Pelo extenso areal, um tecido mole, gelatinoso, cuja origem adivinha mil e uma milhas. História mal contada, indiferente aos gritos estridentes e despreocupados de miúdos que se sentem a salvo. Amontoado de nada, dantes corpo de vida marinha, livre, temida, venenosa, sabe-se lá letal.
Uma e outra, quatro e cinco, muitas mais. No mar, colorado de castanho pelo tom das rochas, a vida despontava a cada olhar. Vida que veio à superfície, arrastada pela corrente da maré. Banhistas refugiam-se nos pedregulhos ainda não cobertos pela água; outros, saltam, abrindo brechas que desvendam o fundo. Mães que pegam, atemorizadas, nos petizes de pouca idade. Diriam que se tratava de um tubarão. Mas não. Uma alforreca moribunda. Fraca para se guiar, aguardando as redes, carrascas, que ditariam o seu fim. A angústia se de escolher uma praia concessionada.
Afinal, o que suscita nas pessoas um ser tão inofensivo fora do seu habitat natural? O espaço que lhe pertence. Tido como intruso por quem faz do mar o seu passatempo, ocupando-se por breves instantes, os suficientes para se tomar por dono.
Mulher loura, espampanante. A pele destruída por anos de sol descuidado, enrugada pelos braços. O moreno de uma vida ociosa, que descortino entre uma casa na capital e compras por Paris. A necessidade da auto-afirmação, frustrada em nova, não deixou que as jóias ficassem por casa. Rivalizavam com o louro platinado dos seus cabelos. Os seios, pendendo sobre o tronco, eram o toque final de um quadro que poderia considerar de horror. Vociferava, alarmada, pela presença dos cnidários. Seria a primeira a pegar num pequeno galho e a revolver o que restava do animal, à medida em que mais se acumulavam.
Modificar o que não nos pertence, para alegria de dezenas que puderam, finalmente, usufruir das suas férias. Um menino, ousado, de calção de banho azul-bebé, aproximou-se da medusa, morta, e tocou-lhe as ventosas, enquanto a mãe, distraída, acertava com alguém "o jantar que não pode ser adiado". Os pés, pequeninos, chapinhavam na fraca rebentação. Saltitava ao pisar pedrinhas afiadas. Ninguém dera por aquela, tão perigosa! O instinto levou-o, infrutiferamente, a colocá-la de novo na água, procurando, quem sabe, devolver-lhe a vida. Aqui, dizem, reside a esperança da Humanidade.
Correu na direcção dos pais, orgulhoso do seu feito, são como fora. O castelinho de areia, que deixara para trás, era engolido pelas ondas escassos minutos depois.
A tranquilidade reinava de novo, entre trincadas na maçã.
Afinal, o que suscita nas pessoas um ser tão inofensivo fora do seu habitat natural? O espaço que lhe pertence. Tido como intruso por quem faz do mar o seu passatempo, ocupando-se por breves instantes, os suficientes para se tomar por dono.
Mulher loura, espampanante. A pele destruída por anos de sol descuidado, enrugada pelos braços. O moreno de uma vida ociosa, que descortino entre uma casa na capital e compras por Paris. A necessidade da auto-afirmação, frustrada em nova, não deixou que as jóias ficassem por casa. Rivalizavam com o louro platinado dos seus cabelos. Os seios, pendendo sobre o tronco, eram o toque final de um quadro que poderia considerar de horror. Vociferava, alarmada, pela presença dos cnidários. Seria a primeira a pegar num pequeno galho e a revolver o que restava do animal, à medida em que mais se acumulavam.
Modificar o que não nos pertence, para alegria de dezenas que puderam, finalmente, usufruir das suas férias. Um menino, ousado, de calção de banho azul-bebé, aproximou-se da medusa, morta, e tocou-lhe as ventosas, enquanto a mãe, distraída, acertava com alguém "o jantar que não pode ser adiado". Os pés, pequeninos, chapinhavam na fraca rebentação. Saltitava ao pisar pedrinhas afiadas. Ninguém dera por aquela, tão perigosa! O instinto levou-o, infrutiferamente, a colocá-la de novo na água, procurando, quem sabe, devolver-lhe a vida. Aqui, dizem, reside a esperança da Humanidade.
Correu na direcção dos pais, orgulhoso do seu feito, são como fora. O castelinho de areia, que deixara para trás, era engolido pelas ondas escassos minutos depois.
A tranquilidade reinava de novo, entre trincadas na maçã.