Parecia que os exames não teriam fim, mas acabaram, pelo menos os de primeira época. Foram semanas bastante árduas e complicadas. Não desvalorizando de forma alguma qualquer licenciatura, a minha é das mais exigentes que existem. Há quem leia seiscentas páginas em meses enquanto nós - eu - tenho de ler o mesmo em dois dias, por vezes até mais. Não me refiro a ler e esquecer: ler, fazer apontamentos, perceber e decorar quando a matéria assim o exige. É que nas cadeiras mais práticas o que importa é perceber; nas mais teóricas, como as minhas queridas cadeiras de História, temos de perceber e decorar, sobretudo conceitos e mais conceitos...
Hoje, de forma a comemorarmos esta etapa, decidimos passear um pouco pelo Chiado. Não é das zonas da cidade de que mais gosto, mas é sempre aquele lugar que recorremos em falta de melhor escolha. Foi o R. que me convidou. Ele, como não é lisboeta, sente aquela atração normal pela cidade, mesmo não sendo assim de tão longe.
Foi interessante. Vimos um casal gay estrangeiro aos beijos em plena rua, beijos daqueles de retirar o fôlego, e foi curioso ver a reação facial dele que ganhou uns contornos de profunda seriedade, a julgar pela expressão do seu rosto. Senti que Lisboa está cada vez mais cosmopolita, pese embora aquela zona ser tradicionalmente liberal. Há cada vez mais gays ou cada vez se dão mais a conhecer? Interessante para futuras reflexões. Se é verdade que fico feliz por ver estas manifestações espontâneas e livres da sexualidade humana, sem olhares indiscretos e comentários maldosos - o que mais me surpreendeu -, também é verdade que não me sentiria bem ao beijar o R. ou qualquer outro rapaz em plena rua. É algo tão íntimo e aquilo que vou dizer até pode parecer estranho: gosto de manter a dúvida no ar, resguardar as emoções, sem demonstrar efusivamente o que gosto e quero. Aliás, beijos entre casais heteros, daqueles profundos e melosos, também me provocam alguma repulsa. A intimidade fica em casa. Até mantém mais intensa a chama.
Comemos um gelado enquanto deambulávamos pelas ruas e decidi ir até à Fnac. Gosto sempre de passar por lá. Lembram-se das insinuações de que vos falei? Pois bem, quem conhece a Fnac do Chiado sabe que tem expostos vários livros do mundo LGBT num local específico e devidamente sinalizado: "Gays and Lesbians". É, à primeira vista parece um submundo, uma coisinha que tem de estar separada de tão reles que é - foi a primeira má impressão que me surgiu -, no entanto, vi que era uma forma daquele público encontrar livros dessa temática, o que de outra forma estaria dificultado por se encontrarem misturados na miríade de romances "heteros". Sim, parei lá com o R. para dar uma vista de olhos e ele não teve qualquer reação. Eu só pensava: "Olá? Estou a ver livros gays, não dizes nada nem te manifestas?". Não se manifestou. Não tive coragem de comprar algum. Senti-me... hum... intimidado. Mas um deles era interessante e o conteúdo era acerca de dois rapazes universitários que dividiam o apartamento e daí surgiu uma relação... Hum, inspirador, não?
Cada vez me sinto melhor na sua companhia. Acho até que ando meio ridículo. Quando passava por um casal de namorados, olhava para as mulheres com uma cara de: "Vês, também tenho um assim macho como o teu!" (gargalhada) É tão estúpido, não é? :D Pois é, mas cada um vive as situações da forma que quer e gosta.
Ainda lanchámos juntos e por mim a tarde estendia-se até à noite. Hoje, seguramente, posso dizer: se ele me convidasse para dormir (?) com ele, aceitaria. Já tenho a confiança necessária nele, já sei que ele é bom, sossegado e de boa índole, enfim, sei que me trataria com respeito e que jamais me magoaria. Parece que já o conheço há tantos e tantos anos e nem um ano se passou desde que nos vimos pela primeira vez.
