10 de abril de 2015

De Édipo e dos tormentos.


   Somos os únicos mamíferos que continuam a ingerir leite depois de adultos. Como tal, também atingimos tarde a maturidade, protelando a saída de casa para além do quarto de século de vida. Erradamente quanto à segunda constatação, e a primeira começa a merecer interrogações relativas aos seus benefícios por parte da comunidade científica.

     É importante tornarmo-nos responsáveis pela nossa sobrevivência, incluindo segurança e subsistência, e os pais devem incutir nos filhos o valor da independência. O que mãe e o pai não fizeram comigo - preço que alto se paga. Não fui educado para crescer, para seguir o meu caminho, tropeçando e erguendo-me, quebrando o nariz, como ouvi por aí. Um bebé é em si mesmo um diamante que lapidamos e todo o cuidado é pouco no garante dessa tarefa.

      A vocação parental dos pais é nula ou perto disso. Não que tenham sido maus pais, não o foram. Chego a perguntar-me se não terão sido bons demais. Capaz de terem sido maus, ao não saberem educar-me convenientemente. Quem disse que o mais importante para uma criança são brinquedos atrás de brinquedos, a satisfação de todos os seus caprichos? Confiar o que nos compete a terceiros, pagando para isso, afastando deveres que são nossos. E educar não passa apenas por alimentar, por assegurar conforto. Contempla os exemplos, as regras, os conselhos, a capacidade de dizer um "não" firme e sonoro, inderrogável. De tudo sinto falta e, podendo regredir no tempo, a isso pediria para ser sujeito.

      Faço, então, passo ante passo, as conquistas que não fiz. Procuro desenvencilhar-me do que me segura, me sufoca, me tolhe os movimentos. Pequenas vitórias pessoais, nada mais. Tão simples. Que me são essenciais. Isto para evitar o crescimento abrupto que tive há uns anos, em que de uma assentada tive de assegurar o que ainda não tinha feito. E foi doloroso. Nunca são processos fáceis, pelo menos envolvem pequenos martírios.

      Quero sair daqui. Morar só. Ser adulto de vez. É a etapa que se segue, que me atemoriza, é certo, mas da qual preciso.
        Gosto da mãe. Muito. Não posso continuar a ser o seu menino. Não lhe faz bem, nem a mim.

22 comentários:

  1. Saí de casa aos dezoito no entanto carreguei comigo uma sensação de que fui solto tardiamente e de abandono. Gostava que me tivessem impedido em vez de apoiado como foi! Agora que olho para trás digo que apesar das dificuldades iniciais, valeu a pena! Por isso força! :-)

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    1. Dezoito anos será cedo (ou talvez não...). Depende de cada um.

      Eu sinto que já estou a mais em casa. Sei que vai custar, mas preciso dar esse passo. É importante.

      Bom, estou decidido a fazê-lo. Tenho de pensar com calma. Obrigado. :)

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  2. Eu também saí de casa aos 18. Para estudar, é certo, não tinha independência financeira. Conquistei-a depois. Cheguei a voltar para a casa dos pais. Tenho sido, como muitos da minha idade, um caracol, com a casa às costas para onde há emprego.
    Fez-me lindamente. Cresci muito, tive de aprender a desenvencilhar-me sozinho. Estive doente recentemente. Esforcei-me para que os pais não o soubessem. Não os queira preocupar. Acho que consegui... Só lhes contei quando já tudo tinha passado.
    E acredita que apesar da solidão que às vezes se sente, quando se está sozinho, há coisas também muito boas. Que as irás descobrir por ti próprio :)

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    1. Sim. O facto de não se precisar também ajuda a ir adiando a inevitável saída de casa. Até ao ponto em que sentes essa necessidade.
      Não nascemos para ficar com os pais. Nascemos para o mundo.

      Preciso estar só. De construir a minha vida. Quero ir ao supermercado, viajar só, sentir-me responsável por mim mesmo!... São as coisas boas. :)

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  3. Quanto ao leite, tretas. O que bebiam os Nórdicos?! Qual era o produto fresco que eles tinham todos os dias?! Leite...

    Por isso são altos e não só ;)

    Abraço amigo

    P.S - Não tenhas pressa de viver sozinho. É bom, mas não é tudo.... Como fui feliz em casa dos meus pais e não o soube aproveitar. Fui rico, e nunca estava satisfeito com nada lololololol

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    1. Bom, a comunidade científica começa a pôr em causa os benefícios do leite. Confirmando-se, pobre de mim que adoro leite!..

