10 de novembro de 2011

Cold.


Era noite. À saída, no centro, uma bancada literária atrai-me ao seu encontro. A luz branca das grandes lâmpadas brilhantes do teto sobressai o ar envelhecido e empoeirado de vários livros. Dois dos quais sobre Moçambique, terra natal do pai e futuro presente de aniversário / Natal. Comprei-os sem olhar ao preço e senti que tivera sido uma boa compra, afinal, remontam ao período colonial e têm ilustrações únicas e raras. De colecionador.

A chuva ameaçara o percurso até ao metro. As escadas, molhadas, provocaram uma queda e uma ambulância estacionada iluminava a rua com as suas intermitentes luzes azuis. Desci com cuidado e deparei-me com um moço da AMI que me propôs tornar-me um associado da organização.

"Tu, se quiseres, desces a avenida e vais ver o Tejo e há muitas pessoas que não têm sequer um copo d'água para beber."

É um facto que mexeu comigo. Fez-me pensar no caráter injusto das sociedades e em como tantos problemas são maximizados na nossa concepção exclusiva de que somos os fiéis depositários de todos os males do mundo. Olhar para além da nossa realidade pessoal é fundamental.
Passou uma avioneta e o rapaz parou e olhou para o céu. Deteve-se de novo no nosso diálogo, mais semelhante a um monólogo, e voltou de novo o olhar para a avioneta à sua segunda passagem. Algo nos seus olhos denunciou um paralelismo entre aquele pormenor e a sua vida. Quase que abstraindo-nos do barulho ao nosso redor e da azáfama do final de um dia de trabalho e de aulas para muitos que circulavam, disse-me que era pobre, que tinha deixado de estudar e que o pai abandonara a sua mãe quando era pequeno. Trabalhava justamente como piloto.

As confrontações com realidades distintas não serão despropositadas de sentido, nem casuais. Há um choque, frio, que nos faz crescer. Há quase uma transposição entre a vida comum, diária, e os pequenos momentos que nos levam a um patamar superior.
Senti-me frágil e senti alguém frágil à minha frente. Talvez essa mistura de fragilidades, dores, machucados nos traga algum conforto mútuo.
O que parece pouco, mais das vezes é demasiado.


8 comentários:

  1. E, claro, tornaste-te sócio da AMI :-)

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  2. O nosso mundo é assim.
    Existem demasiadas diferenças sociais,mas a maior parte das pessoas não se importam.
    E se fizerem algo para mudar alguma coisa,é só para parecer bem (se é que entendes).
    Nós somos mesmo assim. Quando não somos nós,não nos importamos.
    E por esta mesma razão,te estou crédito por teres sensibilidade para reparares nisso e dares importância a isso. Nem toda a gente o faz.

    Beijinho*

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  3. Obrigada!
    E sim,não o vou deixar partir,nunca
    =´x

    E eu também gosto muito da música. Adoro o sentimento presente nela =)

    Beijinho* e obrigada por teres passado no meu cantinho! =)

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  4. sad eyes: Fiquei com um folheto, mas não me decidi ainda. (:

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  5. Ai Mark que legal sua sensibilidade. Eu acho uma gracinha no jeito de vocês escreverem o português .-.
    Nossa fragilidade tem vezes que surge assim do nada mas é bom ser frágil e não ter vergonha dessa fragilidade :3
    Abraço forte!!

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  6. Ty: Obrigado pelas palavras. Também gosto muito do Brasil e já o disse várias vezes no blogue, até porque tenho relações afetivas fortes com o país-irmão.

    Abraço. (:

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  7. Adorei, Mark a conclusão desta tua publicação. Sim, talvez porque também eu concordo contigo...

    Abraço.

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  8. Paulo: Um pequeno gesto faz toda a diferença. ^^

    Abraço.

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