Assim como muitos, eu também assisti à entrevista a José Sócrates, que precederá a um espaço de comentário político semanal, na RTP1, do antigo Primeiro-Ministro. Vi a entrevista com a máxima atenção, impulsionado pela curiosidade, mas também pelo interesse em saber a perspectiva do homem que conduziu os destinos do país no período que mediou 2005 e 2011. Partilhando um pouco do que disse, era chegada a altura de conhecer as suas motivações e razões, depois de anos de uma propaganda unilateral.
Não tenho cor política. Não gosto de rótulos, nem defendo partidos: defendo ideais e projectos, venham de onde vierem. As inclinações virão inerentemente no seguimento dessas ideias. Sendo assim, simpatizei com Sócrates pela sua visão, pelo seu empenho na luta contra o défice educacional e tecnológico, pelas suas tentativas em criar um país mais justo, igualitário. Que não se duvide de que se trata de um indivíduo de convicções fortes, goste-se ou não delas, defendendo com veemência aquilo em que acredita.
Saído a meio de uma crise económica mundial, que todos conhecemos, acusam-no de responsabilidades pelo estado em que Portugal se encontra, colocando nas mãos de um único homem a culpa de séculos de atraso vindos desde a Revolução Industrial tardia, passando por um regime ultra conservador corporativista e avesso à modernidade e à iniciativa individual. Após um período conturbado nos anos 70 do século XX, que responsabilidades imputar ao Governo PSD que esteve no poder de 1985 a 1995, época dourada dos fundos estruturais da CEE/UE? E após? A sensatez de Guterres, não avaliando se desinteressada ou não, não poderia ser mais oportuna.
Sócrates regressou e fizeram do seu retorno um enorme espectáculo, pejado de acusações. A sua contratação por um órgão de Comunicação Social público, mais do que normal, é saudável. Há espaço para mais palavra, mais opinião, entre uma retórica a que nos habituámos destilada pelos mesmos rostos, anos a fio. A verdade não é exclusiva de ninguém e a sua posse intransigente pode dar maus resultados.
A democracia em que vivemos é relativamente recente e os trejeitos autoritários persistem, motivados pelo medo do contraditório. No meio de convulsões sociais explosivas, quem tem medo de José Sócrates?