27 de março de 2013

Primavera.


    Em garoto, Março simbolizava o início da época amena, na qual as pequenas papoilas, que recolhia de um amontoado de terra que se formava em frente à porta do colégio, começavam a brotar, ameaçadas pelos ténis gastos dos meninos que corriam atrás da bola de futebol que teimava em escapar-lhes dos pés. 
     Era comum enrolarmos pedaços minúsculos de papel de seda, coloridos, para depois os colarmos com todo o cuidado nos contornos desenhados, com moldes, de árvores, arbustos ou nuvens. Nessa altura, ninguém me havia dito que o céu era azul e as nuvens brancas, portanto, mantinha o toque pessoal de inverter as cores da Natureza, deixando as nuvens de azul clarinho, do mais claro que podia encontrar entre as várias folhas multicores que os pais me compravam.

     No Dia da Água, a visita de estudo ao Museu da Água, convertida que estava em passeio, era mais do que garantida. Lá saíamos, de chapéuzinhos nas cabeças pequenas e desprotegidas, "vermelhos para as meninas e azuis para os meninos", bem sexistas, como a moral e os bons costumes mandam. A sua voz ecoa na minha memória como um disco de vinil riscado pela agulha da grafonola. Vejo a educadora a distribuí-los, colocando-os sobre nós, passando o elástico por baixo do nosso queixo.

    - Dá-me o teu chapéu, trocas?

    - Não gosto de azul! - retorquia, decidida.

    - Dá-me!!! - gritava, enquanto tentava lho tirar.

    - Oh dona Elizabeth, o Mark está a tirar-me o chapéu (voz chorosa)!

   
      Hoje, deixá-lo-ia ficar. O bibe até era azul...

35 comentários:

  1. também prefiro vermelho ihih

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  2. * e as memórias de infância são lindas, quando boas.

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  3. ahah, ao menos podiam variar de ano em ano :)

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    1. Não. :| As meninas estavam de vermelho e nós de azul. :)

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    2. pois, podiam ao menos variar de azul para verde ou assim de ano em ano :)
      eu nunca usei um bibe na vida! oyé!

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    3. Eu usei e ainda os tenho em casa. :D

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  4. awnn lindoooo
    as recordações de infância
    adoro a primavera e gosto muito de te ler.
    disse :$

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    1. Sou eu :)))
      O Pedro, do mystory... hehehe, com mudança de bonequinho.
      Mas o mesmo Pedro, que adora ler-te e passou aqui novamente para te deixar um abraço.

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    2. Sim, eu só o descobri quando cliquei. Não fazia a menor ideia de que fosses tu. :)

      abraço.

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  5. Na minha escola iamos todos com boné azul, com o nome da escola. Era a cor da escola, e iamos assim para nos distinguir-mos das escolas vizinhas (que iam de verde, vermelho, branco e amarelo).

    Ah, eu também (e acho que muita gente) pintava as nuvens de azul e deixava o céu branco :P

    Abraço!

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    1. No colégio usávamos os bibes de cores distintas, tentativas claramente forçadas para nos estereotipar.

      Afinal não era o único a desconhecer a cor das nuvens. :D

      abraço.

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  6. Ai que meninos tão "queques". hahaha

    Cá para mim Março era um mês como qualquer outro. Passava os dias no pátio a brincar com os animais ou a inventar novas brincadeiras.

    Não andei em qualquer jardim de infância, já que na parvónia só abriu quando eu já andava na 2ª classe (hoje chama-se de 2º ano, erradamente).

    Estou a imaginar-te de bibe azul e chapéu com elástico a rodearem-te as bochechas... olarecas.

    Abraço

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    1. Pois, mas nós somos de gerações diferentes. :)

      Eu acho que mudaram a nomenclatura dos anos lectivos e bem: a designação "classes" não fazia o menor sentido (por que motivo até ao 4º ano era "classe" e a partir do 5º já era ano?), além de que estava conotada com o Estado Novo.


      abraço.

