuou diferenças, fragilidades e isso favoreceu o crescimento deste tipo de políticos.
Eliminartendo por trás de si um império de comunicação social, a sua mensagem chega aos estados mais intolerantes.
assusta-me que os EUA possam eleger este homem, espero que não.
bjs.
Sphinx: Esperemos que eles tenham essa sensatez. Muitos estadunidenses darão o seu voto às políticas restritivas. Desde o 9/11 que há uma obsessão com a segurança, com o controlo mais apertado da imigração. Trump sabe que esse discurso é convincente, daí ter referido que os seus compatriotas esclarecidos, ou seja, libertos de todo esse populismo, são a única esperança.
EliminarMargarida: Basta olhar para a Europa e em como a extrema-direita tem granjeado adeptos e seguidores por aqui. Os EUA são um país assimétrico: há muito conservadorismo. Eles são imensamente nacionalistas. Para teres uma ideia, é costume o Presidente tomar posse com a mão sobre a Bíblia. O que seria se um Presidente da República português o fizesse!
um beijinho.
Infelizmente é algo que já acontece na velha Europa, estamos a ficar sem alternativas decentes. Os EUA, aquela miscelânea de povos, é apenas mais um espelho do radical que está de novo a conquistar o mundo.
ResponderEliminarVamos a ver se os estadunidenses saberão separar o "trigo do joio".
Até consta que, em 2050, os hispanofalantes equiparar-se-ão, em número, aos anglófonos. O peso da comunidade hispânica é bastante acentuado, sobretudo no sul. Não nos podemos esquecer de que há estados dos EUA que pertenceram a Espanha, primeiramente, e ao México, tendo este último os perdido em conflitos com o seu vizinho a norte. Trump agrediu a comunidade hispânica, comprometendo-se. No interior do seu partido, tão-pouco Bush (pai e filho) o apoiam.
EliminarNão podemos deixar de reconhecer o mérito da sua campanha. Os louros têm sido inteiramente seus.
Não acredito que todos os Republicanos se revejam no Trump, ele além de ridículo, acaba por ter uma atitude que na mais hipotética hipótese de ganhar, seria uma autêntica vergonha para os norte-americanos, mas acredito que ele não ganhe.
ResponderEliminarClaro está, como há democratas que não se revêem em Clinton ou em Sanders, ou ainda em ambos.
EliminarVeremos o que os próximos meses trarão. Como país de dimensões continentais e sendo uma federação, a saga presidencial tem muitas nuances.
lí o título e pensei que ias falar do Trumps, Lol.
ResponderEliminarA distância entre Trump e Trumps não poderia ser maior.
Not really. (risos)
EliminarOu não, ou não. Às vezes, os mais 'retrograditos' são os piores.
Eu, como estou a ler com um olho aberto e outro fechado, li "ereção". Não sei como.
ResponderEliminarVou ficar por aqui e continuo a ler amanhã...
(e como não me ocorre nada inteligente, apenas digo que o Trump deve ter uma ligação do intestino grosso ao cérebro).
Já vi uma gravura no fb em que surge um intestino com a curiosa guedelha de Trump. :'D
EliminarLeste "ereção" porque tens essa mente poluída. :p