      Francisco, eu tenho pressa em sair de casa porque já não me sinto bem aqui. Preciso cuidar da minha vida. É-me importante. Sei, todavia, que nem tudo será rosas, mas eu sou atinado.

      abraço, amigo.

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  4. Já tinha lido sobre isso do leite, e tem alguma lógica :-)

    Penso que já te tinha dito, eu vivo com os meus pais, por vezes sinto-me estranho quando em conversas digo isso a alguém, pois eu sei bem como é que a mente humana funciona, ou melhor, faz com que tenham ideias erradas sobre quem ainda vive com os pais. A vida é muito complicada, e só não vivo sozinho por 2 razões, mas blogs não é o sitio mais indicado para falar disso.

    Se querer viver sozinho, força, acredita que vais "crescer" num outro patamar, vai-te fazer bem :-)

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    1. Eu vivo com a mãe, mas ela tem uma uma pessoa, ou seja, sair de casa seria bom para ela e para mim.

      Ninguém sabe dos teus motivos. Se ainda moras com os teus pais, terás as tuas razões. Não creio que seja "estranho" morar com os pais a partir de determinada idade. Às vezes é até por questões económicas.

      Para sair é preciso madurar a ideia. Ando a pensar nisso. :) A mim, em particular, será bom. Sou muito... acanhado.

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  5. Também moro sozinho desde os dezenove anos, mas sai para estudar em outra cidade. Acho que faz parte e todos sabemos que existe um lado bom e um lado ruim de morar sozinho. Acredito que foi uma das coisas mais importantes da minha vida e não me arrependo jamais!

    Grande abraço!

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    1. Uma grande parte das pessoas sai de casa devido aos estudos. Como sou de Lisboa, não passei por isso. Teria sido bom...

      Creio que o que se ganha a longo prazo compensa os pequenos contratempos.

      abraço, Eros.

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  6. Eu penso que devias experimentar uma saída "precária". Ir viver uma temporada em casa da avó. Pode parecer que a ideia não te seja agradável de todo inicialmente, mas pelo menos irás mudar de ares e certamente terás alguma independência que agora não tens. Isso irá permitir-te também começares a fazeres mais por ti mesmo e até seres altruísta, ao ajudares a tua avó. ^^

    Se esta ideia não te agrada, então experimenta alugar um pequeno apartamento e viver uma semanita fora, para veres como te sentes. Nada como experimentares para saberes como é e compreenderes melhor com o que terás de vir a lidar, caso queiras avançar com essa ideia de facto no futuro.

    Hughie :3

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    1. João, a mãe não me controla. Não seria mais independente em casa da avó. Aqui posso ir onde quero, fazer o que me apetece dentro dos limites do razoável.

      Um detalhe: a avó materna não está só, se a ela te referes. Tem o avô. Quanto à avó paterna, nunca fomos próximos afectivamente. Essa sim perdeu o avô.

      Não temo morar só e nem as responsabilidades inerentes. Só me faria bem e, mal por mal, estaria mais tranquilo.

      um grande abraço.

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  7. Há muito que sigo as recomendações genéricas de alimentação da Harvard Medical School. É a mais segura das fontes de investigação médica, independente da Agricultura e da Indústria dos laticínios que nos EUA ainda tem (tinha) mais poder que na Europa. Leite, como todos os alimentos, tem benefícios e malefícios, mas os primeiros não compensam os segundos. Leite de vaca é produzido para transformar um bezerro num bovino de toneladas - é fácil de imaginar que não é concebido para humanos. Existem alternativas sucessivamente mais ajustadas: leite de cabra é mais compatível que o de ovelha e este que o de vaca. Bebidas vegetais são ainda melhor alternativa pela ausência de grandes quantidades de gordura saturada. Leite de soja é mais indicado para mulheres (soja é um pro-estrogénio), existe de arroz, amêndoa, e entre outros mais o de aveia, o meu favorito. Relativamente à soja, há que ter em conta que grande parte é transgénica. A questão do cálcio do leite usado e abusado na publicidade das marcas da indústria leiteira é um dos maiores equívocos de saúde pública. Sobre isto ler processo de assimilação de cálcio e acidificação do sangue por ingestão de leite animal (que provoca descalcificação dos ossos). O exercício físico regular e alimentação diversificada e com legumes verde-escuros é mais que suficiente para a manutenção do cálcio no esqueleto. Um pouco de requeijão e queijo fresco, ou iogurte meio-gordo ou magro colmatam défices que possam existir. Beber leite é completamente dispensável.