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  7. não me lembro de sair para o campo para comemorar a primavera. não me lembro de usar bibe. usava jardineiras, isto com 5, 6 anos, de bombazina castanha escura, como se usava então, com joelheiras (eu andava sempre no chão a brincar) e sapatos à rapaz, não usava saias, não me lembro de chapéus. se calhar usava, mas não me lembro. o campo era lá. o jardim da pré-primária tinha tílias majestosas e canteiros. corríamos à vontade :) mais abaixo era o portão, enorme portão de ferro que datava de 1882 (mais ano, menos ano, terei que confirmar quando regressar a Viseu.)
    mas onde pára a primavera? :(
    bjs.

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    1. Também tens memórias lindas de infância, Margarida, que tão bem nos dás a conhecer com frequência. :)

      A Primavera, bem como o Outono, foi destruída por um ser conhecido por "ser humano"... :s

      beijinho.

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  8. Também usei um bibe azul :)

    Abraço amigo e adorei a nostalgia do momento XD

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  9. Lindo. As memórias são um rio que corre. :)
    Abraço Mark e boa Páscoa.

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    1. É verdade. :)

      abraço, Arrakis, e boa Páscoa para ti também.

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  10. Deliciosa e ternurenta memória.
    Abraço meu

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  11. Seria a tua imensa vontade de trocar de chapéu o resultado de uma inacabável monotonia cromática, ou o desejo de ser alguém diferente espelhado na ingenuidade e inocência de uma criança?

    Gostei muito, abraço :)

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  12. O bidé cá de casa era cor-de-rosa. Ai os anos 70 :-)

    As papoilas, no início da primavera proporcionavam-nos uma brincadeira com uma lenga-lenga: "galo, galinha ou pintainho?". Ainda hoje faço essa brincadeira sempre que nos nascem papoilas no quintal.

    Abraço.

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    1. Ahahah, bidé? :D Eu referia-me ao bibe do infantário. :DD

      Não conhecia essa lenga-lenga. :)

      abraço.

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    2. Eu percebi :) mas eu não usava bibe
      Foi um comentário cruzado com outros pensamentos de conversas paralelas LOL

      Quando apapnhavamos as papoilas ainda em botão, antes de abrirem, perguntávamos "galo, galinha ou pintainho?". Depois abríamos o botão da papoila e se já estivesse vermelha era "galo", se estivesse cor-de-rosa era "galinha"; se ainda estivesse branca era "pintainho" ;-)
      Ainda faço esse jogo com a minha filha.
      Brincadeiras dos anos 70 lol
      Abc

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    3. Que brincadeira linda e inocente. São memórias que jamais esquecemos. Acho que fazes muito bem em manter a tradição com a tua filha. Assim, passa de geração em geração. :)

      Pois, eu estranhei a conversa do bidé! LOL :D

      abraço.

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  13. Deliciosa a história e penso que só um comentador, o Miguel chegou ao ponto onde tu querias realmente chegar: à troca do chapéu por outro de cor diferente. Seria a tua afirmação possível e quase inconsciente, nesse tempo do que mais tarde reconheceste como algo a que não poderias fugir (e penso nunca fugiste)- seres "diferente".
    A forma como constróis o texto, a partir da Primavera, a estação que modifica os dias do ano, que os torna diferentes, mais claros e mais agradáveis, é belíssimo e como sempre a conjugação das palavras em frases é primorosa.
    Muito bom.

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    1. Muito obrigado, querido João.

      Sim, tens razão, nunca fugi de mim mesmo. :) Conheci a minha verdade desde pequenino. Isso ajudou-me a crescer esclarecido e sem equívocos.

      abraço.

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  14. Deliciosa a tua memória de infância! :')

    Também me recordo de irmos para os campos no dia em que a Primavera chegava e depois ao regressarmos à escola, fazermos desenhos com aquilo que mais nos havia cativado...

    Bons tempos! ^^

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  15. Desde pequenino que se torce o "pipino"! LOL Nunca te enganaste :P Já sabias que tinhas uma "cor" diferente dos demais :P

    Na minha infância não haviam cores para uns e outros, cada um tinha a sua :P Mas eu também sou mais velho LOL :P Outros tempos :P

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  16. Sim, já sabia que a minha "cor" era outra. :)

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