Sei o que quero: posso ficar longe de todos os amigos, da minha turma, que fiz durante o ano; não quero ficar longe apenas de uma pessoa, ele.
Bela tarde ...
ResponderEliminarSim. :)
ResponderEliminarnão me canso de ler este blog. :)
ResponderEliminaras tardes passadas junto dos que mais gostamos são sempre boas, independentemente do sitio onde estamos e de quem temos à volta :)
já agora fiquei curioso por saber o titulo do tal livro que falaste, sobre os dois universitários.
continua a escrever, abraço
Olá Rovisco!
ResponderEliminarComentários como o teu são uma verdadeira lufada de força. Obrigado pela dedicação. (:
Olha, após pesquisar na net, uma vez que na altura não fixei o nome do livro, redescobri que tem como título "A Linha da Beleza" e é de Alan Hollinghurst. Tenho de lá voltar para o comprar rapidamente.
Abraço e mais uma vez, obrigado. ^^
Estás a ficar apaixonado, parece-me...
ResponderEliminarA FNAC do Chiado é a única que tem os livros LGBT separados e não acho mal, antes pelo contrário.
Também eu sou adepto da total abertura das pessoas homossexuais, nos sítios públicos, mas essa exposição tem os limites que qualquer outra relação implica, reservadas que sejam pela sua intimidade a um espaço fechado.
Pinguim: Pois, de facto, os livros estarem separados até se torna melhor devido à sua acessibilidade. Eu sabia que na Fnac do Chiado os livros LGBT estão separados, mas tinha apenas uma vaga ideia porque já não me detinha na parte dos livros há bastante tempo (anos).
ResponderEliminarAbraço. ^^
Mark, eu envolvi-me com um hetero durante uns anos. Tudo começou mais ou menos como a tua história.
ResponderEliminarPosso te dizer que depois é um pesadelo. Não que ele te venha a tratar mal. Pelo contrário, ele é capaz de gostar mesmo de ti e manifestar sempre carinho.
Mas é hetero e acaba por ser como os gays casados com uma mulher. As raparigas dão em cima dele e ele acabará por ceder. E tu sofres sozinho...
Tem cuidado...
joseph: Obrigado pela preocupação e até consigo entender os teus motivos, mas já o disse várias vezes: ele não é assim. E acredito que se sentir que o facto de ser hetero (?) é impeditivo de ficar comigo, também mo dirá. É que há pormenores do dia-a-dia que não relato no blogue porque não têm importância, mas que revelam muito sobre a sua personalidade.
ResponderEliminarQuanto ao poder "dar em cima" de mulheres e vice-versa, isso é uma situação normal e comum tanto em casais heterossexuais como homossexuais. Homens casados "dão em cima" de mulheres; mulheres casadas "dão em cima" de homens; homens homossexuais casados "dão em cima" de outros homens; mulheres homossexuais casadas "dão em cima" de outras mulheres; homens bissexuais casados com mulheres "dão em cima" de homens; mulheres bissexuais casadas com homens "dão em cima" de mulheres... ad eternum e não sairíamos daqui.
A traição faz parte da génese humana. Isso não me mete medo.
OK, o meu mal foi ciúmes, esse monstro de olhos verdes...
ResponderEliminarBoa sorte...
?
ResponderEliminarsó para deixar um olá :)
ResponderEliminarOh que lindo Mark.. já tinha saudades de vir aqui ao teu cantinho, lembras-te de mim?
ResponderEliminarPelos vistos o amor anda no ar! Vai-te a ele!
Olá, Speedy. :)
ResponderEliminarOh obrigada querido*
ResponderEliminarPasso sobre passo... (Não, não tem nenhuma conotação política)! :):)
ResponderEliminarAbraço!
Blog: Ahahahahahah. :D
ResponderEliminarAbraço. ^^
Que bom encontrar-te assim :)
ResponderEliminarPaulo: Obrigado. (:
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