Ainda me recordo do frio que senti ao entrar na banheira naquela tarde que principiava. O sol entrava pela janela do quarto e cobria todo o macio tapete branco. A água corria, tépida, mas o meu coração gelava e toda a minha pele se arrepiava a cada pensamento. A vontade era a de adormecer, talvez para sempre, dentro da água.
Lá fora havia vida. Existiam pessoas a lancharem nos cafés, namorados a beijarem-se sob o sol quente, alegria nas ruas, vidas que se agitavam no tempo. Em casa, no banheiro, derramava todas as minhas tristezas. Oh, como queria sair para fora e deixar a tristeza dentro das paredes que conheciam tão bem o que sentia. Por que razão não podemos deixar a tristeza como uma simples camisa que se muda a todo o momento?
A vida não se compadece de infortúnios ou estados de alma. Lá fora sorria a todo o custo. Segurava o choro tímido de um menino que nem chorar pode. Ninguém compra tristezas alheias. A alma despontava a cada sinal de algo que também queria.
O calor aquecia o corpo, mas não o interior. O olhar ficara perdido há muito tempo num horizonte até então desconhecido. A apatia tomara, por fim, conta de tudo.
A cada passo, o peso do mundo parecia não ter fim. A raiva de sorrisos de terceiros sobrepunha-se à inveja. A certeza da indiferença, de um mundo ao qual não pertencemos. A incerteza do amanhã, a convicção do alheamento.
Perdeste-me. Tinhas-me perdido mais uma vez, era tão clara a verdade. Perdias-me a cada dia, a cada ocasião, a cada minuto que afundava mais o pouco que restava. Agora, porém, o perigo era outro. Também eu me perdia. Perdia-me incessantemente.
O tempo passou, passa sempre. Hoje, vejo que me perdeste. Eu - e agradeço-te por isso - não me perdi.
o tempo acaba por sarar tudo. por mais que pareça impossível naquele momento.
ResponderEliminaro tempo passa para sempre. só temos que continuar a viver sem arrependimentos
ResponderEliminarTemos de ser fortes para podermos superar as adversidades da vida... mais um textinho lindo Mark! Beijinhos
ResponderEliminarCaro Mark,
ResponderEliminarAntes de mais agradecer-te (finalmente) pela tua visita ao meu blog parece-me uma evidência. As tuas palavras foram agradáveis e calorosamente recebidas.
Não consigo deixar de sentir-me familiarizado com a tua escrita também, quiçá a tua seja mais poética.Não sei se é autobiográfica, contudo carregada de emoção e significado.
Será um prazer ver-te com mais frequência no meu blog.
Até já :)
Gosh... Devias publicar um livro. Eu ia comprá-lo sem dúvida. E lê-lo vezes e vezes até me perder. *.*
ResponderEliminarUau... Obrigado pelo carinho! *
ResponderEliminarJá tens mais uma fã :)
ResponderEliminarMark, tens o dom de reunir as tuas dores e as dores de terceiros. O texto está lindíssimo de tão dramático.
ResponderEliminar"A vontade era a de adormecer, talvez para sempre, dentro da água."
Quem nunca o quis?...
Abraço do Amigo Virtual.
Outro fã!
ResponderEliminarBe strong (e n deixes que o tempo passe como... eu fiz)
Obrigado. :)
ResponderEliminarO teu blog tem vindo a crescer, em tudo: em interesse, pois sem deixar de ser muito pessoal (como eu gosto), também opinas sobre variadas coisas; estás menos elitista e a universidade tem-te feito bem nesse sentido; estás a prender a gostar e a precisar de alguém.
ResponderEliminarE estás a conquistar uma merecida e crescente audiência.
Este teu texto, se alguma dúvida houvesse, confirma-te como uma pessoa com uma rara habilidade de escrever, com uma enorme sensibilidade e com sentimentos...
Sim, porque nos dias de hoje, os sentimentos contam pouco no dia a dia das pessoas, infelizmente.
Pinguim: Muito obrigado pelas tuas palavras. É interessante ver como a blogosfera permite que se vão conhecendo as pessoas que estão por detrás de cada blogue e as suas consequentes evoluções...
ResponderEliminarÉ, terei mudado, possivelmente. Todos mudamos. (:
És alguém que muito admiro e por quem nutro um enorme carinho e respeito.
Mais uma vez, obrigado. ^^