    Sobre ti, a tua independência e a tua mãe: sim, Mark, assim que possas, salta fora do ninho. Não há nada mais sexy que um homem independente (com o seu espaço e capacidade total de tomar conta de si e das suas coisas).

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    1. Alex, gostei da tua proficiência em questões alimentares. Não te sabia tão a par destes assuntos. :) Sim, o leite é facilmente substituído por outros produtos (sendo mais preciso, o cálcio).
      No meu caso, bebo leite não porque "faça bem", mas porque gosto do sabor. Até simples, quente, com açúcar. :)

      Li acerca da acidificação do sangue por ingestão de leite animal. Assustou-me, assumo.

      É... sair de casa é uma prioridade, believe me. Além de "sexy", é uma necessidade.

      abração!

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  8. Este post revela como estás crescido :D

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  9. Eu saí de casa por volta dos 25, porque fui trabalhar para outra cidade.
    Para mim, já adulto e crescido, foi o melhor que podia ter acontecido porque os meus pais, apesar da idade, eram ainda muito controladores.
    Era quase sufocante.
    Se decidires dar esse passo, vai fazer-te bem. Vais passar a ter o descanso e a tranquilidade que procuras.
    Boa sorte!!

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    1. A mãe é controladora q. b. Já foi mais, embora continue a ver-me como um menino pequenino... Mas não será assim a maioria das mães?...

      Não há nada que pague a tranquilidade.

      um abraço.

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  10. de um dia para o outro, enjoei os produtos lácteos, nem leite, nem manteigas, nem queijo, e ainda pára em casa um dos pacotes de 200 ml de leite, mas como não tenho chocolate em pó para fazer chocolate quente no fogão, lá fica. terei de estar à coca do prazo de validade. altero entre soja e bebida de arroz, porque amêndoa não gosto. o Alex referiu quase tudo que concordo. desde que não haja fundamentalismos, pode comer-se de tudo, desde que se goste.
    quanto à saída do ninho, pelos exemplos daqui já expostos, a maior parte saiu cedo de casa. eu também. viver sozinho é bom, muito bom, somos independentes, teremos de saber gerir a nossa bolsa, não dar satisfações, mas também se ganham alguns vícios (eu que o diga - acho que agora não seria capaz de viver com outra pessoa).
    o que escolheres, terás de ponderar bem, se falhares e regressares ao ninho, pelo menos tentaste.
    no meu caso, entre a venda de uma casa e a compra de outra, estive uns dias em casa da minha mãe (eu, mobílias e gatos tudo ao molho :D) e jurei que seria a última vez que faria isso. foi um caso pontualíssimo.
    bjs.

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    1. Eu gosto realmente de leite. Estou é com receio de beber leite "a mais". Bebo bastante, assumo. Gosto. Também li algo, há tempos, sobre os malefícios do leite no fígado. Quem diria!...
      A comunidade científica vai aprimorando os seus estudos. O leite é aquele produto inócuo, com décadas e décadas de supostos benefícios para a saúde que se tornaram quase "dogmas": "o leite faz bem, ponto final". Err, atenção, se calhar não é bem assim. Apanhou-me de surpresa, se bem que já se vinha falando disto.

      Margarida, tu és o meu exemplo (acredita!) de independência, de determinação. E por tantas adversidades passaste. Ando a ganhar coragem para tomar uma decisão que já vem tarde.

      um beijinho.

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  11. Como gostei deste teu post, Mark, e refiro-me apenas à questão da emancipação, mais propriamente à saída de casa.
    Revela finalmente que estás no caminho certo, e deves recordar-te, amigo, quantas vezes te critiquei, num bom sentido, claro, por continuares agarrado demasiado ao proteccionismo materno. Como bem dizes, os pais podem ser não maus pais, mas não completamente bons pais, porque são demasiado bons.
    Tu estás agora a desatar as"cordas" a que tens estado amarrado e fazes muito bem.
    Viver sozinho tem prós e contras, como tudo, mas acredita que os prós valem bem a pena. E no teu caso particular, por razões que entenderás melhor que eu, ainda mais.
    Voa, voa, não tenhas medo - tu tens asas, recorda-te disso.

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    1. João, é verdade. Tu sempre foste uma das pessoas que mais apoiou uma eventual saída de casa.

      Desato, progressivamente, os laços que me prendem à mãe. Não é saudável, nem para mim, nem para ela.

      Viver sozinho tem os seus inconvenientes, mas o que se ganha em aprendizagem e autonomia não tem preço.

      abraço.

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