2 de julho de 2014

Mar


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.


E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.




Sophia de Mello Breyner Andresen in Poesia I, Editorial Caminho

18 comentários:

  1. Que bonito :) Eu amo a literatura portuguesa!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É uma grande poetisa portuguesa. Foi hoje trasladada ou transladada para o Panteão Nacional, um monumento português, dez anos após o seu falecimento.

      Eliminar
  2. As ondas quebravam uma a uma
    Eu estava só com a areia e com a espuma
    Do mar que cantava só para mim

    Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do Mar, Assírio e Alvim
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :)

      Eu escolhi este porque me diz muitíssimo. Também fujo de tudo o que é profano e sujo. Às vezes, sinto-me à beira de um lamaçal, ao qual tenho passado incólume, além da nostalgia do que vivi e do que não vivi que está sempre em mim.

      Eliminar
  3. Bela homenagem à maior poetisa portuguesa e soubeste escolher um belo poema do seu tema preferido - o Mar!.
    Todavia o seu mais belo poema é aquele que mais que todos simboliza a data da Liberdade (opinião subjectiva, claro):
    "ESTA É A MADRUGADA QUE EU ESPERAVA
    O DIA INICIAL INTEIRO E LIMPO
    ONDE EMERGIMOS DA NOITE E DO SILÊNCIO
    E LIVRES HABITAMOS A SUBSTÂMCIA DO TEMPO"

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Esse também é lindíssimo, João. Além de excelsa poetisa, Sophia foi uma opositora feroz ao regime salazarista. Grande Senhora!

      Eliminar
  4. ||||
    Fica aqui mais um poema:

    @ Fundo do mar @

    No fundo do mar há brancos pavores,
    Onde as plantas são animais
    E os animais são flores.

    Mundo silencioso que não atinge
    A agitação das ondas.
    Abrem-se rindo conchas redondas,
    Baloiça o cavalo-marinho.
    Um polvo avança
    No desalinho
    Dos seus mil braços,
    Uma flor dança,
    Sem ruído vibram os espaços.

    Sobre a areia o tempo poisa
    Leve como um lenço.

    Mas por mais bela que seja cada coisa
    Tem um monstro em si suspenso.



    Sophia de Mello Breyner Andresen
    Obra Poética I
    Caminho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Maravilhoso, como toda a obra de Sophia!

      Obrigado, João, pelo contributo! :)

      Eliminar
  5. grande Sophia. imortais palavras.
    bjs.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem dúvida. Merece as honras de Panteão - ela sim.

      um beijinho.

      Eliminar
  6. As "franjas do mar"... isso é uma das coisas que me encantam.... muito bom caminhar pela beira do mar, contemplá-lo..

    Eu já tinha lido alguma coisa da Sophia, mas não sabia que ela era portuguesa... shame on me, me deixei levar pelo nome e achei que fosse de outra região! Mas o que só faz aumentar minha admiração pelo teu país! :-)

    Grande abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A Sophia tinha origens dinamarquesas, daí o seu sobrenome estrangeiro para um lusófono. :) O mar era tema recorrente na sua escrita!

      um abraço grande. :)

      Eliminar
  7. Aprendi a ler com os poemas de SMB, textos magníficos

    Uma grande Poetisa mesmo

    Paz à sua alma

    Abraço amigo Mark

    ResponderEliminar
  8. Gostava tanto da Menina do Mar que professora de português nos lia sempre um bocadinho na aula como "recompensa" pelo nosso esforço :) Saudades :)

    ResponderEliminar