Neste ano terrível, terminei há instantes um livro que tinha aqui há quase 20 anos, desde o Natal de 2005, e em que por vicissitudes da vida nunca pegara. Comprei-o no início do período de desligamento dos meus pais, que culminou na sua separação, e aqueles tempos foram-me demasiado turbulentos e dolorosos para pensar sequer em ler. A obra chama-se Deus e a Fé (no original, ¿Sin Dios o con Dios?), e consiste num diálogo epistolar entre dois amigos, um crente em Deus, teólogo, jesuíta, e um não-crente, filósofo, que trocam correspondência entre si, expondo cada um por que razão acredita e não acredita em Deus.
Deus para mim é um mistério. Presumo que para todos os seres humanos. Houve um tempo em que julguei acreditar nele, mas dei-me conta de que tudo aquilo em que julgava crer não era mais do que palavras e pensamentos sem a menor base de sustentação. A verdade é que passei toda a minha vida sem a necessidade de Deus. Recorri-lhe algumas vezes, não por fé, senão como uma última instância de recurso.
Nos últimos tempos, fui tomado por um cepticismo enorme, provavelmente não indiferente à minha conjuntura actual. Pensei que fosse ateu, porém, não. Será melhor dizer-me agnóstico, porque efectivamente não consigo asseverar nem refutar a existência de Deus. Mantém-se-me uma incógnita. Admito que encontro razões plausíveis em alguns crentes -especialmente neste do livro, um dos seus autores-, González Faus, que exprime fundamentos que nos fazem pensar. Retive um na memória: a Deus não se pode conhecer, apenas crer; para o homem (entenda-se, a humanidade, homens e mulheres), conhecer é dominar, apropriar, e isso far-nos-ia ser superiores a Deus. Pelo contrário, Ignacio Sotelo, o outro coautor, tem de igual modo bons argumentos, nomeadamente o de que um Deus omnipresente se faria sentir de forma mais evidente, e que a sua omnisciência o levaria necessariamente a saber que falharíamos, fracassaríamos, e que portanto não faz sentido ter-nos criado livres se essa liberdade, falhada a priori, tem como objectivo redireccionar-nos na sua direcção. Dito por outras palavras, fomos feitos perfeitos para falhar, para depois voltar a ser perfeitos. A razão e a fé.
Um livro desta natureza e envergadura não pretenderá, digo eu, que cheguemos ao final e digamos: “Acredito!”, ou “Não acredito!”. Parece-me antes que é um exercício para que tenhamos outras premissas, outras visões, que nos ajudem, ou não, a formular a nossa própria hipótese de Deus. Não serão muitos os que terão atravessado este mistério da existência sem se perguntar por Deus, quem é, onde está, qual o seu propósito com tudo isto.
Eu acredito pela fé e por ele nos ter feito á sua semelhança e imagem
ResponderEliminarAbraço
Francisco
Se fomos feitos à sua imagem e semelhança, Ele não é lá grande coisa. Eheh
EliminarUm abraço, amigo
Mark